Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião
A médio prazo, só uma boa governação garante vitórias eleitorais e, quando as coisas se complicam na governação, não ter uma boa comunicação é meio caminho andado para uma derrota eleitoral. Ainda assim, pensar que uma boa comunicação pode resolver o problema de uma má governação é o caminho mais rápido para colecionar derrotas. E, no entanto, é possível fazer ainda pior: deixar que seja a comunicação a governar.
Se a situação em que estamos hoje, do ponto de vista económico e social, se mantiver até ao final de 2023, é certo que o PS sofrerá uma pesada queda eleitoral nas Europeias de 2024. E a única coisa que lhe poderá servir de conforto é o PSD não conseguir vencer essas eleições. De igual forma, se as coisas começarem a melhorar, o anúncio da morte do PS vai revelar-se manifestamente exagerado.
Este preâmbulo importa na medida em que estamos perante um governo que parece ter-se rendido ao marketing. Não é o governo que resolveu reforçar a comunicação chamando os melhores, nem é o governo que também quer falar diretamente com as pessoas através das redes sociais ou o governo que sonha em ter uma equipa de comunicação tão boa e "tão profissional" como a da Moncloa ou do Eliseu. É o governo que toma decisões porque favorecem o marketing comunicacional. Por exemplo, inspeções da ASAE para fragilizar um determinado grupo que, mais tarde, há de ser convidado a fazer parte da solução de um problema de que esse grupo é visto como responsável. Se a solução desenhada vai ou não ser eficaz é, para o governo, de somenos. Este é um governo que nem se importa que lhe chamem desonesto por causa desta operação. Comeu e calou, porque o que tinha de ganhar já estava ganho. E é também o governo que faz "leis-cartaz" para misturar com leis que fazem falta, porque para avançar precisa de dar a sensação de estar a recuar.
O gabinete não deixa de produzir vídeos com slogans publicitários que, por serem políticos, não viralizam em lado nenhum, mas fazem caminho. E mostram trabalho. Nem vem daqui o mal ao mundo que o PS anunciava quando o governo de Santana Lopes quis criar o GIC (Gabinete de Informação e Comunicação) com um orçamento a rondar os dois milhões de euros. Quanto custará este?
A questão é que, quer no combate à inflação, quer na procura de uma solução para o problema da habitação, o governo sente-se incapaz, preso ao que lá fora se passar e submetido a uma forte vigilância da CE e do BCE. Resta-lhe o marketing, à espera de que cheguem melhores dias, para ir mantendo à tona as suas capacidades eleitorais. Não apenas pelo que dizem as sondagens, mas, sobretudo, pela desilusão que transparece no eleitorado de esquerda, o PS vai a caminho de viver o que viveram outros grandes partidos por essa Europa fora. Será que ainda vai a tempo de corrigir a trajetória? É pouco provável, mas para ser possível tem de se preocupar menos com a comunicação e marketing e mais com a governação.
*Jornalista
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