quinta-feira, 25 de maio de 2023

EUA | HENRY KISSINGER, CRIMINOSO DE GUERRA – AINDA FORAGIDO AOS 100 ANOS

Agora sabemos muito sobre os crimes que ele cometeu enquanto estava no cargo, desde ajudar Nixon a inviabilizar as Negociações de Paz de Paris e prolongar a Guerra do Vietnã até dar luz verde à invasão do Camboja e ao golpe de Pinochet no Chile. Mas sabemos pouco sobre suas quatro décadas na Kissinger Associates.

Greg Grandin* | The Nation | # Traduzido em português do Brasil

No escândalo de Watergate Henry Kissinger deveria ter sido incriminado com o resto deles: Haldeman, Ehrlichman, Mitchell, Dean e Nixon. Suas impressões digitais estavam por todo o Watergate. No entanto, ele sobreviveu – em grande parte jogando com a imprensa.

Até 1968, Kissinger tinha sido um republicano de Nelson Rockefeller - embora também tenha servido como conselheiro do Departamento de Estado no governo Johnson. Kissinger ficou chocado com a derrota de Richard Nixon contra Rockefeller nas primárias, de acordo com os jornalistas Marvin e Bernard Kalb. "Ele chorou", escreveram. Kissinger acreditava que Nixon era "o mais perigoso, de todos os homens que concorrem, para ter como presidente".

Não demorou muito, porém, para que Kissinger abrisse um canal de apoio ao povo de Nixon, oferecendo-se para usar seus contatos na Casa Branca de Johnson para vazar informações sobre as negociações de paz com o Vietnã do Norte. Ainda professor de Harvard, ele lidou diretamente com o conselheiro de política externa de Nixon, Richard V. Allen, que em entrevista concedida ao Miller Center, da Universidade da Virgínia, disse que Kissinger, "por conta própria", se ofereceu para repassar informações que havia recebido de um assessor que participava das negociações de paz. Allen descreveu Kissinger como agindo de forma muito capa e punhal, ligando para ele de telefones públicos e falando em alemão para relatar o que havia acontecido durante as negociações.

No final de outubro, Kissinger disse à campanha de Nixon: "Eles estão estourando o champanhe em Paris". Horas depois, o presidente Johnson suspendeu o atentado. Um acordo de paz poderia ter empurrado Hubert Humphrey, que estava se aproximando de Nixon nas pesquisas, para o topo. O povo de Nixon agiu rapidamente; eles instaram os sul-vietnamitas a atrapalhar as negociações.

Por meio de escutas e interceptações, o presidente Johnson soube que a campanha de Nixon estava dizendo aos sul-vietnamitas "para aguentar até depois da eleição". Se a Casa Branca tivesse vindo a público com essa informação, a indignação também poderia ter balançado a eleição para Humphrey. Mas Johnson hesitou. "Isto é traição", disse, citado no excelente Chasing Shadows: The Nixon Tapes, de Ken Hughes, The Chennault Affair e The Origins of Watergate. "Abalaria o mundo."

Johnson ficou em silêncio. Nixon venceu. A guerra continuou.

Aquela surpresa de outubro deu início a uma cadeia de eventos que levaria à queda de Nixon.

Decisão dos F-16 de Biden para a Ucrânia é um vôo de fantasia, significando desespero

Biden está agindo duro e está mais uma vez escalando de forma imprudente a guerra com a Rússia com sua última jogada no envio de F-16.

Finian Cunningham* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Não é coincidência que o presidente dos EUA, Joe Biden, tenha feito uma reviravolta brusca para enviar caças F-16 para a Ucrânia no mesmo fim de semana em que o regime de Kiev apoiado pela OTAN acabou de perder a batalha estratégica por Artyomovsk (Bakhmut).

Lembre-se de que Biden disse enfaticamente não ao fornecimento do avião de guerra americano para a Ucrânia, em parte por preocupação de não antagonizar a Rússia.

