terça-feira, 4 de abril de 2023

As areias movediças do Golfo Árabe anunciam um novo Médio Oriente -- Sahiounie

Steven Sahiounie* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

As areias movediças do Golfo Árabe podem se tornar sólidas como rocha em uma aliança em toda a região com o Irã, escreve Steven Sahiounie.

As areias movediças do Golfo Árabe podem se tornar sólidas como rocha em uma aliança em toda a região com o Irã. Essa nova aliança desafia a velha política de dividir e conquistar usada pelo Departamento de Estado dos EUA.

A reaproximação entre a República Islâmica do Irã e o Reino da Arábia Saudita pode transformar a região, após intermediada pela China em 10 de março, encerrando sete anos de tensões. As nações estão cientes de que há segurança nos números e força na unidade, em vez de ficar sozinha.

O Irã decidiu melhorar as relações com seus vizinhos árabes em vez de esperar que os EUA decidam renovar o acordo nuclear. A Arábia Saudita tomou sua própria decisão estratégica de não depender dos EUA para segurança. Essas duas estratégias uniram o Irã e a Arábia Saudita, com a China demonstrando sua capacidade de contornar os EUA, quando são os EUA que impedem a estabilidade no Oriente Médio.

“O recente diálogo bem-sucedido entre a Arábia Saudita e o Irã em Pequim ajudou a melhorar as relações bilaterais entre os dois países, o que fortalecerá a solidariedade regional e aliviará as tensões na região. A China apoiará ainda mais o processo”, disse o presidente chinês Xi Jinping ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (MbS) por telefone em 28 de março.

O acordo envolve o apoio da Arábia Saudita ao retorno do Irã ao acordo nuclear com o Ocidente, planos para acabar com a guerra no Iêmen , cooperação para estabilizar a Síria e fortalecimento de seus laços conjuntos na OPEP.

Angola | O ALTO PREÇO DA PAZ – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O pesadelo da guerra terminou com a morte de Jonas Savimbi. Por isso o país inteiro faz do 4 de Abril a grande festa. Para milhões de angolanos é como se fosse o dia do seu aniversário. Ontem como hoje há entre nós uma minoria pouco esclarecida saudosa do colonialismo, que serviu convictamente, como é o caso dos dirigentes da associação de malfeitores UNITA. Tal como serviu o regime de apartheid da África do Sul e está pronta a servir tudo e todos desde que estejam contra Angola e o povo Angolano. 

Esta minoria andou anos e criar em Luanda uma bomba atómica social. Organizações terroristas internacionais como a CIA executaram o mais terrível atentado contra os Direitos Humanos. As tropas do Galo Negro tornaram a vida impossível às populações das aldeias, vilas e cidades no interior do país, durante a guerra depois das eleições de 1992. As vítimas fugiram para Luanda, onde apenas existiam estruturas (precárias) para 500 mil habitantes. Hoje a capital tem quase dez milhões. Essa é a bomba humana pronta a explodir. 

Este crime contra a Humanidade foi cometido com o apoio de uma parte significativa das elites políticas e intelectuais portuguesas. Durante décadas apoiaram os crimes da UNITA. Já a ONU tinha aprovado pesadas sanções contra a organização de Savimbi e os seus dirigentes e Portugal era um paraíso para os sancionados. A imprensa portuguesa apresentava Savimbi como um herói. 

Nunca os Media portugueses referiram que Savimbi foi um dos carcereiros de Nelson Mandela. Ou pôs as suas armas ao serviço da sangrenta guerra colonial. Os dirigentes da UNITA andaram décadas por Lisboa a traficar e tratar das suas negociatas. Nunca a Procuradoria-Geral da República Portuguesa investigou os traficantes. Muito menos os raptores e assassinos de portugueses que viviam em Angola. Os criminosos de guerra alojados na UNITA foram promovidos a seus heróis.

