Ricardo Marques, jornalista | Expresso (curto)
Há muito proclamada, quiçá acertadamente, como um dos grandes temas da campanha eleitoral que se avizinha, e a após breves semanas de retiro natalício, a Operação Influencer regressa hoje ao palco principal que é a vida em Portugal ao quarto dia do ano 2024.
Eis que é conhecido o recurso do Ministério Público.
Longe de mim querer prolongar o suspense… e portanto cá vai o indispensável aperitivo que lhe permitirá seguir com a máxima atenção todos os desenvolvimentos do dia noticioso. É mais ou menos assim o arranque da notícia do Expresso: o documento arrasa as decisões do juiz de instrução e põe em xeque o presidente da câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, que se queixou da contribuição “miserável” de cinco mil euros. João Galamba é considerado o líder do “conluio”, Lacerda Machado pode estar a continuar a cometer crimes e todos os arguidos põem em causa a “paz social”
O recuso do Ministério Público segue-se aos recursos das defesas dos arguidos sobre as medidas de coação aplicadas pelo juiz de instrução, como sucedeu, por exemplo, com Lacerda Machado e com Vítor Escária.
Duas ou três notas mais sobre as cento e poucas páginas do recurso.
O Ministério Público reconhece que foram cometidos alguns erros – um deles foi apontado pelo Expresso neste artigo de novembro - contesta de forma clara a decisão da primeira instância - “As considerações tecidas pelo meritíssimo juiz de instrução criminal não são juridicamente acertadas” – e há muito poucas, e apenas indiretas, referências ao inquérito autónomo que envolve António Costa e que corre no Supremo Tribunal de Justiça.A campanha eleitoral, com se costuma dizer, ainda não saiu da igreja. E é provável que antes de chegar ao adro assistamos a mais um regresso da procissão de São Influencer. O MP e os arguidos que recorreram têm agora 30 dias para responder aos recursos uns dos outros e o processo segue para o Tribunal da Relação de Lisboa que decidirá quem tem razão nas medidas de coação e nos crimes imputados.
O tempo está a contar.
OUTRAS NOTÍCIAS
Nisso, do tempo estar a contar, os recursos da Infuencer são como recursos disponíveis para lidar com a influenza, Gripe para os amigos. Não é provável que a guerra de horas de espera nas urgências de norte a sul, que há dias ocupa os noticiários, desapareça tão depressa. Depois do Natal e Ano Novo, e com tempo frio previsto para o futuro próximo, os médicos acreditam que haverá mais gente a correr para os hospitais e que o alívio só será sentido no final da próxima semana.
Nota rápida para uma pausa tática na greve dos médicos. São três meses para ouvir os partidos acerca das propostas para a saúde, com a ameaça de novo fecho das urgências em caso de inércia política.
Um caso que envolve o Ministério das Finanças, o Ministério das Infraestruturas, uma empresa com três letras no nome, uma decisão que não se sabe bem quem tomou e Pedro Nuno Santos a garantir que não é nada com ele. Não é a TAP. Mete os CTT e a compra secreta de ações por parte da Parpública. A história parece estar apenas no começo, mas para entrar no enredo (estaremos perante mais um candidato a filme da campanha eleitoral?) não há ponto de partida melhor do que este artigo do Expresso.
Por falar em campanha eleitoral, nenhuma o é verdadeiramente sem o precioso
contributo de um comunicador vindo do outro lado do atlântico. Marketeer
brasileiro? Check! Chama-se Sérgio Guerra trabalha em marketing político desde os anos 80 e
assumiu campanhas no Brasil, Angola, Cabo Verde e Argentina. Vai juntar-se à
agência de comunicação Cunha Vaz, já contratada pelo PSD.
É dia de dizer adeus ao IVA Zero e dar as boas vindas aos novos, e mais altos, preços em dezenas de produtos essenciais.
Aquele italiano simpático do quinto andar tem a casa à venda? Saiba tudo sobre a nova vida do seu vizinho neste artigo do Expresso: Arrivederci, Lisboa, foi bom enquanto duraram os 10 anos: preços da habitação e fim do RNH põe os reformados italianos em fuga de Portugal
Um dos temas do dia será seguramente a lista de personalidades ligadas a Jeffrey Epstein que foi ontem tornada pública por um tribunal dos EUA, já noite em Lisboa. A decisão surge no processo contra Ghislaine Maxwell, a antiga namorada de Epstein, o investidor em fundos especulativos, que foi acusado de abuso sexual de menores e tráfico sexual de menores em julho de 2019. Menos de um mês depois, a 10 de agosto de 2019, foi encontrado morto na cela, numa prisão de Nova Iorque.
