Ontem, 13 de Março, foi dia de greve dos jornalistas. Mais de 40 órgãos de comunicação social viram os seus jornalistas aderir à greve decretada pelo sindicato da profissão. Rádios, televisões e jornais pautaram pela inexistência de noticiários e de trabalhos relacionado com a sua profissão. Greve é greve.
O Curto que aqui trazemos foi escrito pouco antes da meia-noite de 13 de Março, Ricardo Marques, jornalista do Expresso, é o autor. Na manhã de 14 de Março, dia da greve, houve Expresso mitigado e Curto escrito na véspera em vez de na manhã de 14. Greve é greve, E na comunicação social é algo de muito grave. Sem informação de rigor a democracia definha e as portas antidemocráticas escancaram-se oportunistas. Isso mesmo é o que pretendem os que se dão mal com a democracia e ainda mais mal com o ato de formar e informar que compete aos jornalistas na sua plenitude e uso da liberdade de informação e de expressão, entre outras como a liberdade de imprensa.
Os jornalistas em Portugal são injustamente atacados nos seus direitos. Imensos são trabalhadores precários, recebem ordenados precários e miseráveis. Trabalham mais de cinquenta horas por semana mas não recebem as horas extraordinárias que anualmente ascendem a algumas centenas. É o esclavagismo, também no jornalismo. A exploração de novos ricos (sabe-se lá onde foram desencantar milhões de euros) que adquirem órgãos de comunicação social sem perceberem do negócio. O que querem é lucros rápidos e bastos… Como dizia Baptista Bastos, grande e conceituadíssimo jornalista, sobre esses abutres enricados com o fito de mais enricar. “Caga-lhes o cão no caminho, não percebem nada disto e secam a vaca, até as tetas que se soubessem lhes poderiam dar mama. Vai daí quem se lixa são os profissionais e o direito de informar e ser informado”.
Nos dias de hoje é o que mais acontece. Há milhares de jornalistas depenados, desconsiderados, prejudicados e mal pagos. Urge dignificar a profissão, as condições de trabalho e a base remuneratória, considerando o trabalho que produzem e as horas que lhe dedicam em seu prejuízo e das suas famílias.
Aconteceu uma greve 'soft', ontem. Mas aconteceu. Ao fim 42 anos de esperar pacientemente. Poderá acontecer pior porque o desespero dos profissionais a isso pode conduzir. Nas circunstâncias justifica-se.
Olhai para os jornalistas com o respeito devido. Eles são os arautos da democracia e dos ataques que lhe movem. Recorrer aquela greve, ontem, foi o alerta de que estão a atacar a democracia em várias frentes e no jornalismo também. Por tudo isso importa não adormecermos. Discernimento e sapiência na luta. Alerta. Alerta estejam, alerta estejamos.
Uma sugestão: Acedam ao órgão oficial do Sindicato dos Jornalistas para saberem mais e melhor.
Fomos longos na prosa. Já a seguir vem aí o Curto do Expresso - é de ontem, 14, dia de greve do jornalismo. Mas foi escrito nos últimos minutos da noite de dia 13, para respeitar a greve que ocorreu em 14, ontem.
Bom dia. Não sabemos lá muito bem como poderemos ter um bom dia nestas circunstâncias… Mas é o que desejamos e por isso havemos de lutar sempre.
O Curto, a seguir. Vá ler.
MM | Redação PG
Dia de Greve
Ricardo Marques, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia,
Ao contrário do que é costume, este Expresso Curto que agora tem nas mãos foi terminado às 23h48 de ontem, quarta-feira. Esta quinta-feira, pela primeira vez em mais de 40 anos, os jornalistas portugueses estão em greve e em luta contra a insegurança no emprego e os salários baixos praticados no setor.
“O jornalismo é um ofício assente na investigação o mais exaustiva possível e na narração em estrutura e linguagem simples, textual, oral e visual, de factos que são fundamentais para o conhecimento de todos os cidadãos.” Pedi emprestada esta definição a José Vegar, um dos grandes jornalistas portugueses e, ao mesmo tempo, uma das mentes mais lúcidas a pensar o jornalismo dos dias de hoje.
E começo por aqui porque não podia deixar de o fazer. Leia de novo a definição que está acima e agora pense no seguinte: hoje não vai acontecer.
É possível que chegue ao fim do dia e nem dê por isso. As redes sociais que têm no telemóvel poderão ser suficientes para sentir que se sente informado. Alguém diz alguma coisa, outro alguém coisa outra. E nesse mar de coisas, nesse verdadeiro turbilhão de verdades – e elas são mais do que um milhão nas redes – há de tudo, menos regras.
Ora, as regras são o que define o jornalismo.
Regras e factos, responsabilidade e rigor. Parece simples, mas não é. Parece fácil, mas não é. Qualquer um o pode fazer, mas não pode.
Exige tempo, experiência, estabilidade, esforço e trabalho.
Agora como há 100 anos.
O dia em que o jornalismo decide parar em protesto é um dia bom para todos os que preferem manter ocultos os tais factos que são fundamentais para o conhecimento de todos os cidadãos. Para todos os que não respeitam a Democracia.
Para esses, esta quinta-feira, 14 de março de 2024, é um excelente dia.
Para todos nós, nem por isso.
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FRASES
“Se o oceano não absorvesse a temperatura teríamos mais 17ºC na atmosfera. É o seguro de vida do planeta”, Tiago Pitta e Cunha, no podcast “Ser ou não ser”
“Não queremos fazer isto, mas estamos desesperados”, Isokazu Ota, funcionário da autarquia de Quioto, entrevistado após o anúncio de que o bairro das geishas, naquela cidade japonesa, passa a estar interdito a turistas.
O QUE ANDO A LER
Deixo aqui a sugestão de duas obras primas que guardo com grande estima e cuidado na prateleira mais nobre cá de casa.
“Peste e Cólera”, de Patrick Deville (Tinta da China). Factos e mais factos, escrito com uma mestria invejável, fruto de um exaustivo trabalho de investigação. Esta é a vida de Alexandre Yersin, o homem que descobriu o bacilo da peste negra.
“Hiroshima”, de John Hersey. Uma das melhores reportagens alguma vez escrita. Hersey passou vários meses no Japão após o lançamento da bomba sobre aquela cidade e contou a história do dia que mudou o mundo através da vida de sete pessoas. O texto que escreveu foi publicado na edição da revista “The New Yorker” de 23 de agosto de 1946, tendo ocupado toda a revista.
Amanhã há Expresso nas bancas
Desejo-lhe uma boa quinta-feira
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