A batalha pela cidade central de transportes na região de Donbass já durava oito meses. Alguns comentaristas compararam a luta crucial por Artyomovsk – um “moedor de carne” – a Stalingrado na Segunda Guerra Mundial, que em grande parte determinou a vitória final do Exército Vermelho Soviético sobre a Alemanha nazista.

As forças russas alegaram ter finalmente assumido o controle total de Artyomovsk em 20 de maio, apesar das negativas de Kiev e da relutância da mídia ocidental em admitir a realidade. De fato, a implacável narrativa ocidental da desafiadora Ucrânia colando-se aos russos também é uma baixa aqui, ensanguentada em uma maca, assim como toda a suposta autoridade dessa mesma mídia (também conhecida como serviço de propaganda ocidental).

Esta grande derrota para o regime de Kiev no fim de semana derruba completamente Washington e as supostas proezas da OTAN. O governo Biden financiou as forças do presidente Vladimir Zelensky com US$ 38 bilhões em ajuda militar nos últimos 15 meses. Outros membros da OTAN, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Polônia também bombearam a Ucrânia com todos os tipos de armamento avançado.

A derrota das forças de Zelensky em Artyomovsk é uma derrota da aliança da OTAN liderada pelos Estados Unidos.

Esse golpe embaraçoso explicaria a reviravolta de Biden agora dando sinal verde para os caças F-16. O anúncio visa mudar as manchetes de uma derrota militar crucial.

EUA | Especialistas em segurança nacional: Guerra na Ucrânia é um "desastre absoluto"

Os signatários dizem que o conflito será "nosso desfazimento" se não nos "dedicarmos a forjar um acordo diplomático que impeça a matança".

Blaise Malley | Responsible Statecraft | # Traduzido em português do Brasil

Uma carta aberta pedindo o fim diplomático rápido da guerra na Ucrânia foi publicada na terça-feira no New York Times. Os 14 signatários da carta consistiam principalmente de ex-oficiais militares dos EUA e outros funcionários de segurança nacional, incluindo Jack Matlock, ex-embaixador de Washington na União Soviética; Ann Wright, coronel reformada do Exército dos EUA e ex-diplomata; Matthew Hoh, ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais e funcionário do Departamento de Estado; e o coronel Lawrence Wilkerson, que atuou como chefe de gabinete do secretário de Estado Colin Powell.

Muitos são críticos de longa data da política externa dos EUA e das políticas pós-9/11.

A carta chama a guerra de "desastre absoluto" e adverte que "a devastação futura pode ser exponencialmente maior à medida que as potências nucleares se aproximam cada vez mais da guerra aberta".

Embora condene a "invasão e ocupação criminosas" de Vladimir Putin, a carta, que observa as invasões em série da Rússia por adversários estrangeiros, encoraja os leitores a entender a guerra "pelos olhos da Rússia".

"Na diplomacia, deve-se tentar ver com empatia estratégica, buscando entender os adversários", diz a carta. "Isso não é fraqueza: é sabedoria."

"Desde 2007, a Rússia alertou repetidamente que as forças armadas da Otan nas fronteiras russas eram intoleráveis – assim como as forças russas no México ou no Canadá seriam intoleráveis para os EUA agora, ou como os mísseis soviéticos em Cuba eram em 1962", diz a carta. "A Rússia ainda destacou a expansão da Otan na Ucrânia como especialmente provocativa."

KIEV NÃO DEIXA ESPERANÇA DE ATACAR OS FLANCOS RUSSOS - com vídeo

As tentativas dos militares ucranianos de mover os combates para o território da Rússia falharam

South Front | # Traduzido em português do Brasil

Após seu ataque na região de Belgorod, os militares ucranianos ganharam manchetes na mídia, mas sofreram pesadas perdas no campo de batalha. Equipamentos ucranianos quebrados, incluindo muitos veículos blindados americanos, e os corpos de dezenas de combatentes ucranianos permaneceram em território russo.