Enquanto o mundo treme perante a possibilidade do alastrar da guerra entre Israel e o Hamas, a guerra entre Israel e o Hamas vai alastrando. É importante estar atento ao que vai acontecendo, por exemplo, no Irão, num dia trágico quatro anos depois da morte general Qassem Soleimani, e no Líbano, ainda no rescaldo da morte do número dois do Hamas.
O mundo está como está, é verdade, e é por isso que não posso acabar sem lhe falar de uma sanita.
Em setembro de 2019, quatro homens entraram no Palácio Blenheim (onde nasceu um tal de Winston Leonard Spencer Churchill a 30 de novembro de 1874) e roubaram uma sanita de ouro, avaliada em cerca de 5,5 milhões de euros. A peça fazia parte de uma exposição do artista italiano Maurizio Cattelan e a casa de banho dourada, com o título “Améria”, era uma sátira à riqueza excessiva. O julgamento começa hoje em Londres.
FRASES
“O estado do grupo Global Media é preocupante e estão em causa 200 postos de trabalho. E está em causa também o jornalismo, tal como o conhecemos, e a liberdade como pilar da democracia”, Rosália Amorim, diretora de informação demissionária da TSF na Assembleia da República;
“Não tive nenhuma pressão sobre essa autorização seja de quem for”, Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras
PODCASTS
O Expresso encerra as celebrações dos seus 50 anos com uma série de episódios ao vivo, na reitoria da Universidade Nova de Lisboa, já amanhã, dia 5 de janeiro. Num auditório com capacidade para 400 pessoas, o evento contará com uma série de convidados especiais (Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro, Ricardo Araújo Pereira) e será transmitido online no site do Expresso e nas suas redes sociais. O programa completo e tudo o que precisa saber para se inscrever está nesta página
O QUE ANDO A LER
O exterminador implacável está a olhar para mim. Juro. Tem a barba grisalha, o cabelo cuidadosamente despenteado. Está literalmente em cima da mesa, mesmo ao lado do computador e fixa-me insistentemente.
“Faz-te útil”, grita-me, em letras brancas. Mas como?, pergunto-lhe. Pergunto-me. Ele jura-me, num tom azul celestial, que conhece sete regras para a vida. E agora?
Olho à volta e está outro barbudo grisalho a olhar para mim. Este, em dourado, promete levar-me para além da ordem. Onde? Além da ordem, repete. Reparo que tem algum pó, mas depois percebo que já aqui anda há dois anos à espera de vez. Tem 12 novas regras para a vida.
O que fazer? Hesito.
Estará o caminho nas 7 regras de Arnold Schwarzeneger (“Faz-te Útil”, edição da Lua de Papel) ou nas 12 novas regras de Jordan Peterson (“Para Além da Ordem”, mesma editora, mas de 2021)? Dezanove regras para 2024? Será que vale a pena?
Desconfio que antes de começar a trilhar a longa lista de etapas que promete levar-me a uma vida melhor, vou perder alguns dias a ler “Dersu Uzala”, de Vladimir Arseniev (Tinta da China). Convenhamos que não há implacável exterminador ou canadiano professor que consiga competir com o aperitivo que o Dersu traz no prefácio de Larissa Shotropa e João Maria Lourenço
“Graças ao famoso filme de Akira Kurosawa baseado no livro de Vladimir Arseniev, Dersu Uzala é conhecido em todo o mundo Foi exatamente nele, neste representante de um povo quase extinto, que Arseniev encontrou o que os escritores e filósofos russos até então tinham procurado sem sucesso: o homem perfeito.”
Dersu só queria viver.
Vivamos. Um dia de cada vez.
Desejo-lhe uma excelente quinta-feira.
Amanhã há Expresso nas bancas, e podcasts durante toda a tarde na festa do 50 anos do seu jornal.
Até lá, e como sempre, estamos sempre consigo em Expresso.pt
* Título acrescentado por PG
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