OS MANTORAS DA LITERATURA ANGOLANA

Artur Queiroz*, Luanda

Um grupo liderado pelo sociólogo Paulo de Carvalho, presidente da Academia Angolana de Letras, foi ao Cemitério do Alto das Cruzes homenagear o poeta Viriato da Cruz. Entre os presentes etava o soldado motorista do RI20 (prémio nobel do oportunismo e do analfabetismo) e Fragasta de Morais. A TPA deu ampla cobertura ao acontecimento. Mostrou a campa, mostrou os homenageantes e ilustrou a peça com uma fotografia antiga de Mário Pinto de Andrade. O canal público de televisão não perde a mínima oportunidade para mostrar as suas habilidades na área da irresponsabilidade. O problema é que sem rigor não há jornalismo.

Fragata de Morais falou às massas e disse algo que parecendo inócuo, revela um iceberg de maldade. Disse sua excelência o embaixador reformado: “Viriato da Cruz foi secretário-geral do MPLA, muito antes do Agostinho Neto”. Estão a ver? Bom, mesmo bom era o Viriato. O Neto veio depois. A verdade é que Agostinho Neto nunca foi secretário-geral do MPLA logo a comparação só pode ser maldosa.

Um dia estava à conversa com Lúcio Lara e ele disse que nunca foi secretário-geral do MPLA mas até historiadores lhe atribuíam esse cargo: “O Lara aparece como secretário-geral nos períodos em que tivemos imensas dificuldades e problemas. O culpado era eu, pagava por todos os membros da direcção”.

Nada de falsificar a História. Por isso, é necessário esclarecer alguns aspectos do homenageado pelos Mantorras da Literatura Angolana. Viriato da Cruz é um poeta bissexto. Só escrevia no dia 29 de Fevereiro. Um dia quis saber junto de Carlos Ervedosa (foi ele que divulgou a obra do poeta de Porto Amboim) por que razão não era divulgada, mesmo clandestinamente, a produção actual do genial autor de “Namoro”. Resposta do Carlitos: “Tudo o que ele escreveu está publicado. Há poemas que não publicamos porque não tinham qualidade”. 

O que temos de Viriato da Cruz foi criado no final dos anos 40. Daí para cá ninguém conhece nada. Mas eu conheço uma peça. Durante dois anos ia todas as noites à Biblioteca Municipal da Câmara Municipal de Luanda (guarda todos os livros jornais e outras publicações oferecidos por Alfredo Troni) consultar a Imprensa do Século XIX. E fazia a recolha das crónicas de Ernesto Lara Filho que depois publiquei com o título “Crónicas da Roda Gigante”. Num jornal dos anos 40 encontrei um poema longo intitulado “Sá da Bandeira Pratinho de Porcelana”. Autor: Viriato da Cruz. Um a peça digna do soldado motorista do RI20 mas indigna do grande poeta e fundador do MPLA.

O QUE O OCIDENTE DEVE FAZER PARA SER COMPETITIVO EM ÁFRICA

Uma figura da oposição congolesa disse ao Ocidente o que ele deve fazer para permanecer competitivo na África

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Muitos ocidentais imaginam que seu bloco de fato pode subornar líderes africanos para acabar com a Entente Sino-Russo por um bilhão de ouro, encorajar golpes militares se isso falhar ou confiar nas Revoluções Coloridas como último recurso. Eles consideram condescendentemente os países africanos, seus governos e pessoas como objetos a serem manipulados, em vez de sujeitos independentes para cooperar como realmente são. Essa abordagem neocolonial é responsável por todos os seus fracassos estratégicos ao longo dos anos.

O Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA começou gradualmente a reconhecer que está perdendo influência na África para a Entente Sino-Russo , que pode acabar sendo um divisor de águas em sua competição da Nova Guerra Fria sobre a direção do sistema global sistêmico . transição . Mais informações sobre os conceitos anteriores podem ser obtidas revisando os hiperlinks incorporados na frase anterior, enquanto a presente peça se concentrará em chamar a atenção para o que pode ser feito realisticamente para mudar essas dinâmicas.

