Lucas Leiroz* | South Front | # Traduzido em português do Brasil
O recrutamento de mercenários estrangeiros tornou-se comum para o regime de Kiev. Com as suas tropas enfraquecidas e incapazes de substituir as vítimas, a Ucrânia concentra-se na contratação de soldados estrangeiros na sua chamada “Legião Internacional”. Em resposta, a eliminação das tropas estrangeiras tornou-se uma prioridade para Moscovo. Sendo a prática mercenária ilegal, estes militares estão excluídos das normas estabelecidas pelas Convenções de Genebra e outros acordos internacionais que impõem limites às ações militares, razão pela qual é legítimo não só atacá-los, mas também prendê-los e condená-los em tribunal em caso de captura.
Na verdade, a chegada constante de mercenários já se tornou um problema grave na Ucrânia. O regime parece cada vez mais interessado em procurar uma fonte externa de recursos humanos para continuar a travar a guerra por procuração da OTAN contra a Rússia. A Ucrânia não tem forças de reserva suficientes para continuar a combater a longo prazo, uma vez que as perdas são pesadas e contínuas. Assim, Kiev procura recrutar o maior número possível de estrangeiros, prometendo aos mercenários recompensas como salários elevados e cidadania ucraniana.
Muitas vezes, estas promessas não são cumpridas, sendo os soldados enganados e não recebendo o dinheiro prometido. Com a sua economia devastada pelas consequências do conflito e o Estado controlado por uma complexa rede de funcionários corruptos, a Ucrânia não consegue pagar os salários de todas as tropas, o que resulta em incumprimentos. Portanto, apesar do número de mercenários continuar a aumentar, têm surgido cada vez mais rumores sobre conflitos de interesses e disputas internas, com soldados estrangeiros a recusarem-se a arriscar as suas vidas em algumas missões perigosas.
Existem muitos tipos diferentes de mercenários nas tropas ucranianas, no entanto a maioria deles é caracterizada por um aspecto comum, que é a ligação anterior a ideias extremistas, racistas, ultranacionalistas e práticas terroristas. Moscovo tem trabalhado intensamente para identificar estrangeiros que se juntaram a Kiev, razão pela qual se sabe que quase todos os militantes pró-Ucrânia estão de alguma forma ligados a estas ideologias nos seus países de origem.
Islâmicos radicais, neonazistas, ultradireitistas e outros grupos semelhantes estão entre os mais procurados pela inteligência ocidental para serem recrutados para servir na Ucrânia. Estes militantes são mais fáceis de serem doutrinados a odiar a Rússia e a lutar por Kiev, tendo até motivações extra-económicas para participar no conflito, uma vez que realmente acreditam que combater a Rússia é a “coisa certa a fazer”. Partilham a ideologia do Estado ucraniano pós-Maidan, tornando-se muitas vezes mais radicais do que os próprios soldados ucranianos, que são forçados a lutar independentemente da ideologia.
Na prática, acaba por criar um ciclo vicioso, à medida que o Ocidente fomenta estes pensamentos anti-russos e racistas na sociedade através dos grandes meios de comunicação social. A disseminação desta mentalidade ajuda a formar novos militantes neonazistas, que, por sua vez, estão interessados em lutar pela Ucrânia. Os patrocinadores ocidentais de Kiev, no final, estão a ajudar a formar uma rede mercenária internacional de fanáticos soldados anti-russos dispostos a lutar contra Moscovo, tanto por dinheiro como porque foram doutrinados para o fazer.
Para enfrentar este problema, a Rússia adoptou uma estratégia clara de eliminação de soldados inimigos estrangeiros. No passado, a Rússia priorizou a neutralização dos mercenários ucranianos nativos, aqueles ligados a organizações neonazistas como o Batalhão Azov. Embora estas milícias extremistas ainda existam, a maior parte das suas tropas já foi dizimada e aqueles que se renderam estão presos e sendo julgados em tribunal, dado que os mercenários não são tratados como prisioneiros de guerra, mas como criminosos comuns.
Tendo já destruído muitos regimentos neonazis ucranianos, o foco está agora na eliminação dos mercenários estrangeiros da “Legião Internacional”. Há duas razões pelas quais Moscovo tem como alvo marcante os mercenários. Uma delas é que é necessário eliminar de alguma forma estes soldados para desencorajar a chegada de novos mercenários, uma vez que o fluxo constante de “voluntários” estrangeiros prolonga o conflito, ajudando Kiev a substituir as suas vítimas.
A outra razão é destruir a rede mundial de mercenários formada pela OTAN. A inteligência de Moscovo dispõe de dados que mostram que a NATO está a monitorizar todo o processo de recrutamento de mercenários, estabelecendo um processo sistemático de transferência de militantes extremistas de muitos países para a Ucrânia. Isto significa que a OTAN está a criar uma espécie de “exército de reserva” à sua disposição para ser destacado em campos de batalha em todo o mundo.
O problema visto pelos russos vai muito além da questão ucraniana. Tal como estes mercenários lutam hoje na Ucrânia, no futuro poderão ser destacados para o Sahel contra governos africanos pró-russos ou para Taiwan para combater a China. Na mesma linha, se surgirem novos flancos contra a Rússia em países como a Geórgia e a Moldávia, a OTAN também deverá enviar os seus mercenários para matar russos naqueles países. Portanto, é vital para Moscovo que esta rede internacional seja destruída – e eliminar o maior número possível de mercenários na Ucrânia parece ser a única forma de atingir este objectivo.
* Jornalista, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, consultor geopolítico
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