Como resultado do ataque, nenhum objetivo militar foi alcançado, mas os civis sofreram. Pelo menos um homem foi morto pelos sabotadores na aldeia de Kozinka. Um total de 13 civis ficaram feridos.

Os bombardeios de artilharia contra assentamentos fronteiriços continuaram e, à noite, drones ucranianos atacaram instalações civis com artefatos explosivos. A maioria deles foi interceptada, mas pelo menos um chegou à cidade de Belgorod e jogou explosivos na estrada, explodindo um carro civil.

Além disso, outras tentativas dos militares ucranianos de romper a fronteira russa nas áreas de Gorky, Tsapovka e Shchetinovka, na região de Belgorod, foram registradas. Guardas de fronteira russos repeliram os ataques e atingiram as unidades ucranianas em retirada com fogo de artilharia.

Os militares ucranianos estão movendo reforços para a fronteira do estado com a Rússia. As tentativas de atacar territórios russos provavelmente continuarão, principalmente com o objetivo de desviar a atenção da direção principal da contraofensiva ucraniana no Donbass.

O MOMENTO DA VERDADE NA UCRÂNIA

Thierry Meyssan*

Desde 24 de Fevereiro de 2022, o mundo tem os olhos virados para o conflito ucraniano. Os Ocidentais apoiam financeiramente Kiev, fornecem-lhe quantidades inacreditáveis de armas e de munições, mas velam a não se implicar directamente no teatro de operações. Moscovo mantêm a paciência e finge não ver os conselheiros militares estrangeiros presentes no terreno. Chegamos a um ponto de viragem onde os Ocidentais poderiam vir a ser precipitados na guerra por uma utilização deliberada das suas armas contra a Rússia, no território desta antes de 2014. É por isso que seis Estados da UE recomendam subitamente negociar a paz e duas missões de bons ofícios foram postas em marcha pela China e pela União Africana.

esde Setembro de 2022, quer dizer, desde há 7 meses, as tropas de Kiev apenas travam combates em Kharkov e Bakhmut/Artemovsk. A primeira cidade não faz parte do Donbass. Ela não é reivindicada pela República de Donetsk, aderente à Federação da Rússia. O confronto foi ali, pois, rápido. O Exército russo retirou de lá. Pelo contrário, Bakhmut/Artemovsk está situado na zona de cultura russa. O Exército russo, portanto, resiste. Durante o inverno, a batalha transformou-se em guerra de trincheiras, tão mortífera quanto a de Verdun. De tal modo que agora todo o mundo espera, pelo menos no Ocidente, que a meteorologia permita a Kiev realizar uma contra-ofensiva.

Note-se bem que ninguém espera que a Rússia prossiga a sua ofensiva sobre Kiev. Com efeito, toda a gente percebeu que Moscovo (Moscou-br) nunca desejou invadir a Ucrânia e tomar a sua capital, mas exclusivamente o Donbass e agora a Novorossia; duas zonas de cultura russa cujos habitantes reclamam não mais ser ucranianos e sim desejar ser russos. No entanto, os políticos e os média (mídia-br) ocidentais continuam a denunciar a « invasão » russa da Ucrânia.

A HIPOTÉTICA CONTRA-OFENSIVA

A famosa contra-ofensiva devia começar em Abril. Fala-se agora do fim de Maio. Kiev garante que este adiamento é imputável à dificuldade de receber armas ocidentais. Só se devem lançar as operações quando todo o material estiver no terreno, a fim de minimizar as perdas humanas. Ora, nunca na História se haviam dado tantas armas a um Estado para travar uma guerra.

A menos que continue o que denunciámos no início da guerra : durante os primeiros meses, três quartos do material enviado do Ocidente eram desviados para o Kosovo e para a Albânia a fim de alimentar outros teatros de operações, no Médio-Oriente e no Sahel. Uma outra hipótese é que hoje o Exército russo destrua metodicamente o material à chegada, antes de ele ser distribuído às unidades combatentes.

