À DW África, o analista Paulo Wache explica que a defesa de
Moçambique está dependente de investimento externo. Por isso, Filipe Nyusi tem
reforçado a cooperação militar internacional
Em Moçambique, o Presidente Felipe Nyussi e a sua homóloga tanazania, Samia Suluhu, assinaram um memorando com vista à cooperação internacional no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
Dias antes, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, pediu a Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos da América, para resolver a questão a norte de Moçambique.
E Paul Kagame, Presidente do Ruanda, reforçou recentemente que as suas tropas estarão em Moçambique enquanto for necessário.
Em entrevista à DW África, Paulo Wache, professor universitário de Relações Internacionais na Universidade Joaquim Chissano, comenta estas últimas evoluções.
DW África: Os dirigentes de países vizinhos estão a ganhar demasiado protagonismo em detrimento do Governo moçambicano?
Paulo Wache (PW): Penso que não. É um protagonismo consentido tendo em conta a história comum da região, se olharmos para a Tanzânia como o nosso berço, onde fomos acolhidos para ficarmos livres. Nesse sentido, a participação da Tanzânia nos problemas de Moçambique - atual ou colonial - não é uma novidade.
DW África: E quanto à África do Sul?
PW: Moçambique teve uma grande participação na luta da África do Sul. Sabemos que, nas relações internacionais, não há jantares grátis. Nem mesmo com a libertação da Tanzânia, quando tivemos de lutar lado a lado. Existe um histórico muito grande de solidariedade militar entre os países da região, à exceção do Malawi, que não teve grande entrosamento histórico.
DW África: Mas Filipe Nyusi, como ex-ministro da Defesa Nacional, tinha o dever de conhecer o dossiê da defesa e segurança, mas parece que não controla a agenda e estratégia de defesa do próprio território. É legítima esta crítica?
PW: Pode ser legítima, se considerarmos que estamos numa situação precária, em que precisamos de ajuda internacional. Mas é também uma herança histórica. Pode ser explicado a partir do momento em que passámos de um estado socialista para capitalista de mercado. Uma das consequências dessa transição foi abdicar de uma presença militar estruturalmente forte do país. Mesmo que fosse um outro Presidente, com uma visão estratégica, a curto-médio prazo, seria impossível implementar esta visão, a partir do momento em que na década de 90 assinámos o acordo de paz até à data do desenlace do conflito armado.
DW África: As forças armadas de Moçambique estão preparadas para fazer face a este grande problema?
PW: Do ponto de vista de armamento, não estão equipadas como já estiveram em fases anteriores. Isso é fruto de uma transformação global que acabou por afetar o país, sem esquecer também a situação financeira do país. Mas também o desinteresse do sistema internacional em ter forças armadas nacionais fortes, não há como financiar estas forças.
DW África: Urge exigir mais capacidade de liderança a Filipe Nyusi?
PW: Não há meios e ele encontrou as forças armadas com uma estrutura orçamental que não permitia fazer mais do que foi feito. Até porque o orçamento também está dependente do exterior e o investimento de fora vinha para outras áreas que não militar.
António Cascais | Deutsche Welle
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