terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

MEMÓRIA CONTRA A CENSURA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As memórias são curtas e muitas vezes selectivas. Os seres humanos lembram eternamente o que lhes agrada e apagam automaticamente o que dói. É uma questão de sobrevivência. Políticos sem escrúpulos usam e abusam dessa debilidade para dominarem e espezinharem os povos. Por isso o Jornalismo é uma das traves mestras da democracia. Porque os jornalistas têm a memória como principal ferramenta de trabalho. Não esquecem nem deixam esquecer. Não encurtam nem escondem. Tremenda responsabilidade. Infelizmente, alguns profissionais (hoje a esmagadora maioria…) não estão à altura do seu papel no regime democrático. Não merecem a Liberdade de Imprensa.

Memória. Quatro dias depois de começar a operação especial militar na Ucrânia, Kiev e Moscovo iniciaram negociações de paz. Já ninguém se quer lembrar mas algum tempo depois a PIDE do comediante Zelensky, no dia 6 de Março de 2022, um sábado, executou o negociador ucraniano Denis Kireyev porque alegadamente era traidor. Não teve direito a julgamento nem a defesa. Segundo as lideranças da União Europeia, Reino Unido, EUA e seu heterónimo OTAN (ou NATO) é assim que se defendem os valores do “ocidente alargado”.

Já ninguém se lembra mas o comediante Zelensky, antes de se colocar ao serviço do “ocidente alargado” era empregado do oligarca Ihor Kolomoisky. O multimilionário ucraniano equipou por sua conta e risco o exército da Ucrânia, em 2014, para impedir o “avanço russo” no Leste após o golpe de estado nazi em Kiev. 

O patrono de Zelensky hoje está a ser perseguido pelo antigo empregado. Já ninguém se lembra mas ele, em Novembro de 2019, disse ao jornal New York Times que a Ucrânia devia desistir do Ocidente e voltar para a Rússia. Leiam as suas palavras: “Eles são mais fortes. Temos que melhorar as nossas relações com Moscovo. As pessoas querem paz, uma vida boa, não querem guerra. E os EUA estão a forçar-nos à guerra sem nos darem o dinheiro para isso”. Nesta altura a guerra no Leste da Ucrânia já tinha cinco anos e milhares de mortos!

Ihor Kolomoisky cometeu o sacrilégio de aconselhar Zelensky a cortar com o FMI mal ele foi eleito presidente. E não pagar a dívida a esse instrumento de rapina que também é um heterónimo dos EUA! O desbocado patrão do comediante deu uma entrevista à Times que ditou a sua desgraça. Sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia disse isto: “Vocês nunca nos vão aceitar. Não adianta perder tempo com conversa fiada. A Rússia adorava trazer-nos para um novo Pacto de Varsóvia (…) Os Estados Unidos estão simplesmente usando a Ucrânia para enfraquecer o seu rival geopolítico.”

Memória. No início da operação militar especial da Federação Russa na Ucrânia o “ocidente alargado” impôs a censura total aos Media russos. Nenhuma voz se levantou contra este crime contra a Liberdade de Imprensa. Eu fiz um tremendo miango mas como sempre, ninguém me ouve e poucos me leem. A censura continua, agora acompanhada de manipulações grosseiras e falsas notícias, produzidas pelos serviços secretos do Reino Unido, CIA, Pentágono e outras instituições afins. Em Portugal é ao vivo e em directo na CNN e na SIC com um labrego chamado Milhazes e um aspirante a polícia que exibe orgulhosamente a sua trela, denominado Nuno Rogeiro.

Mais memória. O anterior primeiro-ministro israelita, Naftali Benett revelou que as negociações de paz entre a Federação Russa e a Ucrânia não resultaram porque o “ocidente alargado” obrigou Zelensky a continuar a guerra. O que saiu nos Media ocidentais manipuladores foi isto: “Putin garantiu-me que não vai matar Zelensky”. A parte de que a guerra do “ocidente alargado” contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia só continua porque os senhores do mundo assim o exigem, foi banida. Censurada. Cortada.

A Federação Russa lançou a operação militar especial para desarmar e desnazificar a Ucrânia. O “ocidente alargado” respondeu nazifincando toda a União Europeia, o Reino Unido e os EUA. E insiste em armar o que está a ser desarmado. Isto vai acabar pessimamente.

A TPA também censurou os Media da Federação Russa, logo na primeira hora. Fiquei admirado. Hoje está claro porquê. Se alguém pensa que o Presidente João Lourenço decidiu passar-se para o lado dos colonialistas e genocidas do “ocidente alargado” no dia em que foi a Washington beijar a mão ao genocida Joe Biden está muito enganado. Isto está pensado há mais tempo! Muito provavelmente desde que foi agraciado com o título de campeão da paz dos cemitérios no Leste da República Democrática do Congo.

Por falar nessa memória. Por favor, acabem com esse ridículo. João Lourenço não fez nada pela paz na região. Nem vai fazer. Em Angola criou conflitos. Dividiu o seu partido. Dividiu a sociedade angolana. Trocou a Independência Nacional por sabe-se lá o quê dos EUA e outros genocidas e colonialistas dos “ocidente alargado”. É um homem de confrontos. Ainda não estudou o livro que ensina esta coisa básica: Política é a arte de fazer amigos e aliados.

Os Media de todo o mundo noticiaram a visita do ministro russo Lavrov ao Mali. A TPA censurou. Ordens superiores, emanadas de superiores descabeçados que ainda acreditam ser possível travar o vento com as mãos.

Última memória. O jornalista/radialista José Rodrigues produz e realiza o programa Café da Manhã, há 30 anos. Naquele formato é o mais antigo da Rádio Angolana. Até hoje já fez 1231 entrevistas. A última teve como entrevistado o General Higino Carneiro. Para tapar o vazio de informação causado pelo seu livro “Grandes Batalhas e Operações Decisivas” que é lançado amanhã em Talatona. Lá estarei.

A entrevista é um documento monumental. Obrigado, José Rodrigues. És um campeão do Jornalismo em geral e da Rádio em particular. O conteúdo da entrevista devia chegar a todos os angolanos. Porque pela voz do General Higino Carneiro ficavam a saber que nunca na Humanidade um partido fez tanto pelo seu Povo como o MPLA. 

E para travarem conhecimento com um político inteligente, verdadeiro, equilibrado, campeão da concórdia. Um negociador nato. Já decorriam as conversações em Bicesse e o General Higino Carneiro foi capaz de levar a um cessar-fogo honroso as tropas da UNITA no Luena. Passou a vida negociando com os sicários do Galo Negro e particularmente com o criminoso de guerra Jonas Savimbi. Negociou o apoio financeiro da República Popular da China ao processo de Reconstrução Nacional. Passou a vida fazendo amigos e aliados. Triunfou. 

* Jornalista

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