De qualquer modo, a retórica da contra-ofensiva só se aplica ao Exército ucraniano, não à população. Os média da OTAN pararam de falar sobre a « valorosa resistência do povo ucraniano » : não há nenhuma acção significativa que tenha sido tomada nesse sentido nem na Crimeia, nem no Donbass, nem na Novorossia. Fala-se de acções de sabotagem das Forças Especiais ucranianas nos territórios russos de antes de 2014, mas não de acções da Resistência nos que se ligaram à Federação depois.

IMPRENSA E POLÍTICA

Allan McDonald, EUA | CartoonMovement

Jornalismo ético em tempos de mentiras

CRISE, O ESCUDO NEOLIBERAL

Há décadas, o financismo propaga o pânico do colapso da economia mundial. Assim, ele receita a austeridade, chantageia governos e implode direitos, sob a narrativa de “decisão técnica”. A ameaça neoliberal de rupturas é apenas um modo de dominação

Luiz Marques, no Terapia Política | em Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

No Dicionário do pensamento social do século XX, organizado por William Outhwaite e Tom Bottomore, editado em Oxford e vertido três anos depois para o português (1996), há um verbete sobre “crise”. Nele se lê: “em toda crise, os envolvidos confrontam-se com a questão hamletiana, ser ou não ser”. Em grego, a palavra krisis não distingue entre crise e crítica. A duplicidade de sentido ao descrever um impasse manteve-se, no campo da política. A junção de significados remete a eclosão do dilema ao juízo de uma situação crítica. Não existe crise sem um discurso sobre crise.

“O diagnóstico de crise representa uma vigorosa posição explicativa. Ele não visa uma ‘filosofia da história’, mas constrói hipoteticamente uma história capaz de funcionar como justificativa por ações políticas para os que vivenciam a crise”. Em tal acepção, expõe a agonia de uma totalidade histórica que exige uma opção sobre o que é desejável e o que não é. Subsiste algo de muito desafiador nas escolhas, pelo que trazem embutido as configurações inovadoras e nunca experimentadas no real.

O conceito que exprime a crise na sociedade capitalista foi formulado por Karl Marx, a partir do construto de “contradição” entre as classes sociais – burguesia vs. proletariado – que não podem resolver a equação em um sistema fechado. A bipolaridade dialética atravessa, em simultâneo, as individualidades com protagonismo na luta de classes. A lenda sobre Creonte e Antígona traduziu os grandes conflitos da antiguidade. Ele, ao exercitar a liberdade em circunstâncias concretas, no limite da lei. Ela, ao personalizar o absurdo sem medir a consequência dos atos. Na frequência sonar de zumbis, é a alegação dos terroristas do 6 de janeiro (1921) em Washington ou do 8 de janeiro (2023) em Brasília. Acrescente-se a relação contraditória entre a sociedade e a natureza. Num crescendo, as tensões conduzem a um teatro trágico e ao paroxismo que põe em risco a sobrevivência humana.

Portugal | O ENGENHO NO CAOS

Cristina Figueiredo, editora de política da SIC | Expresso (curto)

António Costa surgiu ontem na Assembleia da República aparentemente muito preocupado com o “vírus do populismo”. “A melhor forma de combater o populismo é não imitarmos o populismo”, atirou ao líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento. E numa resposta a Rui Tavares, que lhe chamara a atenção para o risco do país se tornar rapidamente “num lamaçal, num charco cada vez mais pequeno” perante as polémicas que têm marcado a governação no último ano, o primeiro-ministro socorreu-se de um livro publicado em Portugal este mês (“Os engenheiros do caos”, do ensaísta italiano Giuliano da Empoli) para admoestar o deputado do Livre pelo uso de “vocabulário” que, como se poderá ler na obra citada, “é uma forma essencial de difusão do vírus do populismo”.

