Pedro Araújo* | Jornal de Notícias | opinião
O trabalho dignifica o Homem. A frase atribuída a Benjamin Franklin, norte-americano do século XVIII, que seria mais tarde parafraseada pelo sociólogo Max Weber, serve bem de epíteto à situação atual dos professores dos ensinos Básico e Secundário. O arranque do ano letivo encontra-se ameaçado pela exigência da recuperação integral do tempo de serviço. Os alunos não têm qualquer culpa, mas, na verdade, os docentes mereceriam uma atualização significativa das suas condições. O trabalho dignifica-os, mas o salário e a instabilidade nas colocações rebaixam-nos a uma condição de precários e desterrados ou, no mínimo, de mal pagos.
Este confronto entre Ministério da Educação e professores não é um filme a “preto e branco”. Quem está com os professores é contra o Governo e vice-versa? Essa postura é extremamente redutora. Qual é a zona cinzenta? A ambição de garantir a chegada de todos os docentes ao topo da carreira parece pouco razoável. Recuperar integralmente o tempo de serviço congelado no passado parece irrealizável, por muito injusto que tenha sido para a classe. Essas perdas foram sentidas quer no setor público quer no privado.
O passo seguinte devia focar-se num reforço significativo dos níveis salariais dos professores, dignificando o seu trabalho com melhores condições de vida. Ninguém duvidará que um profissional feliz desempenha sempre melhor a sua função na sociedade. O relatório “Education at a Glance” refere que grande parte dos docentes do terceiro ciclo aufere menos oito mil euros por ano face à média dos países da OCDE. O valor em si é subjetivo, uma vez que o real custo de vida depende sempre do nível de preços e do salário líquido.
Quando o Governo torna pública uma proposta de atualização de 33% dos salários dos médicos em exclusividade, é normal que os professores sintam que o seu papel não é suficientemente valorizado quer pelo Governo quer por todos aqueles que optam pelo silêncio.
*Editor executivo adjunto
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