Muitos ocidentais imaginam que seu bloco de fato pode subornar os líderes africanos para acabar com a Entente em troca do Bilhão de Ouro, encorajar golpes militares se isso falhar ou confiar nas Revoluções Coloridas como último recurso. Eles consideram condescendentemente os países africanos, seus governos e pessoas como objetos a serem manipulados, em vez de sujeitos independentes para cooperar como realmente são. Essa abordagem neocolonial é responsável por todos os seus fracassos estratégicos ao longo dos anos.  

O que é urgentemente necessário para que o Bilhão de Ouro permaneça competitivo na África em meio ao crescente apelo da Entente e da Índia , que compartilham os mesmos objetivos multipolares, mas os abordam de maneiras diferentes, é finalmente tratar a África como igual com o respeito que ela merece. . Financiar “ONGs” e grupos de oposição para exercer falsa pressão “de baixo para cima” sobre eles, impedir as exportações agrícolas , ameaçar com sanções e travar uma guerra de informação apenas afastará esses países ainda mais.

FINLÂNDIA É OFICIALMENTE O 31º ESTADO-MEMBRO DA NATO

A adesão oficial de Helsínquia realiza-se no mesmo dia em que a NATO celebra 74 anos.

Finlândia já é o 31.º Estado-membro da NATO e a adesão foi oficializada com a entrega da documentação pelo secretário de Estado dos Estados Unidos da América (EUA), Antony Blinken.

"Com a entrega destes documentos, declaramos a Finlândia o 31.º Estado-membro da Aliança [Atlântica]", disse Blinken durante a cerimónia no quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em Bruxelas, na Bélgica, onde foi içada pela primeira vez a bandeira do país nórdico ao lado das bandeiras dos outros Estados-membros.

Os EUA são um dos países signatários do tratado que deu origem à Aliança Atlântica em 1949. Portugal também integra o grupo de 12 membros fundadores da NATO.

A adesão oficial de Helsínquia realiza-se no mesmo dia em que a NATO celebra 74 anos de existência.

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DINHEIRO PARA A GUERRA…

O orçamento francês para os exércitos aumentará. A lei de programação militar (LPM) 2024-2030, no valor total de 413 mil milhões de euros, contra 295 mil milhões da anterior, foi apresentada esta terça-feira, 4 de abril, em Conselho de Ministros.

Cartoon Movement | Marc Gonçalves - 4 de abril de 2023

QUAL É O PROBLEMA COM AS PENSÕES?

Michael Roberts [*]

As recentes manifestações maciças contra a administração Macron em França, forçadas através das chamadas reformas das pensões, revelam as tentativas determinadas dos governos pró-capitalistas em todas as grandes economias de cortar os salários reais quando somos velhos e já não podemos trabalhar.

O governo Macron forçou por decreto uma "reforma" que eleva a idade da reforma de 62 anos para 64 anos. Em Espanha, onde a idade da reforma foi fixada em 65 anos durante décadas, o governo está a optar por uma solução alternativa para o chamado problema das pensões. Vai aumentar as contribuições a partir dos rendimentos dos mais jovens com rendimentos mais elevados para pagar aos reformados mais velhos.

As pensões são realmente salários diferidos, deduções dos rendimentos do trabalho para pagar um rendimento decente quando as pessoas se reformam. Após décadas de trabalho (e exploração), os trabalhadores, homens e mulheres, devem ter o direito de parar e desfrutar da última década de vida sem labuta sem serem pobres. Literalmente, eles terão merecido. Mas o capitalismo no século XXI não pode "dar-se ao luxo" de pagar rendimentos decentes como pensões do Estado quando os trabalhadores se reformam. Porquê? Bem, os argumentos principais são vários.

Primeiro, as tendências demográficas, particularmente nas economias capitalistas avançadas, significam que mais pessoas estão a atingir a idade da reforma e menos pessoas estão em idade ativa. Assim, o argumento vai no sentido de que taxas mais elevadas de "dependência da idade" significam que as pessoas no trabalho têm de pagar mais em impostos para aqueles que não estão a trabalhar. Por exemplo, em Espanha, há três pessoas em idade ativa para cada reformado; em 2050 essa taxa de dependência será de apenas 1,7 para uma.