Não li (ainda, mas fiquei com vontade) este “Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições”. Mas fui a correr ler a sinopse, que começa por esta impressiva citação de Mark Twain: “Uma mentira pode dar a volta ao mundo no mesmo tempo que a verdade leva para calçar seus sapatos.”

Depois, voltei às minhas notas sobre o debate desta quarta-feira para poder escrever aqui sobre as mais de três horas em que Costa esteve sob o escrutínio dos deputados - muito apertado na primeira hora, mais lasso nas seguintes - e resistiu estoicamente a esclarecer o que a oposição mais queria saber mas que, do seu ponto de vista, são “só pormenores que animam uma novela”: afinal, foi ou não o secretário de Estado adjunto António Mendonça Mendes quem sugeriu ao ministro das Infraestruturas e/ou à sua chefe de gabinete que ligassem para o SIS na noite em que os serviços secretos foram ter com Frederico Pinheiro, o adjunto exonerado de João Galamba, para recuperar o tal computador contendo “informação sensível”?

“Cinjamo-nos aos factos”, respondeu o primeiro-ministro por mais do que uma vez. E os factos são, mais uma vez do seu ponto de vista: houve um desaparecimento de documentos classificados (“a palavra que eu utilizaria seria roubo mas cabe às autoridades competentes qualificarem”), manda o protocolo que esse desaparecimento deva ser comunicado e que as autoridades ajam rapidamente. “Não vejo qualquer tipo de ilegalidade”, disse, reiterando que a chefe de gabinete de João Galamba “fez bem” em ligar para o SIS.

Já antes do debate com o PM, o partido do Governo chumbara o pedido da Iniciativa Liberal para a audição de Mendonça Mendes na Comissão de Assuntos Constitucionais (levando os liberais a avançar para uma audição potestativa). Após o debate, o PS reiterou a indisponibilidade para satisfazer a curiosidade da oposição e indeferiu os requerimentos para que António Costa, Mendonça Mendes, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e os responsáveis da PSP, SIS e SIRP fossem ouvidos no âmbito da comissão de inquérito à TAP. Dia 14 de junho serão discutidas as propostas (de IL e Chega) para constituição de uma comissão de inquérito à atuação dos Serviços de Segurança neste caso e tudo leva a crer que também não passarão.

Regresso aos “engenheiros do caos” e à frase de Mark Twain. Empoli podia ter citado outros clássicos. Por exemplo, Jonathan Swift: “O meio mais eficaz para destruir uma mentira consiste em opor-lhe uma outra mentira”. Ou Nicolau Maquiavel: “os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades do momento que quem engana encontra sempre quem se deixe enganar”.

O REITOR DA CAÇA ÀS BRUXAS EM COIMBRA

O reitor russófobo, antidemocrático, anticonstitucional e, provavelmente, o mais que dele se diz e escreve

O caso não foi investigado, não foi dada oportunidade ao acusado de se defender, e os alunos inquiridos pelo jornal Público negaram que Vladimir Pliassov difundisse propaganda nas aulas. No entanto, "o reitor Amílcar Falcão demitiu o professor na manhã seguinte, como se fosse proprietário de uma universidade com séculos de existência", condena Daniel Oliveira.

Daniel Oliveira | TSF | opinião

É habitual em todas as guerras: "mesmo quando se está do que se pensa ser o lado certo da História, a generalização xenófoba vem sempre ao de cima". No caso da guerra na Ucrânia, "afloraram-se por essa Europa, sinais de russofobia", aponta Daniel Oliveira.

"Este clima instalou-se, naturalizou-se, e mais de um ano depois da guerra, coisas impensáveis são tratadas como normais." É o caso da demissão do antigo diretor do Centro de Estudos Russos, Vladimir Pliassov, que viu o seu vínculo à Universidade de Coimbra terminado na sequência de acusações de "propaganda russa", considera o jornalista no seu espaço de opinião semanal na antena da TSF.

