quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Angola | Matadores com Nota Dez | Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os nazis de Telavive matam uma criança de dez em dez minutos na Faixa de Gaza. São milhares de meninas e meninos mortos desde 7 de Outubro passado. Muitas crianças estão sepultadas nos escombros dos prédios e casas onde viviam. Nota dez para os sionistas e os seus mentores da Casa Branca, cada vez mais manchada de sangue. 

A instituição Save the Children fez uma revelação terrível. Desde que começou o genocídio na Faixa de Gaza, no dia 7 de Outubro do ano passado, pelo menos dez crianças, perdem uma ou ambas as pernas todos os dias, devido aos bombardeamentos dos nazis de Telavive e seus mentores da Casa Branca, vermelhíssima de sangue inocente. Muitas amputações são realizadas sem anestesia! Nota dez para Joe Biden, Antony Blinken, Loyd Austin e os nazis que governam Israel.

Um dia encontrei uma manifestação de amputados das FAPLA em frente ao Hospital Militar. Tinha o hábito de ir a pé para a Rádio Nacional. Era um bom exercício físico. Pelo caminho ia pensando na formação e nos textos a escrever. Já escrevi milhares de notícias em movimento. Naquele dia caí na manifestação dos mutilados. Chegou a polícia para desimpedir a via mas os manifestantes estavam muito revoltados e ainda mais teimosos. Ninguém saiu. Meti conversa com um manifestante que tinha ficado mutilado, em 1975. 

Além de companheiros na luta tínhamos mais alguma coisa em comum. Ele foi operário da fábrica de cabos eléctricos CONDEL no Cazenga, quando pegou na arma e vestiu a farda para lutar pela Liberdade. O meu primo António Pinto era o director técnico. Aprendeu a ler e escrever na aldeia das Boas Águas. Tinha boa cabeça e ganhou passaporte para a cidade de Nova Lisboa (Huambo). Ganhou! Foi estudar para o Lubango. Mais uma vitória. Acabou em Lisboa a estudar engenharia. Quando regressou a Angola trazia um canudo e um contrato de trabalho.

O mutilado abraçou-me quando soube que o meu primo lhe ensinou técnicas na fábrica onde arranjou o primeiro emprego. Disse-me algo que nunca mais esqueci: Os brancos são mesmo muito burros. Esses que chegaram a médicos não sabem que um homem sem perna fica pior do que morto!

Um oficial da polícia deu ordens aos agentes para tirarem as muletas aos manifestantes que se recusassem desimpedir a via. Levei o meu mutilado até à Rádio e pedi ao Vieira Lopes que mandasse levá-lo a casa, no Cazenga. Recomendei ao motorista, meu amigo “Kapi”, que fixasse bem a casa porque ia visitá-lo quando tivesse uma folga.

Os manifestantes queriam próteses e um salário fixo. Nada mais. Mesmo que um amputado seja pior do que morto, tem de comer e andar. Naquela época muitos antigos combatentes mutilados acampavam na zona do Hospital Militar. Foi lá que ficaram os restos das pernas. Por isso viviam nas imediações, na vã esperança de um dia voltarem a ficar inteiros. 

O meu amigo mutilado nasceu, cresceu, foi à escola, arranjou trabalho na fábrica CONDEL. Virou as costas às máquinas, apresentou-se no Centro de Instrução Revolucionária, deram-lhe uma arma, ensinaram-no a disparar e lá foi ele até tropeçar num engenho explosivo que lhe roubou a perna. As dez crianças que todos os dias perdem os membros interiores na Faixa de Gaza não andaram nada. Não viveram nada. Algumas foram à escola mas as bombas dos nazis de Telavive destruíram as escolas. Muitas crianças ficaram mortas sob os escombros. Nota dez para os assassinos da Casa Branca que regem com mestria o genocídio na Faixa de Gaza.

