Artur Queiroz*, Luanda
Este ofício é para loucos e desenganados da vida. Tirando algumas alegrias, o Jornalismo só me deu desgostos e canseiras. Estava eu a gozar as delícias da reforma, sem dinheiro para comprar os medicamentos que mantêm os velhos vivos, quando me tocou ler o nojento livro intitulado “Confissões de um Estadista” assinado por Benja Satula, membro do Comité Central do MPLA e manda-chuva na Universidade Católica de Angola.
A última leitura das entrevistas da Solange Faria ao espírito do Presidente José Eduardo dos Santos foi um alívio. Tomei um banho de duas horas mas continuo a cheirar mal. Solange corneadoragrafista, não te perdoo! Satula ninguém tem culpa que a dama te enfeite. És cornupto por conta própria, não podias arrastar-me para a lixeira onde tu e a tua vígaragrafista chafurdam. Vou despachar istro rapidamente. Eis o resumo do nojo.
Agostinho Neto e o MPLA traíram o Povo Angolano dividindo com os portugueses, antes de 11 de Novembro de 1975, num acordo secreto, o poder e as riquezas de Angola. Jonas Savimbi não aceitou a traição e foi para a guerra. Nito Alves não aceitou a traição e partiu para o golpe do 27 de Maio de 19877. O MPLA batotou as eleições de 1992 (e todas as seguintes). Jonas Savimbi não aceitou a fraude e partiu para a guerra até 2002. Agostinho Neto é traidor. José Eduardo dos Santos covarde. Falhou como pai e estadista. João Lourenço é feio. Viriato da Cruz um Deus. Nito Aves um segundo Jesus Cristo. Jonas Savimbi o guerreiro na luta pela independência. Está resumido o livro.
Entrevistar um morto é mau? Se tal fosse possível, nem bom nem mau, antes pelo contrário. O problema é outro. O casal da vigarice põe no “espírito” do falecido Chefe de Estado autênticas monstruosidades. Mentiras abjectas. Invenções tresloucadas. O “espírito” disse à psicocorneadoragrafista esta aldrabice monstruosa: “O MPLA e Agostinho Neto fizeram um acordo secreto com Portugal para dividirem o poder em Angola, após a proclamação da Independência Nacional”.
O “espírito” denuncia José Eduardo dos Santos nestes termos: “Fui eu que mandei executar pessoas do MPLA. Cometi assassinatos. Fui um criminoso”… “A descolonização não foi um processo limpo por causa do MPLA”. Sobre os Generais que ganharam a guerra o “espírito” diz que são uns ladrões, roubaram o Povo Angolano. E faz um apelo: “Por favor, devolvam o dinheiro roubado”. Uma confissão do “espírito”: Nós falsificámos as eleições. Os actos eleitorais só podem dar vitórias do MPLA. Não acreditam? Leiam então as provas que vos deixo.
O “espírito” do Presidente José Eduardo disse à Solange que cometeu muitos erros devido “à minha ignorância política e fragilidade espiritual”. Os dois vigaristas nem sequer tiveram o cuidado de se informarem sobre a personalidade do entrevistado. O seu currículo. A frase publicada é absurda. O Presidente José Eduardo dos Santos quando partiu para o exílio era estudante do sétimo ano do Liceu. Satula não sabe mas eu digo-lhe. O curso complementar do liceu hoje vale por seis doutoramentos, tantos quantos os exames às disciplinas, seis. Ele era da alínea F (Ciências) e um dos melhores alunos do seu tempo.
O casal de vigaristaspsicografistas apresenta as “confissões” como entrevistas ao espírito de José Eduardo dos Santos. Mas no texto há referências que negam esse truque: “Deixo aqui nestes escritos…”. Ou “fiz a coisa certa ao deixar-vos estes escritos”. Ou ainda “para além destes escritos s irei dirigir-me directamente a algumas pessoas que foram chacinadas no 27 de Maio.” A palavra “chacinadas” é hoje usada pelos bandidos do 27 de Maio que se dizem sobreviventes. Afinal a entrevista são escritos. Querem mais aldrabice? Eu arranjo mais.