Depois de dois ucranianos terem publicado num jornal local um artigo sobre este professor russo, que vive em Portugal desde 1988, o artigo foi citado na SIC pelo comentador José Milhazes e republicado no Observador. Vladimir Pliassov foi acusado de manter "ligações aos serviços secretos de Moscovo" e "as provas apresentadas são fotografias do professor no Kremlin em 2017, com centenas de pessoas a ouvir um discurso do Presidente do país; uma fotografia no centro de estudos com caras de dezenas de escritores russos, alguns apoiantes da invasão; símbolos nacionais russos proibidos em países com justificáveis más relações com a Rússia, referências à Igreja russa; e fotos de regiões de maioria russófona na Ucrânia."

"Nenhuma destas coisas faz deste professor espião ou sequer agente de Putin", aponta Daniel Oliveira. "Independentemente das posições do professor em relação à invasão russa, que provavelmente serão semelhantes à da maioria dos russos".

O caso não foi investigado, não foi dada oportunidade ao acusado de se defender, e os alunos inquiridos pelo jornal Público negaram que Vladimir Pliassov difundisse propaganda nas aulas. No entanto, "o reitor Amílcar Falcão demitiu o professor na manhã seguinte, como se fosse proprietário de uma universidade com séculos de existência", condena Daniel Oliveira.

Para o comentador, "há uma tentativa de importar uma caça às bruxas por delito de opinião, que até se pode perceber num país em guerra, mas é impensável em Portugal". "Portugal apoia, e bem a resistência ucraniana, mas não está - nem ela nem a aliança militar a que pertence - em guerra", lembra.

E "mesmo que estas pessoas apoiassem a Rússia, a sua voz não podia ser suprimida", defende Daniel Oliveira. "Quando a exclusão ideológica chega à academia, preparemos-mos para o pior."

Houve um tempo em que os reitores afastavam professores por delito de opinião. Esse tempo acabou em Portugal há meio século, perdurando a Rússia de Putin, a que os ucranianos heroicamente resistem".

Em Portugal, o "autoritarismo expedito do reitor não tem lugar", destaca Daniel Oliveira, citando o artigo 13º da Constituição da República Portuguesa:

"Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas."

É preciso repor a "legalidade democrática" na Universidade de Coimbra, apela Daniel Oliveira. E lembra: "É exatamente por ela que combatemos os Vladimir Putin deste mundo".

*Título original em TSF: CAÇA ÀS BRUXAS EM COIMBRA

Na imagem: O reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, como ditador decide inconstitucionalmente expulsar um professor russo denunciado por dois alunos ucranianos, alegadamente simpatizantes nazis, com falsidades que colaram como mosca no mel na demonstrada russofobia de Amílcar Falcão, comprovado adepto de inconstitucionalidades, antidemocracia e, falta saber, talvez simpatizante do nazi-fascismo ao modo do “herói” Bandera das SS de Hitler atualmente tão popular entre os ukronazis na Ucrânia e refugiados em Portugal. - Foto em Diário de Aveiro - (PG)

Ler em Página Global:

O terrorismo e as táticas nazis de alguns ucranianos em Portugal

Portugal | A VOZ DA EXPERIÊNCIA

Henrique Monteiro | Henricartoon

Angola | O PINTOR RESSUSCITADO DO ESQUECIMENTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A crónica é uma paixão. Mas também pode ser uma fraqueza de quem não é capaz de criar Literatura. Entre arte e informação, os cronistas escolhem extravasar os sentimentos em palavras alinhadas no modelo da mensagem informativa. Sou repórter por nascimento e cronista pelo coração. Mas não de geração espontânea. Ganhei gosto pelo género lendo monumentais textos de Ernesto Lara Filho e Bobela Mota. Na reportagem segui sempre os ensinamentos do maior dos maiores, o siripipi de Benguela que tanto gostava de fazer incursões ao Lobito e à Catumbela. Esse mesmo, Mano Arnesto.