O segundo argumento é que a esperança de vida aumentou tanto e as pessoas estão muito mais saudáveis, que o "intervalo de anos" entre parar de trabalhar e morrer aumentou demasiado. Por exemplo, a esperança de vida em Espanha é de 83 – uma das mais elevadas do mundo. Assim, as pessoas deveriam trabalhar mais tempo a fim de reduzir esse fosso para onde estava antes.

A ironia cruel é que os cortes nas pensões que os governos francês e espanhol procuram impor por razões demográficas estão a verificar-se quando a esperança de vida nas grandes economias começou a diminuir. Na primeira década deste século, a esperança de vida aumentou em quase três anos a cada década. Mas agora a esperança de vida na reforma é dois anos inferior à expectativa anterior.

LER COMPLETO, COM GRÁFICOS, AQUI

-- em Resistir.info 

França: Luta contra reforma das pensões “só terá resultados se continuar sem recuos”

No décimo dia de mobilização ininterrupta contra a reforma das pensões, Paris voltou a encher-se de manifestantes. Reforçado pela participação do movimento estudantil e liceal, o protesto juntou 450 mil pessoas, segundo a CGT, e foi dispersado ao fim da tarde pela polícia de intervenção. Nova manifestação nacional já está marcada para dia 6.

João Biscaia | Setenta e Quatro | Reportagem

O cortejo vai animado. Entre palavras de ordem contra o presidente, a primeira-ministra e a polícia, as músicas que saem de grandes colunas montadas nas traseiras de carrinhas de caixa-aberta misturam-se em cacofonia com bombos, apitos e até trompetes e clarinetes. Há quem cante a Bella Ciao e quem dance a Freed From Desire.

O grosso da manifestação é composto pelas mais diversas unidades sindicais, divididas entre si por ofício. Trabalhadores ferroviários seguem atrás dos metalúrgicos e dos mineiros, seguidos, por sua vez, pelo bloco dos inverti-e-s, coletivo LGBTQIA+ anticapitalista, e por um outro dedicado à luta e união das mulheres trabalhadoras.

O cortejo, como lhe chamam em francês, saiu da Praça da República às 14 horas, encabeçado pela polícia. Cerca de duas centenas de agentes da Gendarmerie Mobile, subdivisão da Gendarmerie especializada em controlo de multidões, marcharam, em direção à Praça da Nação, à frente de 450 mil manifestantes — número calculado pela CGT, a principal confederação sindical francesa.

É o décimo dia de mobilização popular ininterrupto contra a reforma do sistema de pensões proposta pelo presidente Emmanuel Macron e imposta por decreto pelo governo de Élisabeth Borne. Paris voltou a sair à rua para contestar essa decisão. Reunindo menos gente que a manifestação de 23 de março, a marcha ficou marcada pela forte presença de jovens, desde estudantes liceais a estudantes universitários.

PORQUE É ERRADO PROCESSAR PUTIN -- Boaventura

Mandado de prisão do Tribunal de Haia não busca promover justiça – mas atender desejo de Washington. Decisão é assimétrica, diante de outras violações. Além disso, mina negociações de paz na Ucrânia e amplia risco de conflito global

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras | Imagem: Aleksei Nikolsky/Sputnik

O mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra o Presidente Vladimir Putin terá repercussões distintas das que são invocadas, tanto pelos EUA e aliados, como pela Rússia e aliados. Para os primeiros, Putin, que ainda não foi sequer acusado, é já um criminoso de guerra, um pária internacional, devendo ser preso na próxima oportunidade. Para os segundos, o mandado não tem qualquer valor jurídico e não terá qualquer eficácia, sendo apenas mais um ato de propaganda do Ocidente.

