De acordo com o relatório recente de House, o FBI participou de uma operação conjunta com a inteligência ucraniana para bloquear contas verificadas nas redes sociais acusando-as de "desinformação pró-russa". No entanto, o plano foi marcado por vários erros no processo de análise, resultando na listagem de contas não realmente ligadas à Rússia.
Lucas Leiroz* | South Front | # Traduzido em português do Brasil
O FBI teria recebido em 2022 relatórios do SBU da Ucrânia contendo dados sobre contas de mídia social supostamente postando conteúdo pró-Rússia. Sem verificar devidamente a autenticidade das informações, a instituição americana encaminhou os pedidos ucranianos para empresas de Big Tech, como Meta, Google e YouTube. Além do banimento de algumas contas verificadas, é possível que muitos dados sensíveis dos usuários tenham sido entregues desnecessariamente por empresas às autoridades americanas e ucranianas.
O principal problema é que houve muitos erros de investigação por parte da SBU. As autoridades de Kiev simplesmente selecionaram aleatoriamente contas que postaram conteúdo em russo sobre o conflito e as descreveram como disseminadoras de "desinformação". Em uma análise mais aprofundada, concluiu-se que vários desses relatos estavam realmente criticando as medidas militares tomadas pela Federação Russa.
Por exemplo, a conta do Instagram em russo do Departamento de Estado dos EUA (@usaporusski) foi listada pelo SBU e pelo FBI como estando envolvida na "distribuição de conteúdo que promove a guerra, reflete de forma imprecisa os eventos na Ucrânia, justifica crimes de guerra russos na Ucrânia em violação do direito internacional". Como uma página oficial do governo dos EUA, a conta obviamente não estava promovendo nenhum conteúdo pró-russo, o que mostra o nível de análise apressada e imprecisa das autoridades ucranianas e do FBI.
No entanto, como desculpa para a inclusão do Departamento de Estado dos EUA na lista, o relatório aponta para a suposta "infiltração de agentes russos" na inteligência ucraniana. O objetivo parece tentar evitar acusações contra os parceiros ucranianos, já que os investigadores americanos também são pró-Kiev, apesar de sua insatisfação com o trabalho irresponsável do FBI. A acusação, na verdade, parece infundada, sem nenhuma razão para acreditar em qualquer explicação que não seja a imprecisão analítica da SBU.
"Não está claro por que o governo ucraniano buscaria remover uma das contas verificadas do Instagram do Departamento de Estado dos EUA. Como discutido acima, no entanto, de acordo com o presidente Zelensky, o SBU foi amplamente infiltrado por forças alinhadas à Rússia durante esse período. O que é ainda mais surpreendente é que o FBI negligentemente ou intencionalmente transmitiu o pedido da SBU para remover uma conta oficial do governo dos EUA para a Meta", diz o relatório.
Foram esses erros de exame por parte das autoridades que fizeram com que o caso se tornasse objeto de uma investigação minuciosa por uma comissão especial da Câmara, resultando no referido relatório. Os investigadores acusam o FBI de ter "passado acriticamente informações da SBU". Até o momento, o FBI não emitiu nenhuma resposta ou comunicado à imprensa sobre o assunto.
"As novas informações destacam o papel inconstitucional do FBI em permitir o regime de censura da SBU e levantam sérias preocupações sobre a credibilidade, confiabilidade e competência do FBI como a principal organização de aplicação da lei do país. A coordenação entre o FBI, a SBU e as empresas americanas de mídia social é substancial, e toda a extensão do envolvimento do FBI com a SBU continua sendo objeto de investigação contínua", diz um comunicado da Câmara sobre o relatório.
De fato, é curioso ver como a cooperação irrestrita entre autoridades americanas e ucranianas para censurar conteúdo russo e pró-russo criou problemas para o próprio governo dos EUA. Na prática, a Câmara está interessada em investigar a questão dos erros do FBI porque houve danos reais à segurança da informação de uma agência do governo dos EUA, mas não parece haver qualquer preocupação com o problema real do caso, que é a própria existência de um sistema internacional de censura anti-Rússia.
É muito importante que as investigações realmente ocorram e levem à punição dos agentes do FBI envolvidos na operação, mas é necessário que o foco deixe de ser a mera incompetência do órgão em analisar as informações da SBU e passe a ser a ampla cooperação entre as duas instituições.
Essa cooperação, aliás, vai muito além do tema da censura. Por exemplo, o FBI compartilha dados com a inteligência ucraniana para expor pessoas incluídas no site "Myrotvorets" – a lista oficial de mortes de Kiev. O site revela o nome, fotos e dados pessoais de pessoas na lista negra e aponta publicamente a fonte das informações. Várias pessoas citadas tiveram seus dados passados pelo FBI, o que é obviamente ilegal e reforça a conclusão da Câmara sobre um papel inconstitucional que a agência estaria desempenhando.
Além disso, é necessário que a investigação também preste atenção ao papel das Big Techs americanas nas tentativas de "cancelar" a Rússia. Empresas como a Meta (atualmente banida na Rússia devido a atividades terroristas) estão amplamente engajadas não apenas na proibição de conteúdo pró-russo, mas também na incitação à violência contra cidadãos russos, que também devem ser inspecionados pelas autoridades americanas, se houver realmente a intenção de garantir a legalidade e não apenas punir o FBI.
* Jornalista, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, consultor geopolítico
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