Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião
Muitos católicos ficaram doridos com o Benfica-Porto numa Sexta-Feira Santa. Muitos desses católicos são eleitores de direita, a maioria conservadores e/ou defensores de um sistema capitalista/liberal. Ficam agora perplexos com jogos da bola no Dia da Paixão, apenas recusam-se a aceitar que a única coisa que interessa ao tal sistema que eles próprios defendem é o negócio. O dinheiro. Custa-lhes muito admitir que aquilo a que estão a tentar resistir é ao próprio capitalismo global. Não admitem e, no limite, chamam-lhe coisas como capitalismo monopolista. Às vezes também comunismo, mas isso é só para rir. De facto, o capitalismo, depois de décadas a lutar contra várias ideias e ismos, venceu. Evoluiu e ganhou tudo, limpou. Já é velhinha a piada acre do Warren Buffet: "Há uma guerra de classes, sim. Mas é a minha classe, a dos ricos, que está a fazer a guerra e ganhá-la". Hoje o capitalismo não encontra oposição e, sem pinga de ideologia, limita-se a cumprir o seu próprio código genético, destruindo todos os valores (sociais, éticos, religiosos, culturais, familiares) para tudo reduzir a mercadoria. A bens transacionáveis. Tudo. Tudo e mais alguma coisa. E tudo até à uniformidade total.
A tal direita que se enxofra com
o clássico pascal é apenas e tão só uma pequena bolha de resistência a essa
debulhadora. Ainda estrebucha quando lhe dizem que a propriedade privada pode
acabar (agora até propalado pela Bastonária da Ordem dos Advogados). Ainda
barafusta quando lhe mutilam a religião, obras de arte ou os genitais de uma
criança que gosta de lilás (se for menino) ou de trepar às árvores (se for
menina). Mas estas vozes também serão aniquiladas
A esquerda admite-o tanto ou menos do que a tal direita perdida, mas é evidente. Dúvidas restassem, e durante três anos vimo-la a defender a exclusão social dos não-inoculados covid ou até a sua prisão. Tanto que, sem pejo, na Comissão de Inquérito à TAP, Alexandra Reis revelou que um motorista iria ser despedido por ter recusado essa injecção, sendo coagido para a tomar. Aliás, o exercício dessa intimidação e a supressão dos mais elementares direitos, liberdades e garantias só suscitou risadas alarves na chamada Casa da Democracia. Remorso? Nada disso. A esquerda alinha, gargalha e aplaude, desde cidades de 15 minutos, a menores salários para salvar o planeta (ainda esta semana, num jornal, um professor da Nova declarava, também sem rebuço, que: "Trabalhadores jovens estão dispostos a sacrificarem-se"), até experimentalismos com o nosso corpo, passando pela "censura do bem" (ataques às redes sociais, inclusive). Euro Digital? Venha de lá essa ovação. E isto é a ala esquerda e direita, asas do mesmo pássaro. Cientistas, jornalistas, artistas, há muito que também foram engolidos. Goleadas na Sexta-Feira Santa? Perceba-se que o calvário ainda só agora começou. Portista feliz, ateia e ex-bloquista (será ex-esquerdista?) me confesso.
*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia
Sem comentários:
Enviar um comentário