É impossível saber qual das duas leituras prevalecerá no futuro e, por isso, não me pronuncio sobre elas. Debruço-me sobre as repercussões observáveis a olho nu, e desde já. Enquanto fenômeno político, o mandado de captura é semelhante às sanções econômicas impostas à Rússia. As suas repercussões serão reais, mas não são as que oficialmente se propõem.

A primeira repercussão reside no seu impacto num qualquer processo de paz sobre a Ucrânia. Suspeitava-se que os EUA não estavam interessados em negociações de paz a curto prazo e acrescentava-se que o desinteresse era partilhado pela Rússia. A suspeita está hoje confirmada. Os EUA jogam tudo na queda de Putin. Como esta não é previsível, pelo menos a curto prazo, o povo ucraniano vai continuar a ser martirizado e os soldados ucranianos e russos vão continuar a morrer. Os possíveis e bem-intencionados mediadores internacionais podem, por agora, dedicar-se a outras tarefas mais realistas.

A segunda repercussão diz respeito ao impacto do mandado de captura no princípio da justiça universal de que a criação do TPI é uma das manifestações mais concludentes. Este mandado de captura significa o descrédito total deste princípio. A credibilidade do TPI estava afetada desde o início, quando nenhuma das grandes potências (EUA, China, Rússia) assinou o tratado que o fundou. Declararam alto e bom som que não se sentiam vinculados por qualquer decisão do TPI. Os EUA foram particularmente veementes nessa posição e, de fato, se atendermos aos países ou indivíduos que foram objeto de investigação por parte do TPI, verificaremos que nenhuma investigação foi aceito ou avançou quando os EUA entenderam que tal ia contra os seus interesses. Dois casos ilustram isso bem.

OS PORTUGUESES NÃO COMEM COMUNICAÇÃO

Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

A médio prazo, só uma boa governação garante vitórias eleitorais e, quando as coisas se complicam na governação, não ter uma boa comunicação é meio caminho andado para uma derrota eleitoral. Ainda assim, pensar que uma boa comunicação pode resolver o problema de uma má governação é o caminho mais rápido para colecionar derrotas. E, no entanto, é possível fazer ainda pior: deixar que seja a comunicação a governar.

Se a situação em que estamos hoje, do ponto de vista económico e social, se mantiver até ao final de 2023, é certo que o PS sofrerá uma pesada queda eleitoral nas Europeias de 2024. E a única coisa que lhe poderá servir de conforto é o PSD não conseguir vencer essas eleições. De igual forma, se as coisas começarem a melhorar, o anúncio da morte do PS vai revelar-se manifestamente exagerado.

Este preâmbulo importa na medida em que estamos perante um governo que parece ter-se rendido ao marketing. Não é o governo que resolveu reforçar a comunicação chamando os melhores, nem é o governo que também quer falar diretamente com as pessoas através das redes sociais ou o governo que sonha em ter uma equipa de comunicação tão boa e "tão profissional" como a da Moncloa ou do Eliseu. É o governo que toma decisões porque favorecem o marketing comunicacional. Por exemplo, inspeções da ASAE para fragilizar um determinado grupo que, mais tarde, há de ser convidado a fazer parte da solução de um problema de que esse grupo é visto como responsável. Se a solução desenhada vai ou não ser eficaz é, para o governo, de somenos. Este é um governo que nem se importa que lhe chamem desonesto por causa desta operação. Comeu e calou, porque o que tinha de ganhar já estava ganho. E é também o governo que faz "leis-cartaz" para misturar com leis que fazem falta, porque para avançar precisa de dar a sensação de estar a recuar.

O gabinete não deixa de produzir vídeos com slogans publicitários que, por serem políticos, não viralizam em lado nenhum, mas fazem caminho. E mostram trabalho. Nem vem daqui o mal ao mundo que o PS anunciava quando o governo de Santana Lopes quis criar o GIC (Gabinete de Informação e Comunicação) com um orçamento a rondar os dois milhões de euros. Quanto custará este?

