quarta-feira, 17 de maio de 2023

Derrotas dos Vitoriosos e os Cereais Mágicos – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os partidos que apoiam o Presidente Erdogan continuam a dominar a Grande Assembleia Nacional da Turquia. Os Media do ocidente alargado dizem que foi uma derrota. O MPLA também teve maioria absoluta, derrotando todos e mais alguns mas a Redacção Única diz que perdeu e está de rastos. A lógica é ditada pelo intestino grosso da frente patriótica unida e consiste na seguinte diarreia mental: O MPLA teve mais de 80 por cento dos votos nas eleições de 2008. Como nunca mais conseguiu esse feito está sempre a perder. Olhemos para esses resultados modelo: MPLA 81,64 por cento (5.266.216 votos). UNITA 10,39 por cento (670.363 votos). Abstenção 13 por cento.

O Presidente Erdogan ficou a poucas décimas da eleição à primeira vota. Grande derrota! Vai perder o poder na segunda volta. O ocidente alargado já faz a festa. Em Angola o Presidente João Lourenço é credor de  51,17 por cento dos votos expressos num cenário de todos contra o MPLA. A coligação que juntou os sicários da UNITA, terroristas do Chivukuvuku, trânsfugas do MPLA, restos da Revolta Activa, chupistas do 27 de Maio e maoistas arrependidos do Bloco Democrático só conseguiu  43,95 por cento dos  votos.  A direcção da UNITA diz que o vencedor absoluto está a preparar um golpe de estado!

Todos fogem do MPLA-B inclusive os mais interessados em ler essa realidade eleitoral. A abstenção nas eleições de 2022 foi de 54 por cento. Ninguém duvida que desse total, pelo menos 30 por cento são eleitores do MPLA descontentes com a direcção do partido e com as políticas do Executivo após 2017. Se somarmos os votos expressos aos faltosos dá pelo menos 81 por cento. A diferença em relação a 2008 está na bipolarização. Enquanto em 2008 participaram muitos partidos, nas eleições do ano passado a UNITA atraiu quase todos e até as bases da CASA-CE, que desapareceu do mapa eleitoral. Enquanto existir a UNITA a democracia fica bloqueada. É um golpe permanente contra a democracia representativa.

O Presidente Zelensky anda a passear pela Europa enquanto a guerra por procuração contra a Federação Russa continua até tombar o último ucraniano. Para não parecer mal, o Borrel, chefe da diplomacia da União Europeia, só fala em armas e munições. Com um bafo etílico estonteante disse com aquele sorriso alarve de bêbado da valeta: “ A Rússia já perdeu a guerra”. Macron, cercado na sua minoria social e política, diz o mesmo: “A Rússia sofreu uma derrota geopolítica”. Bebe menos kaporroto do que o outro. O chefe dos nazis de Kiev exige entrar na OTAN (ou NATO) até Julho! No dia do nunca à tardinha.

Neste engano de alma vai correndo a guerra. A propaganda mostra um prédio em escombros na cidade de Kerson. Mas não mostra a cratera onde antes existia um gigantesco paiol de armas e munições para a “contra ofensiva”. Os ucranianos ganham terreno em Bakmut enquanto o país é destruído todos os dias. Os milhares de milhões que são despachados dos EUA e da União Europeia esvaem-se nos bolsos dos nazis de Kiev mas também dos “doadores”. Este ano de guerra na Ucrânia já deve ter feito mais milionários do que o petróleo desde que ganhou fama de ouro negro, há 100 anos.

Guterres com os olhos erguidos ao céu e húmido de água benta diz que os cereais da Ucrânia são importantíssimos para matar a fome em África. Segundo Tomás de Aquino, é mais fácil um boi gorducho voar do que um bom cristão mentir. O secretário-geral da ONU mente deliberadamente em nome das negociatas dos cereais. Desde que foi assinado o acordo para exportação dos grãos ucranianos, mais de 60 por cento ficaram na Europa em países como Espanha, Itália ou Holanda que agora voa baixinho. Mais de 20 por cento foram para Japão e Coreia do Sul. Somália, Etiópia, Eritreia e Sudão nem dez por cento receberam. São uma espécie de isco na ponta do anzol da negociata.

Uma pergunta que, espero, não ofenda ninguém: Onde são cultivados os cereais? Milhões de ucranianos estão refugiados ou deslocados. Os bombardeamentos são diários. As terras férteis ficam nas zonas onde o conflito é mais intenso. Os “jornalistas” não mostram as plantações verdejantes. Não mostram os camponeses trabalhando a terra. Não entrevistam um só produtor de milho, trigo, cevada, aveia, centeio, seja o que for. Já saíram do teatro de guerra milhões de toneladas. Ainda há mais? Makutu! 

A guerra só tem perdedores. A Vitória de Pirro não é literatura nem retórica balofa. Existe mesmo. E Pirro até introduziu nas suas guerras combatentes temíveis: Os elefantes que levavam tudo à frente! Os racistas da África do Sul usaram os seus tanques de guerra chamados elefantes mas perderam em Angola. Os nazis da Ucrânia têm elefantes, leopardos, mácrons, úrsulas, bidens, sunakis eu sei lá. Já ganharam um país destruído. Um povo em sofrimento extremo. Milhares de mortos. Para o ocidente alargado está muito bom assim. Amanhã implantam as suas bandeiras na Ucrânia e está feito.

Desta vez não vai ser bem assim. O capitalismo vermelho avança imparável na demolição do capitalismo que mata. Dessa refrega espero que saia um mundo sem a maquineta que se alimenta da exploração de quem trabalha, da exploração e do roubo que se for preciso assume a dimensão do latrocínio. E depois? Nem Deus, nem Estado, nem Família. Depois de milhões de milénios de sofrimento, os seres humanos já merecem descanso e o seu pedaço de pão. A Humanidade Libertária vem a caminho. Se não acreditar nisto vou acreditar em quê? Na Carta da ONU, nem pensar. Na democracia deles, jamais. 

Em 17 de Dezembro de 2012, a ONU declarou a designação de Estado da Palestina em todos os documentos oficiais. Em 27 de Setembro de 2013, 137 dos 193 estados-membros da ONU   reconheceram a existência do Estado da Palestina. Os Media do Ocidente alargado nunca se referem à Palestina, chamam-lhe Gaza ou Cisjordânia. A Carta da ONU não existe na Palestina. Os israelitas podem ocupar o território todo. Os bombardeamentos a prédios e as mortes de crianças, mulheres e velhos não são crimes de guerra como na Ucrânia. 

O Tribunal Penal Internacional não manda prender o chefe de turno dos criminosos de guerra. A União Europeia não manda milhares de milhões para os palestinos. Não mandam mísseis de longo alcance para eles se defenderem do genocídio que dura desde 1948. Sabem quem decidiu criar o Estado de Israel na Palestina? Os grandes defensores da democracia e da Carta da ONU na Ucrânia: EUA, Reino Unido (na época a potência colonialista ocupante) e França. Desde a fundação até hoje, os sucessivos governos de Telavive vão ocupando mais e mais território da Palestina. O ocidente alargado aplaude com entusiasmo!

* Jornalista

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