Martina Schwikowski | af | Deutsche Welle
O recente massacre de deslocados no leste da República Democrática do Congo (RDC) comprova que os esforços de pacificação militar não estão a resultar. Mais uma vez, o fim da missão de paz da ONU volta a ser anunciado.
O leste da RDC vive há vários anos um conflito que envolve vários grupos de rebeldes na região e as tropas governamentais e que já provocou a morte de milhares de pessoas.
No último domingo (11.06), 46 pessoas, metade das quais crianças, morreram quando um grupo de atacantes invadiu o campo de deslocados internos de Lala, na província de Ituri, no nordeste do país.
As autoridades locais e as organizações civis culpam a Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codéco) pelo ataque.
"Entraram neste local e massacraram várias pessoas com catanas e armas de fogo. Outras pessoas foram degoladas e incendiaram as cabanas dos deslocados", conta Richard Dheda, administrador do distrito de Bahema Badjere.
No sábado (10.06), outras sete pessoas morreram num ataque a uma posição do exército na região, o que voltou a semear o medo na população da província de Ituri, que faz fronteira com o Uganda.
Sociedade civil exige proteção do Estado
"A nossa preocupação tem a ver com o Estado congolês, que deveria proteger a população e os seus bens, mais que não o tem feito", afirma Dieudonné Lossadhekana, da federação das organizações da sociedade civil de Ituri.
Mais de 8.500 pessoas vivem no centro de deslocados de Lala, por isso que Lossadhekana clama por mais segurança no local. "Gostaríamos que o Estado mostrasse o seu poder e capacidade", sublinha.
Jules Ngongo porta-voz do exército em Ituri, garante que "as Forças Armadas da RDC tomaram medidas úteis para lidar com qualquer pessoa que se oponha à paz".
A 1 de junho, várias milícias ativas na região, incluindo a Codéco, assinaram um acordo para depor as armas, mas os recentes ataques põem em causa o referido entendimento.
Missão dos capacetes azuis falhou
Há dois anos, o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, declarou o estado de emergência nas províncias do Kivu do Norte e de Ituri, com o objetivo de pôr fim aos grupos armados na região e garantir a proteção de civis.
Há 24 anos que o exército congolês conta com o apoio da Missão de Estabilização das Nações Unidas na RDC (MONUSCO) para tentar derrotar os rebeldes no leste do país. Mas a situação no terreno continua a ser dramática.
Mesmo sendo uma das maiores missões de manutenção da paz do mundo e atualmente com 12.800 dos 20.000 soldados iniciais, a MONUSCO não consegue estabilizar o leste do Congo. Qual será o motvo?
"A MONUSCO falhou em grande parte porque o seu destacamento não teve um impacto significativo na segurança ao longo dos últimos dez anos e não é capaz de fazer a diferença no cenário de guerra que prevalece atualmente no leste do Congo", responde Richard Moncrief, diretor para a região dos Grandes Lagos da Internacional Crisis Group.
Fim da MONUSCO aproxima-se
Neste momento, a República Democrática do Congo pondera dispensar o apoio da MONUSCO. Para Alex Vines, diretor do programa para África do grupo de reflexão Chatham House, esta não é a solução.
Mas compreende que, "por ser um ano eleitoral, o governo do Presidente Tshisekedi está a fazer da operação da MONUSCO e da ONU bodes expiatórios para justificar as suas próprias falhas. Mas a realidade é que as tropas da RDC estão mal equipadas".
Sem sucessos com a MONUSCO, o
Governo congolês pediu apoio militar da Comunidade da África Oriental, mas
Imagens: 1 - Soldados da missão de manutenção da paz da ONU controlam campo de refugiados na província de Ituri, no leste da RDC; 2 - Manifestação em Goma contra a missão da ONU em julho de 2022
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