A questão é que, quer no combate à inflação, quer na procura de uma solução para o problema da habitação, o governo sente-se incapaz, preso ao que lá fora se passar e submetido a uma forte vigilância da CE e do BCE. Resta-lhe o marketing, à espera de que cheguem melhores dias, para ir mantendo à tona as suas capacidades eleitorais. Não apenas pelo que dizem as sondagens, mas, sobretudo, pela desilusão que transparece no eleitorado de esquerda, o PS vai a caminho de viver o que viveram outros grandes partidos por essa Europa fora. Será que ainda vai a tempo de corrigir a trajetória? É pouco provável, mas para ser possível tem de se preocupar menos com a comunicação e marketing e mais com a governação.

*Jornalista

Portugal | A MARINHA DOS SÉCULOS XIX E XXI: VEJA AS DIFERENÇAS

Nestes dias, a propósito do navio Mondego, muito se tem falado do estado da nossa Marinha, e não só. Nesse sentido, sugerimos a leitura de Eça de Queirós para confirmar que, em mais de 130 anos, parece só terem mudado as moscas…

 A Marinha, segundo Eça de Queirós:

(...)

Mas, meus senhores, antes de tudo, nós não temos marinha! Singular coisa! Nós só temos marinha pelo motivo de termos colónias — e justamente as nossas colónias não prosperam porque não temos marinha! Todavia a nossa marinha, ausente dos mares, sulca profundamente o orçamento. Gasta 1159 000$000!

Que realidade corresponde a esta fantasmagoria das cifras? uns poucos de navios defeituosos, velhos, decrépitos, quase inúteis, sem artilharia, sem condições de navegabilidade, com cordame podre, a mastreação carunchosa, a história obscura. E uma marinha inválida. A D. João tem 50 anos, o breu cobre-lhe as cãs: o seu maior desejo seria aposentar-se como barca de banhos.

A Pedro Nunes está em tal estado, que, vendida, dá uma soma que o pudor nos impede de escrever. O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes — mas não pode pedir troco.

A Mindelo tem um jeito: deita-se. No mar alto, todas as suas tendências, todos os seus esforços são para se deitar. Os oficiais de marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais. A Mindelo é um esquife — a hélice.

NO ATOLEIRO EUROLUSO...

No atoleiro euroluso, à luz de um candeeiro apagado, um homem todo nu com uma faca na algibeira, lia o jornal sem letras (é o Curto do Expresso)

Esta é frase velhinha (que contém mais) como as prostituições de vendas de corpos, de mentes, de carácteres, de hediondas traições e de necessidades que continuam por explicar mas são próprias de quem não tem as mãos limpas nem opta por trabalhos limpos. Gentes assim, doutos prostituídos de canudos comprados, engravatados e inchados, são aquilo a que a plebe denomina em sussurro “que raio de cabeças, que merdosos, vígaros".

Por aqui temos muita sorte com a luz acesa, vestidos, algibeiras sem facas, lendo vários jornais com letras, sendo um deles o Curto do simpático tio Balsemão Impresa Bilderberg e o mais que vier e der jeito prá boa viduxa das elites e da democracia deles.

Bom dia. Vá adiante. Curta o Curto nesta espécie de vida Curta. Porque Curta, em tempos idos, era sinónimo de prostituta/o para não se ser mal educado/a. Como diz a tal da publicidade: “no meu tempo”. Era o tempo do fascista Salazar. Tempos e modos políticos, sociais e mais, que estão crescendo na realidade, enganosamente chamando-lhe democracia… Esses Curtos a quererem enganar os plebeus, esquecendo que alguns não é o todo. Pois. São imensos os que os topam.

O Curto, com letras, a seguir. Vale. Como dizia Forjaz de Sampaio: "até quando não presta é para nós uma grande lição". "Aprender, aprender sempre", disse outro. Vá saber quem, para aprender.

Mais um bom dia e um queijo acompanhado com pão e vinho alentejano. Depois, quando quiserem e puderem, deixem-se de prantar tão quedos. Convém. Omessa! Saibam ser alarves! Cristo também o foi!