Na sua apresentação aos incautos leitores, o “espírito” de José Eduardo dos Santos diz isto: “Tive uma infância tranquila, filho de pai e mãe camponeses que morreram cedo, acabei por entrar muito cedo para as fileiras do movimento de libertação angolano”. Os pais de José Eduardo dos Santos eram citadinos, moradores no Sambizanga. Naquele tempo, raros eram os negros que chegavam ao ensino secundário. Ele chegou. Para isso era preciso dinheiro. Digo-vos que o meu colega José Eduardo andava sempre impecavelmente vestido. Parecia um artista do cinema.
José Eduardo era o maior craque da nossa selecção de futebol. E nesse tempo tínhamos colegas futebolistas que jogavam nos grandes clubes de Luanda, como o Nicola ou o Justino Fernandes. No início do ano lectivo elegíamos o chefe de turma. José Eduardo foi eleito pelos colegas. Um negro! Já nessa altura era excepcional. Nos estudos e no desporto.
O espirito disse à psicocorneadora: “Sempre fui muito delicado em tudo o que fazia, de tal sorte que em 1960 recebi uma bolsa para concluir os meus estudos na Rússia, para onde parti e onde liderei o movimento dos jovens.” Em 1960, José Eduardo ainda era aluno do liceu. Nas férias grandes de 1961 foi para Leopoldville (Kinshasa) onde se juntou ao MPLA. Sendo um jovem com o curso complementar do Liceu, a direcção do Movimento mandou-o estudar para a União Soviética (Rússia é paleio da NATO) onde concluiu o curso de engenharia.
Mais uma declaração atribuída ao
espírito: “Uma parte do país, concretamente o Sul de Angola, estava sob o
domínio da UNITA”. Mentira. Jamais o Presidente José Eduardo dos Santos diria
tal aldrabice. Antes do 25 de Abril de
O “espírito declarou à
psicovigaristagrafista que as eleições de 1992 estavam organizadas para o MPLA
ganhar. Porque era preciso “garantir a estabilidade nacional e evitar o colapso
do governo numa altura de grande fragilidade nacional. A situação despoletou
Esta parte das aldrabices é de uma gravidade extrema, leiam: “Lembro-me que em 1976 tive acesso a um documento pela via do camarada Agostinho Neto, em que se descrevia que enquanto o camarada Neto estivesse no poder e com ajuda da protecção colonial, Portugal faria parte da gestão administrativa de forma externa, o que permitia Portugal intervir na vida económica de Angola”. Isto não é um a mensagem. É uma mentira monstruosa. Uma falsificação da História propalada por um membro do Comité Central do MPLA.
O MPLA fez um acordo secreto com Portugal para partilhar o poder com os colonialistas. Por isso aconteceu o 27 de Maio de 1977. Leiam a versão do Satula e sua corneadora: “O 27 de Maio foi resultado da incompatibilidade de uma gestão conjunta entre Portugal e Angola. Muitos dos nossos compatriotas não concordavam com estes acordos celebrados com Portugal e queriam partir para uma nova revolução interna.”
Portugal apenas reconheceu Angola
como um estado soberano em 22 de Fevereiro de 1976. Até lá não existia qualquer
relação entre Luanda e Lisboa. Apesar do reconhecimento, ainda passaram muitos
meses até abrir a primeira embaixada de Portugal
Mais esta “mensagem” do espírito à Solange vigaristagrafista: “Os acordos (com Portugal) já tinham sido celebrados antes da independência e o principal aliado tinha sido o camarada Neto. Portugal encontrou flexibilidade junto do camarada Neto para conseguir permanecer na gestão administrativa do país, uma vez que havia interesses económicos fortíssimos, que poriam em causa a própria estabilidade económica de Portugal”.
O Satula ainda não tinha nascido mas eu vou ensiná-lo, sem cobrar nada. Quem cobra propinas milionárias é a Universidade Católica de Angola. Quando a FNLA e a UNITA abandonaram o Governo de Transição, Portugal suspendeu o Acordo de Alvor. Entre Junho de 1975 e 11 de Novembro de 1975 fecharam em Angola todas as grandes empresas portuguesas. Nem uma ficou aberta. As grandes roças do Norte e do Cuanza Sul foram igualmente abandonadas pelos proprietários portugueses. Todo o comércio encerrou.
