sexta-feira, 15 de março de 2024

A GREVE | Jornalistas em Portugal são injustamente atacados nos seus direitos

Ontem, 13 de Março, foi dia de greve dos jornalistas. Mais de 40 órgãos de comunicação social viram os seus jornalistas aderir à greve decretada pelo sindicato da profissão. Rádios, televisões e jornais pautaram pela inexistência de noticiários e de trabalhos relacionado com a sua profissão. Greve é greve.

O Curto que aqui trazemos foi escrito pouco antes da meia-noite de 13 de Março, Ricardo Marques, jornalista do Expresso, é o autor. Na manhã de 14 de Março, dia da greve, houve Expresso mitigado e Curto escrito na véspera em vez de na manhã de 14. Greve é greve, E na comunicação social é algo de muito grave. Sem informação de rigor a democracia definha e as portas antidemocráticas escancaram-se oportunistas. Isso mesmo é o que pretendem os que se dão mal com a democracia e ainda mais mal com o ato de formar e informar que compete aos jornalistas na sua plenitude e uso da liberdade de informação e de expressão, entre outras como a liberdade de imprensa.

Os jornalistas em Portugal são injustamente atacados nos seus direitos. Imensos são trabalhadores precários, recebem ordenados precários e miseráveis. Trabalham mais de cinquenta horas por semana mas não recebem as horas extraordinárias que anualmente ascendem a algumas centenas. É o esclavagismo, também no jornalismo. A exploração de novos ricos (sabe-se lá onde foram desencantar milhões de euros) que adquirem órgãos de comunicação social sem perceberem do negócio. O que querem é lucros rápidos e bastos… Como dizia Baptista Bastos, grande e conceituadíssimo jornalista, sobre esses abutres enricados com o fito de mais enricar. “Caga-lhes o cão no caminho, não percebem nada disto e secam a vaca, até as tetas que se soubessem lhes poderiam dar mama. Vai daí quem se lixa são os profissionais e o direito de informar e ser informado”. 

Nos dias de hoje é o que mais acontece. Há milhares de jornalistas depenados, desconsiderados, prejudicados e mal pagos. Urge dignificar a profissão, as condições de trabalho e a base remuneratória, considerando o trabalho que produzem e as horas que lhe dedicam em seu prejuízo e das suas famílias.

Aconteceu uma greve 'soft', ontem. Mas aconteceu. Ao fim 42 anos de esperar pacientemente. Poderá acontecer pior porque o desespero dos profissionais a isso pode conduzir. Nas circunstâncias justifica-se.

Olhai para os jornalistas com o respeito devido. Eles são os arautos da democracia e dos ataques que lhe movem. Recorrer aquela greve, ontem, foi o alerta de que estão a atacar a democracia em várias frentes e no jornalismo também. Por tudo isso importa não adormecermos. Discernimento e sapiência na luta. Alerta. Alerta estejam, alerta estejamos.

Uma sugestão: Acedam ao órgão oficial do Sindicato dos Jornalistas para saberem mais e melhor.

Fomos longos na prosa. Já a seguir vem aí o Curto do Expresso - é de ontem, 14, dia de greve do jornalismo. Mas foi escrito nos últimos minutos da noite de dia 13, para respeitar a greve que ocorreu em 14, ontem.

Bom dia. Não sabemos lá muito bem como poderemos ter um bom dia nestas circunstâncias… Mas é o que desejamos e por isso havemos de lutar sempre.

O Curto, a seguir. Vá ler.

MM | Redação PG


Dia de Greve

Ricardo Marques, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

Ao contrário do que é costume, este Expresso Curto que agora tem nas mãos foi terminado às 23h48 de ontem, quarta-feira. Esta quinta-feira, pela primeira vez em mais de 40 anos, os jornalistas portugueses estão em greve e em luta contra a insegurança no emprego e os salários baixos praticados no setor.

“O jornalismo é um ofício assente na investigação o mais exaustiva possível e na narração em estrutura e linguagem simples, textual, oral e visual, de factos que são fundamentais para o conhecimento de todos os cidadãos.” Pedi emprestada esta definição a José Vegar, um dos grandes jornalistas portugueses e, ao mesmo tempo, uma das mentes mais lúcidas a pensar o jornalismo dos dias de hoje.

