Perante a enorme dificuldade em garantir o funcionamento das urgências, o que o Governo tem como solução é o encerramento rotativo. Em vez de propor o reforço de equipas, o Governo opta por medidas que diminuem os serviços do SNS.
Isabel Pires* | opinião | Esquerda.net
O que se tem passado, em particular nas últimas semanas com as urgências do SNS é grave. A situação é grave, insustentável e pode piorar substancialmente nas próximas semanas. A responsabilidade, essa, é toda do Ministério da Saúde e do Governo.
O governo passou os últimos anos a achar que podia manter o SNS à custa de horas extraordinárias muitíssimo acima do previsto na lei (150h). Devia ter contratado mais médicos, devia ter já valorizado a carreira e os salários, mas ficou-se por deixar andar até rebentar com os serviços.
Além disso, o Governo simula negociações há 17 meses, para no final do dia tomar decisões unilateralmente. Na verdade, perante o enorme esforço que era pedido aos médicos e outros trabalhadores da saúde, o Governo mostrou-se disponível a negociar uma mão cheia de nada. O desrespeito tem sido muito e os resultados estão à vista.
Neste momento existem várias urgências hospitalares com sérios constrangimentos ou sem capacidade de funcionamento. Quando olhamos para o mapa do país e colocamos por cima os hospitais com condicionamentos nas urgências percebemos a seriedade do problema.
Mas para além disso, vários hospitais já alertaram que nas próximas semanas outros serviços, como a medicina interna ou a cirurgia, podem interromper a sua atividade. Até os grandes hospitais dos centros urbanos de Lisboa e Porto já vieram dar informação de que poderiam não conseguir garantir o normal funcionamento dos mesmos.
Vejamos alguns exemplos: em Chaves a urgência de pediatria encerrou e só deve reabrir no dia 9 de outubro. Em Barcelos, a urgência de cirurgia está encerrada. Em Aveiro, a urgência de ginecologia e obstetrícia está encerrada durante o período noturno. Em Santarém, Guarda e Barreiro estão encerradas as urgências de cirurgia.
Em Bragança, há internamentos, cirurgias e urgências que só são possíveis porque alguns médicos já fizeram, só durante este ano, 1500 horas extraordinárias. Torres Novas e Tomar encerrarão também as urgências. Somemos a isto os “encerramentos programados” das urgências obstétricas e compreendemos que um pouco por todo o país o cenário é de caos.
Neste cenário, a forma como o Governo tenta lidar com o problema das urgências no SNS é paradigmática da total responsabilidade do PS na degradação acelerada desta e de outras respostas de saúde.
Perante a enorme dificuldade em garantir o funcionamento das urgências, o que o Governo tem como solução é o encerramento rotativo. Em vez de propor o reforço de equipas, a contratação para que o mapa de pessoal seja completo ou, nos casos em que fosse necessário, aumentar o mapa de pessoal, o Governo opta por medidas que diminuem os serviços do SNS.
Perante tudo isto, é caso para perguntar o que anda a fazer o Ministro da Saúde. Bom, além da propaganda bastante criativa (agora parece que os problemas do SNS resultam do seu sucesso, nível altíssimo de criatividade), anda a esconder-se atrás do Diretor Executivo do SNS. Continua a sacudir qualquer responsabilidade, não dá a cara pelo que corre mal nem tem propostas para resolver os problemas.
Como temos dito, Manuel Pizarro tem sido o melhor executor das políticas liberais na saúde. Enquanto destrói o SNS, aumenta o negócio dos privados. No fim da história, há uma urgência com as urgências do SNS e é a essa que temos que responder.
* Dirigente do Bloco de Esquerda.
Licenciada
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