Até 11 de Novembro de 1975, todos
os funcionários públicos portugueses partiram. Os taxistas e camionistas foram
embora tal como os cantineiros, os vendedores de lotaria, os donos dos hotéis,
cervejarias e restaurantes. Em toda a Angola ficaram uns 700 portugueses e não
eram empresários! Quase todos técnicos de várias áreas e operários
especializados. Repito: Menos de mil portugueses, trabalhadores, ficaram
O Satula assume a vigarice. E põe o “espírito” a dizer mais isto: “Na altura certos acordos não foram divulgados porque já se sabia que despoletariam graves conflitos internos. No caso concreto destes acordos, a camarada Maria Eugénia, caso queira deixar o seu legado pode confirmar estes escritos que deixo aqui”. E mais esta aldrabice: “O 27 de Maio surgiu para derrubar o governo de Agostinho Neto, uma vez que estes não partilhavam dos mesmos ideais de governação conjunta entre Angola e Portugal”( …) Claro que os nossos compatriotas de outros movimentos jamais compartilhariam dessa ideia de administração conjunta”.
Depois chegou a vez de atacar os Generais que derrotaram o regime de apartheid, libertaram Nelson Mandela, a Namíbia e o povo sul-africano dos racistas. Disse o “espírito” à corneadoragrafista: “A Sonangol e as empresas diamantíferas eram verdadeiras minas de ouro nas mãos dos generais. (…) A terra, especialmente Luanda, Benguela, Huíla e Bengo, estava entregue aos generais, que eram fieis depositários do Estado”. (…) “Os generais eram contra a integração da UNITA na sociedade civil. (…) “Vós, generais que recebestes todas as benesses, vós, ministros que adormecestes no conforto dos cargos que ocupavam, vós, militantes e guerreiros do MPLA, que sejamos todos humildes e reconheçamos que enquanto irmãos, falhamos, ao adormecermos no conforto do poder, falhamos ao nos apropriarmos das riquezas e benesses da Nação”.
Basta de lixo. Vou fechar com a visão do “espírito” sobre os actos eleitorais: “As eleições sempre foram muito bem calculadas e premeditadas, não há nada que tenha sido deixado ao acaso, incluindo o surgimento de alguns partidos políticos que foram criados mesmo não tendo condições para tal e foram certificados pelo Tribunal Constitucional”. (…)“Nenhuma instituição do Estado detinha autonomia para tomar decisões que perigassem a manutenção do MPLA no poder. Todos eles sabiam que ao serem nomeados para determinados cargos, teriam de ser pessoas essencialmente alinhadas com o partido ou que, em algum momento, teria que tomar uma decisão favorável a uma solicitação do MPLA”.
Só mais esta: “Nas eleições de 1992 eu segui uma agenda e tomamos a decisão em função daquilo que seria melhor para os angolanos. Provavelmente, para o camarada Savimbi, aquilo foi uma verdadeira afronta, o que desencadeou uma guerra sangrenta. Mas o que foi feito na altura foi a pensar também na intervenção e na protecção daqueles que recebiam apoios externos, por essa razão decidimos não avançar para uma segunda volta das eleições”. (…)“As políticas criadas pelo MPLA colidiam com os interesses que Savimbi tinha para Angola, era impossível que naquela altura houvesse apenas uma governação separada de Angola e de Portugal, como pretendia Jonas Savimbi, e tendo ele acesso a esses acordos causaria uma verdadeira rotura no país”. Alerta! Não estava prevista uma segunda volta das eleições. Mas uma segunda volta da eleição presidencial. E já sabem. Portugal não governa Angola!
O Savimbi também deu uma entrevista à Solange e ao cornupto. Matou o Tito Chingunji e o Wilson dos Santos? Responde o pai do Satula: “Quando há qualquer sinal de desconfiança era importante afastar ou eliminar estas pessoas (…) só por isso é que muitos deles serviram de exemplo para impedir qualquer tipo de traição. Foi o caso de Wilson dos Santos e Tito Chingunji”. Matou pessoas na fogueira, pai Savimbi? Resposta: “Na guerra contam-se muitas histórias, boa parte delas, não passam de criatividade humana para derrubar o adversário. (…)“Eu nunca mandei queimar crianças. Se alguém agiu assim foi longe da minha zona de visão. Não quero com isto dizer que não tenha acontecido um ou outro caso, digo se assim foi, aconteceu longe da linha visão”.
O “espírito” de José Eduardo dos Santos passa metade do livro a elogiar o “camarada Jonas Savimbi”! Solange foi ao castigo. Agora vou entrevistar a psicografista para ela me contar como foi ser escrava sexual do criminoso de guerra. Mais um “best-seller”!
*Jornalista
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