Daniel Oliveira* | TSF | opinião | Ouvir em TSF
No habitual espaço de opinião semanal na antena da TSF, Daniel Oliveira olha para a evolução da extrema-direita na Europa. O cronista defende que os "muçulmanos são o alvo preferencial do ódio" e que "o antissemitismo histórico que está no DNA da extrema-direita vai sendo abandonado em nome de novas vítimas", desde que exista "alguém para odiar e perseguir".
"Como antes perseguiu os judeus, a extrema-direita europeia diz combater os muçulmanos em nome do que chamam os valores europeus. Para não ficarem a pregar aos seus fanáticos religiosos que acham que a Europa é cristã, o que faz dos que não o são (como eu) europeus segunda, usam a defesa dos direitos das mulheres e dos homossexuais como argumento", afirma.
No entanto, Daniel Oliveira sublinha que, "quando o debate não é sobre muçulmanos, encontramos esta mesma extrema-direita na defesa de uma proteção legal exclusiva à família tradicional, onde a mulher ocupa o lugar que teve durante séculos".
"Ou na oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou nas campanhas pela invisibilidade da homossexualidade junto de crianças, como se o amor entre pessoas do mesmo sexo fosse menos natural e menos bonito do que o amor entre um homem e uma mulher, de que todas as crianças ouvem falar desde que nasceram", acrescenta.
O jornalista considera "interessante" ver como os extremistas de direita só se tornam feministas "se for para ser islamofóbica ou atacar a comunidade trans"; como só se tornam defensores dos direitos LGBT, "se isso estiver ao serviço da xenofobia", ou como só defendem a tolerância, "se isso estiver ao serviço do ódio".
"Uma ativista israelita pela paz contava-me há uns anos que, nas últimas décadas, houve um único momento em que religiosos muçulmanos, judeus e cristãos se juntaram na cidade de Jerusalém para tentar impedir a marcha do orgulho gay na cidade. Só em nome da intolerância, se conseguiram tolerar", nota Daniel Oliveira.
Para Daniel Oliveira, a extrema-direita compara-se aos islamistas políticos, que desprezam a laicidade do Estado, o respeito entre culturas e os direitos das mulheres e dos homossexuais. Todos estes valores "são apenas um pretexto para o ódio", conclui, "porque o ódio à diferença é o motor da extrema-direita".
*Texto: Maria Ramos Santos em TSF
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