MM | Redação PG 


A memória de Christine e como a comissão de inquérito à TAP terá muito a dizer sobre o futuro do PS

Eunice Lourenço, editora de política | Expresso (curto)

Antes de mais, um convite: Junte-se à Conversa com a equipa do Expresso, desta vez sobre “Sondagem: PS e PSD empatados. E agora?”. Hoje, dia 4 de abril, às 14h00. Inscreva-se aqui.

Bom dia

Sabia que tinha de escrever o Curto de 4 de abril, mas depois de um fim-de-semana de intensa vida social e numa segunda-feira com agenda muito cheia, estava esquecida dessa responsabilidade. Só quando a minha colega Salomé me enviou o mail com as propostas de podcasts (que pode ver mais abaixo) é que me lembrei: ahhhh tenho o curto de amanhã! A memória é assim: por vezes falha, por vezes é despertada por algo ou alguém.

No caso de Pedro Nuno Santos, que se tinha esquecido de ter autorizado uma indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis na sua saída de administradora da TAP, foi uma audição parlamentar de Christine Ourmières-Widener que o fez procurar uma mensagem esquecida na sua memória e no seu telemóvel. E perceber que, afinal, tinha dado o ok ao valor. E, em consequência da recuperação da sua memória, o seu secretário de Estado Hugo Mendes também recuperou a memória que ainda não estava bem desperta no primeiro depoimento que fez à Inspeção Geral de Finanças e que teve de alterar.

Esta terça-feira, Christine Ourmières-Widener volta ao Parlamento, agora no âmbito da comissão parlamentar de inquérito (CPI) e ninguém sabe que mais memórias poderá ela despertar. É a terceira audição desta CPI que, como já escreveu o Diogo Cavaleiro, tem mais de política do que de aviação. Uma comissão proposta pelo Bloco de Esquerda, que o PS viabilizou apertado pela crise política que levou à saída de Pedro Nuno Santos do Governo, e em que o PSD aposta para desgastar outro ministro e eventual candidato à sucessão de António Costa no PS: Fernando Medina, o ministro das Finanças, ilibado pela IGF, até porque nem sequer estava no Governo na altura da saída de Alexandra Reis da TAP, mas que a convidou para sua secretária de Estado do Tesouro.

Ontem, o líder social-democrata, Luís Montenegro, ao ministro das Finanças que tome uma posição sobre a permanência ou não do diretor financeiro da companhia aérea, que acusa de ter mentido na sua audição na comissão de inquérito. E mentir numa comissão de inquérito é como mentir em tribunal.

A audição da agora presidente demitida da TAP é a terceira e será imediatamente seguida, já amanhã, pela inquirição a Alexandra Reis. Será a primeira vez que vamos ouvir, de viva voz, as explicações de ex-administradora da TAP, ex-presidente da NAV e ex-secretária de Estado do Tesouro. Hão-se seguir-se as audições dos responsáveis políticos: Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ex-ministro e há muito candidato a candidato à liderança do PS, ambição que tem sofrido vários golpes no âmbito deste caso, mas que ainda não terá desaparecido. A imagem pública do ex-ministro levou um grande rasgão e também a sua imagem dentro do PS levaram um grande rasgão com este caso, mas Pedro Nuno Santos acredita que não está politicamente morto, pelo que a comissão de inquérito pode servir para se tentar reabilitar ou pode ainda piorar mais a sua imagem política. Já Medina, que nem estava no Governo quando aconteceu a negociação da saída de Alexandra Reis, tem no futuro da TAP uma das tarefas que podem determinar o seu desempenho nas Finanças.

A documentação que as várias partes – quem ainda tenta não perder tudo, quem tenta não perder nada e quem não tem nada a perder – têm feito chegar à comissão e aos jornalistas mostram como há uma luta política subjacente à procura de responsabilidades na transportadora aérea. E pode ser a memória de quem não tem nada a perder, Christine Ourmières-Widener, a despertar ainda mais documentos ou depoimentos esquecidos.

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