As minhas crónicas já salvaram vidas dos outros e a minha. A cobertura que fiz da tomada de posse do Governo de Transição, no final de Janeiro de 1975, salvou a vida ao general Nataniel Mbumba, preso por agentes secretos de Mobutu na escadaria do Palácio da Cidade Alta. Denunciei o facto no jornal português Diário de Notícias e na Emissora Oficial de Angola (RNA). De Lisboa chegaram ordens, dadas pelo Presidente Costa Gomes, para resgatarem imediatamente o líder dos “gendarmes catangueses”, o que foi feito, com sucesso, pelo coronel paraquedista Heitor Almendra, responsável pela segurança e a ordem em Luanda.

O poeta e jornalista António Cardoso foi raptado por tropas de Mobutu e um dirigente da FNLA no seu local de trabalho, a Emissora Oficia de Angla (RNA). Os meus editoriais explosivos e incendiários mobilizaram toda a classe e salvaram-lhe a vida. O mesmo coronel Heitor Almendra foi libertá-lo à sede central da FNLA na Avenida Brasil. 

Um dia escrevi uma crónica sobre os bailes no Sporting da Maianga. Do melhor que existia na Luanda asfaltada. O título do texto era “Cuidado com o Cão e Comigo”. Contei a história da Miss Maianga, uma mulher do outro mundo de tão bela e simpática. Naquelas festas os basquetebolistas, altos e espadaúdos, tinham todo o sucesso junto das damas. Eu ficava sempre por baixo. Farto dos insucessos fui comprar um casaco fardex de linho branco sujo e apresentei-me no salão. Os basquetebolistas encomendavam-me cervejas e gasosas, confundiam-me, propositadamente, com os criados de mesa.

Convidei a Miss Maianga para dançar o xaxado e ela aceitou. Acabou a música e tocou uma rumba. Continuámos a dançar. Depois um bolero di lento, mais romântico do que eu. E nós dançando colados. A mamã da Miss Mainga bateu-me no ombro e rosnou: - Larga a menina ó desencasacado. E eu larguei. A senhora parecia um leão da Rodésia mostrando os dentes. 

A mãe voltou a rosnar: Não estejas embeiçada por este desencasacado vadio! Ela corou. Olhou-me com ternura e pôs os olhos no chão. Ficámos namorados!

A leoa perseguia-me e um dia disse-lhe: Perdeu o letreiro cuidado com o cão! Volte a colá-lo na testa. Ela ficou furiosa e indultou-me. Retirei-me mas ainda atirei: Tenha cuidado comigo sou mais feroz que o cão! 

A Miss Maianga casou com um tropozoide capitão da tropa. Quando ele ia para o mato matar camponeses dava-lhe murros nos olhos. Ela ficava toda negra na cara e não saía à rua…

O tropozoide foi destronado (estava sempre no mato a matar camponeses…) e ela depois amigou com um funcionário do Banco de Angola. Tiveram quatro filhos e foram muito felizes.

A crónica foi publicada no Jornal de Notícias do Porto. No dia seguinte fui chamado pela segurança à portaria, alguém queria falar comigo. Desci e vi uma mulher pelo menos 100 pontos mais bela do que a Miss Maianga. Apresentou-se como perita em Letras e atirou: - Gostei muito da sua crónica, queria conhecê-lo. Está disponível para jantar comigo hoje?

Eu respondi com ar grave e pose importante: Lamento, mas só aceito convites para dormir com pequeno-almoço incluído.

A beldade pediu um papel e uma esferográfica ao segurança de serviço, escreveu o seu endereço e retirou-se com uma deus muito alegre. Uma paixão. Fui habitar a sua casa e levei a minha Hermes Baby. No início tudo bem. No terceiro dia, levantou-se ensonada e disse com a voz entaramelada: Meu amor, vem para a cama, é tão tarde…

Às quatro da manhã regressava à sala e dizia agreste: Não se pode dormir nesta casa. Vem para a cama!

