terça-feira, 4 de julho de 2023

PARIS ARDE E A CENSURA COMANDA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A doce França está amargamente violenta. Paris já arde tumultuosamente nos bairros dos ricaços. Tudo se resume a esta fórmula: 719 um mais uma. A noite passada a polícia prendeu 719 manifestantes, um político foi atacado no lar, fugiu desordenadamente e Macron adiou uma viagem de sonho a Berlim onde ia tratar do negócio milionário que é a guerra na Ucrânia. Duvidam? Só a União Europeia já despachou 70 mil milhões de euros para os nazis de Kiev. Mais a remessa de libras do Reino Unido e dólares do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Imaginem o número de bilionários nascidos desde Fevereiro de 2022!

A França mobilizou 50 mil polícias, fora os ameaços, para enfrentar os miúdos que protestam nas ruas. Se em Angola o ministro Laborinho mobilizasse sete mil para enfrentar os sicários da UNITA que se escondem atrás das ONG em fúria, até o Guterres protestava. Se no golpe de 17 de Junho a polícia tivesse detido metade de manifestantes que esta noite as forças de segurança francesas prenderam, reunia de emergência o Conselho de Segurança da ONU. Se depois da passeata do senhor Perigozinho o Presidente Putin adiasse uma ida ao espectácuio de ballet no Bolshoi, tínhamos os Media do ocidente alargado a falar de golpe de estado.

É verdade. Estou a falar de censura. O Presidente Ramaphosa discursou na cimeira de Paris sobre o Clima e disse educadamente ao anfitrião, o senhor Macron, que existia a promessa de disponibilizar 100 mil milhões de euros a África, para infra-estruturas. Até agora nem um cêntimo. Ninguém deu a notícia. Censura férrea. Mas pelas palavras do Chefe de Estado sul-africano soubemos que o problema foi levantado pelo Presidente Denis Sassou-Nguesso, nosso vizinho do Norte. Disse na cara da potência colonial que a França e a União Europeia são enganadoras. Prometem tudo e não cumprem. Só são fiáveis a roubar África e os africanos.

Censura também é manipular. Um exemplo. A nazi belicista que preside à Comissão Europeia anunciou, empolgada, que ia mandar mais 50 mil milhões de euros para a Ucrânia. Como se fosse a dona do bocado. Quando os estados-membros reuniram, o primeiro-ministro da Hungria, Victor Orbán, bloqueou o negócio da Úrsula von der Leyen. Argumento do político húngaro: - Já enviámos 70 mil milhões para a Ucrânia. Só vai mais dinheiro quando Kiev apresentar contas. Queremos saber em que gastaram tanto dinheiro. 

Sabem como foi dada a notícia nos Media do ocidente alargado? O político de extrema-direita húngaro, Victor Orbán, bloqueou o reforço de 50 mil milhões de euros à Ucrânia porque é aliado de Putin! Censura pura e dura nas vestes de manipulação acéfala. A Ucrânia é governada por políticos de extrema-direita. A Polónia nem se fala. A Comissão Europeia aplicou-lhe uma multa diária de milhões de euros, porque os nazis de serviço puseram os Tribunais sob as ordens do poder político. A Suécia, antigo paraíso da social-democracia, é governada por políticos de extrema-direita. O mesmo se passa com a Estónia, Letónia e Lituânia. Roménia igualmente. E não são aliados de Putin, pelo contrário. 

Jornalismo a sério é procurar as contas e revelar ao ocidente alargado como os nazis de Kiev gastaram o dinheiro. Jornalismo profissional é obrigar a Comissão Europeia a informar detalhadamente o porquê de despachar 120 mil milhões de euros para a Ucrânia se o país está destruído e metade da população fugiu. O negócio desta guerra é tão asqueroso que os ricaços até já fizeram uma cimeira para angariar fundos destinados à “reconstrução” da Ucrânia. Proposta em cima da mesa: Roubar os fundos soberanos russos ou as fortunas de cidadãos da Federação Russa depositados na banca do ocidente alargado. Querem festa.

As comissões de censura dos colonialistas e fascistas foram instaladas nos Media! Os censores funcionam nas Redacções. Os jornalistas foram escorraçados e no seu lugar estão moças e moços de recados. Tenho pena das e dos jornalistas que sobraram desse holocausto. Imagino o que é viver cercado de criadagem dos donos, atenta, veneranda e obrigada. Tudo a troco de um pratito de comida requentada. Uma tragédia. 

A CNN transformou-se no modelo de censura multinacional. Se é verdade que Angola tentou entrar no matadouro, nem imaginam como lamento. Passei mais de metade da minha vida a estudar o fabuloso Jornalismo Angolano desde o Século XIX ao dealbar da Imprensa Industrial, quando a notícia triunfou como mercadoria e os jornalistas passaram a assalariados.

Para o caso de termos alguém distraído na tutela informo que quem domina os Media tem o poder total. Chamar a CNN para Angola é entregar o ouro ao bandido que é o estado terrorista mais perigoso do mundo. Comunicar melhor não é censura. Comunicar não é conversa fiada. Tenho uma má notícia. Comunicar é coisa de técnicos, não de acomodados, protegidos e outros equivocados. Não há fórmulas. Cada momento exige uma resposta diferente. É preciso ler o acontecimento antes de acontecer e encontrar a resposta eficaz. A solução de hoje pode não funcionar para o mesmo problema amanhã. Há mil situações, mil soluções, mil intervenções que só técnicos conhecem.

Um exemplo. Em 1974, o MPLA tinha a hostilidade de todos os Media. Os jornais e revistas eram dos ricaços que defendiam a independência branca. Os Media públicos estavam alinhados na mesma onda. Uma minoria conseguiu controlar a direcção de informação e a redacção da Emissora Oficial de Angola. Uns dez por cento da mão-de-obra. O mesmo aconteceu na Voz de Angola, mas com menos profissionais. A minha homenagem a Manuel Berenguel, Artur Arriscado, Fernando Neves, José ZAN Andrade, Jofre Neto e aos miúdos do Kudbanguela que começaram a trabalhar connosco. Constituíam as equipas dos programas Contacto Popular e Voz Livre do Povo. 

A minoria sabia comunicar. Sabia como amplificar as mensagens do MPLA. Soube derrotar os gigantes da comunicação social. A minha homenagem ao comandante Garrido Borges e ao capitão Alcântara de Melo (militares dos MFA), à Concha de Mascarenhas, ao Mais Velho Rúbio (era ainda mais chato do que eu…) ao Horácio da Fonseca e aos grandes chefes: Manuel Rodrigues Vaz e António Cardoso. Eu era uma espécie de subchefe da família. Tenho a meu crédito a paridade de género numa época em que não existiam noticiaristas na Rádio! 

Novas tecnologias valem mesmo. Mas é preciso saber usá-las. O pessoal da TPA não sabe. Apostem na Rádio Nacional. Vale mesmo a pena. E na Empresa Edições Novembro. Dá grande retorno. Por favor, acabem com os acomodados e os protegidos na comunicação social. Esse sector só dá mesmo para técnicos altamente qualificados. Ninguém põe uns oportunistas enfatuados a fazer cirurgias cardiotorácicas. Por falar nisso. Hoje a TPA Notícias está em baixo! Será que a EDEL lhe cortou a luz ou as novas tecnologias atrapalham? Kavanza!

*Jornalista

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