Artur Queiroz*, Luanda
Os do Uíge diziam que o Negage era a aldeia dos macacos. Mas nós tínhamos a Foto Correia e eles nem pensar. Por isso não conheciam o magnífico mundo da fotografia. O nosso fotógrafo não tinha loja aberta. Não vendia panos, lenços, quimonos, barris de vinho, caixas de aguardente, malas de carapau seco, pungo ou corvina. Mas comprava mais café do que todos os outros comerciantes juntos.
O seu sucesso comercial era feitiço metido num caixote, coberto com pano preto, uma luz intensa que explodia inopinadamente. Já está! Depois o senhor Correia ia para a câmara escura revelar o negativo. Passada meia hora aparecia a xipala do cliente. Mas a foto ainda ia para outra bacia com fixador, para não ficar amarela ao fim de uns meses. Maravilha!
Um dia o senhor Correia colocou por cima da porta um reclame da Agfa. Era uma roda colorida com luzinhas à volta, que apagavam e acendiam. E no meio a marca escrita com luzes fixas multicoloridas. Era o fim do mundo. Mal o sipaio ligava o gerador, nós íamos a correr para a Foto Correia ver as luzinhas girando. Aquilo hipnotizava. Até esquecia da hora de jantar.
Os clientes do senhor Correia
vinham das sanzalas carregados de café. Traziam a família toda para tirarem uma
foto. O Correia pagava metade em dinheiro e metade
O senhor Correia tinha um banco corrido. Os sobas traziam suas mulheres e filhos. As crianças ficavam sentadas, as mulheres por trás, em pé e no meio o soba, impecavelmente fardado com capacete e tudo. Grandes fotos. O Correia oferecia as fotos. Mas em troca queria todo o café colhido nas aldeias. Ficou rico!
Ontem o Joe Biden fez de fotógrafo Correia. E João Lourenço pagou por aquele vídeo junto da fogueira na sala oval, todas as colheitas de Angola até 2027. Não sou eu que vou criticá-lo. As fotos e os filmes daquele momento caricato são a única coisa decente que o Presidente da República vai ter no seu currículo. Felizmente não associou a esposa, filhos e netos no negócio. Já estou a imaginar sua excelência, no dia seguinte à saída da Presidência da República, contemplando as fotos do sagrado momento. E vendo ininterruptamente o vídeo. Não devemos nunca estar contra a felicidade alheia.
A múmia fétida e putrefacta disse ao seu embasbacado cliente que Angola é o país mais importante de África. E João Lourenço rasgou um sorriso de orelha a orelha. Acreditou. Eu também acredito que tenho 20 anos e ando atrás das notícias em passo de corrida. Isso tem algum mal? Quando se trata do estado terrorista mais perigoso do mundo, tem. É péssimo acreditar no banditismo político.
O Biden daquele tempo criou a Libéria, um campo de concentração dos escravos libertados nos EUA. Os supremacistas brancos viram-se livres dos pretos excedentários. Esse presidente norte-americano disse que aquele era o país mais importante de África.
Os Biden que se seguiram rebentaram com o país africano “mais importante” e afogaram-no em inflação, desemprego, corrupção, miséria extrema e os demónios do tribalismo. Para submeterem os vizinhos Serra leoa e Guine Conacri, os sucessivos presidentes dos EUA arranjaram uns quantos Charles Taylor e avançaram para a guerra.
Um Biden menos apodrecido do que este disse ao ditador Mobutu que a República do Zaire era o mais importante país africano se ele matasse Lumumba e entregasse as riquezas do país. Todas as colheitas eternamente. Quando o barrete de onça deixou de servir, o estado terrorista mais perigoso do mundo mandou-o para Marrocos. Humilhado e abandonado. Para continuarem a roubar as riquezas da República Democrática do Congo, João Lourenço mandou tropa angolana para o Leste do país. Em troca deram-lhe o título de campeão da paz em África! Melhor que um barrete de onça. Mas o título de campeão da submissão assentava-lhe que nem um chapéu de coco.
O Bush convenceu os presidentes da Líbia e da Síria a alinharem com ele na destruição do Iraque, para o estado terrorista mais perigoso do mundo roubar o petróleo iraquiano. Mataram Sadam Hussein. E na hora certa mataram o Presidente Kadafi. Só não mataram o presidente da Síria, Bashar al-Assad, porque a Federação Russa e o Irão se opuseram.
O Presidente João Lourenço sabe quantos líderes africanos os EUA e seus aliados do ocidente alargado depuseram e mataram desde Lumumba? A lista é longa. O Presidente Laurent Gbagbo, da Costa do Marfim, até foi julgado (mas absolvido…) no Tribunal Pena Internacional. Quem cai em desgraça dos EUA está perdido. O melhor é começar as lições com o General Foge a Tempo.
EUA, grande parceiro dos africanos, deixou um rasto de morte, destruição e miséria extrema em todos os países que eram considerados os mais importantes de África pelo Biden de serviço. Alguns já se libertaram e outros sacodem o jugo. João Lourenço, em contramão, foi entregar o ouro ao bandido e agora Angola ficou com o humilhante estatuto de protectorado.
Hoje o genocídio da Faixa de Gaza recomeçou. O genocida Blinken foi ontem a Telavive dar ordens aos nazis para continuarem os massacres. Em poucas horas foram mortos 120 civis palestinos. Para uns há sanções. Outros recebem ordens para matar. A Coreia do Norte lançou um satélite e o Japão ampliou as sanções. O Irão vende drones e leva com sanções. A Federação Russa defende-se da ameaça que é a OTAN (ou NATO) e leva com sanções. A República Popular da China leva sanções porque sim.
Os nazis de Kiev recebem milhões para fazerem a guerra contra os russos até ao último ucraniano. Os nazis de Telavive cometem genocídio e são aplaudidos pelos supremacistas brancos. Isto vai acabar mal. As vítimas do genocídio, apartheid e da xenofobia são milhões de vezes mais do que os matadores. Já vi brancos mais arrogantes fugirem com as imbambas para Portugal! País vanguardista desde o caminho marítimo para a Índia. Agora estão a fabricar cuecas camufladas, de senhora, para Kiev. Xoxotas invisíveis russos derrotados!
* Jornalista
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