Angola | As Terras Sentidas de África* -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Ocidente alargado faliu em 2008 apesar de ter roubado os fundos soberanos do Iraque e o petróleo do país. A troco de protecção também juntou o petróleo do Koweit e da Arábia Saudita. Todo o Médio Oriente pagou a factura do desmoronamento do sistema financeiro norte-americano e seus sócios europeus. Até os paraísos fiscais estremeceram! Quando viram que ainda era preciso mais, lançaram a Primavera Árabe em 2010. O Norte de África ficou em chamas. Mas o latrocínio não deu os resultados esperados. Tentaram que a golpada chegasse a Angola mas “não pegou”. 

No ano seguinte, em 2011, a OTAN (ou NATO) iniciou a guerra na Líbia para derrubar o Presidente  Muammar al-Gaddafi. França, Itália e Alemanha comandaram o assalto com o estado terrorista mais perigoso do mundo a fiscalizar. Só pararam quando o país estava destruído. Assassinaram o Presidente da República. O petróleo da Líbia é muito barato porque os custos da exploração também são. 

Os ladrões e assassinos tomaram conta das explorações petrolíferas, dividiram o “governo” em dois, pagam uns trocos e levam tudo. A Líbia era o país do mundo com mais investimentos financeiros no estrangeiro. Esse dinheiro foi roubado pelos escravocratas e colonialistas do ocidente alargado. Um Chefe de Estado Africano foi assassinado pela OTAN (ou NATO). Um país africano foi destruído à bomba. A União Africana não reclamou. A ONU apoiou os assassinos e ladrões. As Terras Sentidas de África são propriedade dos abutres do ocidente alargado. Os dirigentes africanos estão amestrados na arte de se ajoelharem ante os amos.

A destruição da Líbia como estado soberano teve o apoio da ONU, da União Africana, União Europeia e de todas as mafias financeiras do mundo. O Presidente  Muammar al-Gaddafi lançou no país a Revolução Verde que consistiu em recuperar para a agricultura milhões de hectares do deserto. Fiz uma reportagem nos campos cultivados que outrora só tinham pedras e areia. Uma emoção. O Presidente da Líbia assustou os colonialistas e esclavagistas! 

A Revolução Verde incluiu a construção de barragens que retinham a água necessária à irrigação dos campos cultivados. Com os bombardeamentos da OTAN (ou NATO) foram danificadas. Os dois “governos” instalados na Líbia pelo ocidente alargado recebem as comissões do petróleo e nada mais lhes interessa. Por isso, ao fim de 12 anos, à primeira tempestade a sério, as barragens colapsaram. Há milhares de mortos e desaparecidos. Os assassinos estão em Washington, Paris, Londres, Bruxelas, Roma e Berlim. Como sempre acontece nas Terras Sentidas de África.

Os Media ocidentais dizem que depois da “queda do regime de Presidente Muammar al-Gaddafi” o estado deixou de funcionar. A queda! O regime ia muito bem no seu caminho e de repetente caiu. A NATO (ou OTAN) não bombardeou, não matou, não destruiu, não assassinou o Chefe de Estado. Aquilo foi uma queda. Coisa leve. 

As Terras Sentidas de África continuam à mercê dos esclavagistas e colonialistas. Os abutres continuam a comer até se saciarem com o sangue e a carne dos africanos. Ninguém combate o latrocínio. Mali, Burkina Faso, Guiné Conacri, República Centro Africana e Níger travaram os roubos. É um bom sinal. Angola já tinha feito esse caminho em 11 de Novembro de 1975 mas voltou para trás em alta velocidade e agora está de novo na casa de partida à espera de uns trocos dos ladrões. A União Europeia vai mandar uns restos dos milhares de milhões despachados para os nazis de Kiev. 

A próxima remessa para as mafias da Ucrânia já vai ser paga pelos angolanos. Por cada milhão que os esclavagistas “investem” em Angola tem de ser devolvido vezes mil. É assim nas Terras Sentidas de África.

O Banco Central Europeu subiu as taxas de juros apesar da resseção na Alemanha e a estagnação na Zona Euro. Recomendou aos governos da União Europeia para cortarem nas prestações sociais. Roubarem aos pobres! São estes “parceiros” que temos. Se tratam assim os seus povos imaginem como se comportam nas Terras Sentidas de África.

Joe Biden afivela uma máscara de mártir dos falcões quando há uma mortandade a tiro nos EUA.. Defende que é preciso desarmar os civis. Afinal o seu filho foi apanhado com uma arma vadia. Ilegal. É este lixo humano que manda no mundo e impõe aos povos a “democracia” das invasões militares, dos bombardeamentos da OTAN (ou NATO), dos golpes. Os Media dos EUA são tidos como campeões da liberdade de imprensa. Mas vivem bem com a prisão de Julian Assange. E aceitam estar às ordens da CIA e do Pentágono. Exportam o modelo para o ocidente alargado. 

A CNN já é farol em todos os continentes. Em Portugal funciona com aspirantes a bufos. A TPA segue os mesmos passos com o seu canal de “notícias”. Ainda ninguém explicou à direcção de informação da estação pública que o óbvio não é notícia. Angola não é um estado confessional. Os restos humanos resultam todos da morte, não há imortais. 

A entrevista como género jornalístico demorou a impor-se porque os velhos repórteres desses tempos diziam que eram fretes repugnantes. Mais tarde os profissionais perceberam que é um método eficaz para tapar vazios de informação. Hoje a entrevista é universalmente aceite mas os fretes continuam. 

A TPA mandou vir uma menina dos EUA para “entrevistar” a veneranda presidente do Tribunal Constitucional. A peça está a ser vendida aos telespectadores com um “spot” onde aparecem entrevistadora e entrevistada devidamente produzidas, em pose de Estado. O problema é a conversa. Frete mais primário é impossível. A menina que veio do estado terrorista mais perigoso do mundo para o papo de amigas está desculpada. Mas a Dra. Laurinda Prazeres Monteiro Cardoso, dadas as suas especiais responsabilidades, podia bem evitar tão triste espectáculo. É assim nas Terras Sentidas de África. Só conta o fogo de vista.

*Verso de Agostinho Neto

*Jornalista