Às seis da manhã a beldade berrava: Isto é uma casa de gente, se queres fazer barulho vai para a garagem. 

Isto da escrita é mesmo assim há o gosto e o desgosto. Ao nono dia fui despejado mas continuei a escrever cartas de amor para a minha paixão. 

Anos mais tarde, andava de reportagem e encontrei num largo do Cadaval o pintor Roberto Silva, aquele que considero um dos maiores artistas plásticos de Angola, no  primeiro lugar do pódio (ex aequo) com Julião Félix Machado (séculos XIX e XX), ZAN e António Ole (são os quatro mestiços…). Quando chegou de Angola, em 1976, foi alojado pelo Arménio Ferreira nas instalações do Órgão Coordenador do MPLA para a Europa, em Lisboa. Mas depois chegaram cadetes da Marinha que aos fins-de-semana iam para o mesmo espaço. Eles jovens sedentos de farra. Ele velho a precisar de espaço para pintar. Acabou por sair. Familiares do Conde Paço D’Arcos, seu mecenas, levaram-no para um palacete no Cadaval.

Que se lixe a reportagem! Passámos o resto do dia à bebida e à conversa. Bebemos vinho da região, daquele que sai de uma torneira em madeira, directamente do barril. Até faz mijar azul! E o Roberto desenhava os aperitivos no toalhete de papel, usando os dedos, cinza e vinho. Guardei esses toalhetes alguns anos mas depois perdi-me deles. Roberto, tens saudades de Luanda? Resposta: És mesmo quadrado! Nós nunca saímos de Luanda!

Escrevi uma crónica sobre o nosso encontro, que publiquei no Jornal de Notícias do Porto. Sabem o que deu? A Câmara Municipal do Cadaval, através da vereação da Cultura, acaba de publicar um livro sobre Mestre Roberto Silva tendo como pista a crónica. Já ganhei o meu pedaço de pão.

Espero que a minha crónica de ontem, onde demonstrei a ilegalidade da prisão do empresário Carlos São Vicente também dê a sua libertação. Leiam com atenção. Libertem o filho do meu mestre, jornalista Acácio Barradas. Ele está inocente! A acusação é falsa. O julgamento ilegal!

* Jornalista

PAI -- Terra Ranka exige a PR que pare "de interferir na campanha eleitoral"

GUINÉ-BISSAU

A coligação eleitoral Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) -- Terra Ranka exigiu ao Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, que pare "de interferir na campanha eleitoral" e cumprir a lei, numa carta aberta hoje enviada ao chefe de Estado.

Na carta, a coligação pede a Umaro Sissoco Embaló para "parar de interferir na campanha eleitoral, nomeadamente através de declarações de apoio a uns partidos, de convocação explícita dos guineenses a não votarem na PAI - Terra Ranka, ou de anúncios de intenção de não nomear fulano ou beltrano, caso o PAIGC, no quadro da sua coligação, ganhe as eleições".

A coligação PAI -- Terra Ranka, é liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que venceu as últimas legislativas, realizadas em 2019, mas que foi afastado do Governo.

Na semana passada, o chefe de Estado disse publicamente que não iria nomear primeiro-ministro Domingos Simões Pereira ou Geraldo Martins, presidente e vice-presidente do PAIGC, respetivamente, caso a coligação PAI -- Terra Ranka fosse vencedora das legislativas de 04 de junho.

O Presidente admitiu, contudo, uma coligação entre a PAI -- Terra Ranka e o Movimento Alternância Democrática (Madem-G15), apoiado pelo chefe de Estado, do qual é também um dos fundadores, e criado por um grupo de dissidentes do PAIGC.

"Além de configurar uma flagrante violação da lei, essas atitudes não são dignas de um Presidente da República e só vêm demonstrar que tem plena consciência do lado a que o pêndulo eleitoral está a dirigir-se", refere-se na carta, enviada também para a comunidade internacional, sociedade civil e imprensa.

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