O governo nazi de Israel diz que vai continuar o genocídio até acabar com o HAMAS. Os assassinos da Casa Branca, do Departamento de Estado, do Pentágono e da CIA (todos amigalhaços der João Lourenço!) sabem o que isso significa. Os massacres continuam até os palestinos desaparecerem da Palestina mortos, mutilados (pior do que mortos) ou vivos na condição de refugiados perpétuos.

Destruir o HAMAS é apenas um pretexto dos nazis que os Media do ocidente alargado encobrem diligentemente. Netanyahu diz que a “operação” na Faixa de Gaza só acaba quando já não existir a organização. Ninguém esclarece a opinião pública mundial. Jornalistas colaboram no genocídio. Regressámos ao Reich de Hitler!

HAMAS é um partido político que ganhou todas as eleições realizadas na Palestina. Tem um braço armado, as Brigadas de Al-Qassam. A “operação” dos nazis na Faixa de Gaza já causou 30.000 mortos civis! Ontem os genocidas anunciaram que mataram 3.000 combatentes palestinos desde o início da operação! Como as Brigadas de Al-Qassam têm mais de 40.000, façam as contas aos civis inocentes que os sionistas ainda vão matar.

O governo dos nazis de Telavive só quer exterminar o HAMAS. Mas na Palestina existem mais organizações que enveredaram pela luta armada contra a ocupação de Israel. E algumas são mais radicais do que os combatentes das Brigadas de Al-Qsssam. Todos participaram nas acções armadas de 7 de Outubro em Israel, contra militares, polícias e forças militarizadas.

Os nazis de Israel, mesmo que exterminem o HAMAS (missão impossível) têm ainda pela frente a Jihad Islâmica Palestina (Brigadas de Al-Quds) que também tem reféns israelitas em seu poder. Mesmo que exterminem esta organização ainda têm de exterminar a Frente Popular para a Libertação da Palestina (Brigadas de Abu Ali Mustafá) que segue a ideologia marxista-leninista. Estes até comem vivos os nazis!

Mesmo que exterminem a FPLP depois têm de exterminar as Brigadas de A-Nasir Salah al-Deen. Esta organização enveredou pela luta armada em 2000 e participou no sequestro do soldado Gilad Shalit, em 2006, cuja troca rendeu a libertação de centenas de combatentes palestinos.

Mesmo que os nazis de Telavive e da Casa Branca exterminem estes combatentes depois têm pela frente a Brigada dos Mártires de Al-Aqsa.

Mesmo que os nazis de Telavive e da Casa Branca exterminem estes combatentes depois têm pela frente as Brigadas Muyahidines. Estes têm reféns israelitas e são mais extremistas do que todos os outros. 

Mesmo que estas brigadas sejam exterminadas, os nazis de Telavive e Washington têm pela frente a Organização de Libertação da Palestina (OLP) e o seu braço armada a FATAH. Portanto, isso de exterminar o HAMAS é apenas um pretexto para levar o genocídio na Faixa de Gaza até ao fim. Chegou a hora de agir. 

O Presidente João Lourenço tem o dever de expulsar imediatamente o embaixador dos nazis de Telavive e apoiar a África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça. Ou então é aliado dos assassinos da Casa Branca e dos nazis de Telavive. 

Continuar a fingir é que não pode. As dez crianças que todos os dias ficam mutiladas na Faixa de Gaza são nossas filhas e filhos. Nossas netas e netos. Se o dinheiro, as fazendas e os imóveis já valem mais do que a vida de uma criança, então tudo o que vivemos, tudo o que lutámos, tudo o que sofremos foi em vão. Serviu apenas para colocar no poder um bando de criminosos cruéis, ajoelhados aos pés dos que causaram em Angola, entre 1961 e 2002, milhares e milhares de mortos. Milhares de mutilados pior do que mortos.

Os ocupantes do poder em Angola não podem dar nota dez aos matadores de Washington e Telavive. O Povo Angolano não merece essa traição. 

* Jornalista

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