E começo por aqui porque não podia deixar de o fazer. Leia de novo a definição que está acima e agora pense no seguinte: hoje não vai acontecer.

É possível que chegue ao fim do dia e nem dê por isso. As redes sociais que têm no telemóvel poderão ser suficientes para sentir que se sente informado. Alguém diz alguma coisa, outro alguém coisa outra. E nesse mar de coisas, nesse verdadeiro turbilhão de verdades – e elas são mais do que um milhão nas redes – há de tudo, menos regras.

Ora, as regras são o que define o jornalismo.

Regras e factos, responsabilidade e rigor. Parece simples, mas não é. Parece fácil, mas não é. Qualquer um o pode fazer, mas não pode.

Exige tempo, experiência, estabilidade, esforço e trabalho.

Agora como há 100 anos.

O dia em que o jornalismo decide parar em protesto é um dia bom para todos os que preferem manter ocultos os tais factos que são fundamentais para o conhecimento de todos os cidadãos. Para todos os que não respeitam a Democracia.

Para esses, esta quinta-feira, 14 de março de 2024, é um excelente dia.

Para todos nós, nem por isso.

OUTRAS NOTÍCIAS

Hoje é Dia Internacional da Matemática, o que vem mesmo a calhar para as contas e mais contas em que anda a política portuguesa. Enquanto não se conhecem os resultados dos votos da emigração, prossegue esta tarde a romaria dos partidos ao Palácio de Belém. Ontem o Livre, hoje a CDU.

Há cinco anos, no dia 14 de março de 2019, o ciclone tropical Idai destruiu parte do centro de Moçambique, provocando mais de 600 mortos e afetando cerca de dois milhões de pessoas. Agora, é o Filipo a causar estragos.

No dia em que termina no Ártico um exercício militar da NATO – que mobilizou 20 mil militares -, é apresentado na sede da Aliança o balanço do ano de 2023. À noite, Emanuel Mácron é entrevistado no noticiário das 20h00 da televisão francesa sobre o apoio da França à Ucrânia – dias depois da polémica declaração do presidente sobre o envolvimento da Europa na guerra . E em Lisboa discute-se “O Futuro da Segurança Europeia”, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

Em Espanha vota-se a lei de amnistia dos independentistas catalães.

O TikTok está debaixo de fogo nos EUA e não vai ser o mesmo.

Há um problema sério de segurança na Suécia.

Benfica Sporting, a ordem é meramente indicativa das horas dos jogos, entram em campo para a disputar a continuidade na Liga Europa.

E seleção portuguesa de andebol joga às 17h30 (hora de Lisboa), em Tatabánya, na Hungria, a primeira jornada do torneio de qualificação olímpica.

FRASES

“Se o oceano não absorvesse a temperatura teríamos mais 17ºC na atmosfera. É o seguro de vida do planeta”, Tiago Pitta e Cunha, no podcast “Ser ou não ser”

“Não queremos fazer isto, mas estamos desesperados”, Isokazu Ota, funcionário da autarquia de Quioto, entrevistado após o anúncio de que o bairro das geishas, naquela cidade japonesa, passa a estar interdito a turistas.

O QUE ANDO A LER

Deixo aqui a sugestão de duas obras primas que guardo com grande estima e cuidado na prateleira mais nobre cá de casa.

“Peste e Cólera”, de Patrick Deville (Tinta da China). Factos e mais factos, escrito com uma mestria invejável, fruto de um exaustivo trabalho de investigação. Esta é a vida de Alexandre Yersin, o homem que descobriu o bacilo da peste negra.

“Hiroshima”, de John Hersey. Uma das melhores reportagens alguma vez escrita. Hersey passou vários meses no Japão após o lançamento da bomba sobre aquela cidade e contou a história do dia que mudou o mundo através da vida de sete pessoas. O texto que escreveu foi publicado na edição da revista “The New Yorker” de 23 de agosto de 1946, tendo ocupado toda a revista.

Amanhã há Expresso nas bancas

Desejo-lhe uma boa quinta-feira

LER O EXPRESSO

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