quarta-feira, 13 de março de 2024

Angola | Candidatos ao Martírio – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Uma coligação apresentada como invencível foi derrotada em Angola. Os presidentes Nixon (EUA), Spínola (Portugal) e Mobutu (Zaire hoje RDC) decidiram afastar o MPLA do processo de descolonização. Para isso invadiram e ocuparam o Norte de Angola silenciosamente. Agostinho Neto convocou a Resistência Popular Generalizada. Os agressores convocaram mercenários de várias nacionalidades, restos dos fascistas portugueses e tropas da África do Sul. Foram derrotados. Tudo começou em 1974, há 50 anos. 

Hoje é tempo de refletir sobre esses acontecimentos. Os EUA foram derrotados em Angola. Como foi possível um povo praticamente desarmado, submetido durante séculos à dominação estrangeira, derrotar a maior potência militar do mundo e seus aliados? Resposta: A Visão estratégica de Agostinho Neto. A base social de apoio do MPLA era todo o Povo Angolano. A direcção militar de comandantes experimentados durante 13 anos de luta armada contra o colonialismo. Tudo junto dá 70 por cento. 

Os 30 por cento que faltam foram decisivos: Apoio político e militar dos países amigos. Em África destaque para a República Popular do Congo, Argélia, Zâmbia e Tanzânia. Na Europa União Soviética e outros países do Leste mais a Jugoslávia. Na Ásia República Popular da China e Coreia do Norte. Na América, Cuba. Quanto mais os países da coligação se esforçavam por vencer, mais cara lhes saía a derrota. 

Em 1975 a coligação alargou-se a praticamente todas as grandes potências do ocidente. A Resistência Popular Generalizada aguentou o embate em 70 por cento. O apoio dos países amigos (30 por cento) ditou mais uma derrota, desta vez muito expressiva. O movimento de libertação que queriam ver fora do processo de descolonização ganhou ainda mais apoio popular. Agostinho Neto proclamou a Independência Nacional em 11 de Novembro de 1975. Nessa altura entrevistei o Comandante Yasser Arafat e ele leu correctamente o que se passava em Angola: A luta do Povo É Invencível! 

 Já sabíamos. Agostinho Neto, em Dala Tando, com as tropas invasores no Lucala, disse que “somos milhões e contra milhões ninguém combate”. Caso se atreva é derrotado.

Depois da Independência começou a Guerra pela Soberania e a Integridade Territorial. A mesma coligação colocou no terreno as tropas da África do Sul, uma grande potência militar. Serviu-se da UNITA como biombo. Criaram o acampamento militar da Jamba. Até deram mísseis Stinger ao criminoso de guerra Jonas Savimbi. Mais uma vez foram derrotados. Mas desta vez a derrota atingiu o regime racista de Pretória.

A invencível luta do povo, milhões de angolanas e angolanos em armas, libertaram Nelson Mandela, libertaram a maioria negra sul-africana, libertaram a Namíbia. A vitória deve-se em 70 por cento ao Presidente José Eduardo dos Santos e aos seus Generais. Ao Heroico Povo Angolano. Os outros 30 por cento devem-se aos países amigos de sempre e particularmente ao Povo Cubano.

A coligação mudou de rumo, ficou escondida na sombra. Atirou para a frente Jonas Savimbi e o Galo Negro. Foi a machada final. As grandes potências do ocidente perceberam que em Angola eram candidatas a mártires. A UNITA teve o mesmo destino. Um amigo que é barra em números, fez as contas ao esmagamento total de Savimbi e do Galo Negro. Os números impressionam. 

Presidente José Eduardo dos Santos e a sua equipa contribuíram com cinco por cento. O General João de Matos e o seu Estado-Maior, mais cinco por cento. As forças que libertaram Soyo, Chitololo, Cuango, Cafunfo, Luremo e Luzamba contribuíram com mais cinco por cento. General Armando da Cruz Neto e o seu Estado-Maior cinco por cento. Forças Armadas Angolanas (FAA), Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e militares da UNITA que aderiram ao regime democrático, 50 por cento. O total dá 70 por cento. E os outros 30 por cento? Contributo da Organização das Nações Unidas!

A ONU impôs sanções pesadas à UNITA e a Jonas Savimbi. Contas bancárias congeladas. Acabou a mobilidade. Os dirigentes e familiares do Galo Negro não podiam viajar. Ficaram sem passaportes! Aprovado o conceito de “diamantes de sangue”. Os kamanguistas da UNITA ficaram impedidos de vender os diamantes roubados ao Povo Angolano. Os voos de abastecimentos acabaram de um dia para o outro. As armas, equipamentos, combustíveis e munições ficaram na Ucrânia, Bulgária, Costa do Marfim, Togo e no Zaire (RDC). Savimbi tornou-se um bandido internacional. A UNITA, uma organização pária. Os traidores no seu martírio. 

O Conselho dos Direitos Humanos da ONU concluiu que o empresário Carlos São Vicente é vítima de prisão arbitrária. O seu julgamento foi um festival de ilegalidades. Por isso o Grupo de Trabalho recomenda a libertação imediata da vítima. Que seja recompensado e indemnizado. Não adiante fingir que o problema não existe. No dia 19 de Maio de 2024, termina o prazo que foi dado ao Executivo para responder à ONU. Vão ter mesmo que prestar contas. E responder a estas questões muito simples: 

Carlos São Vicente já foi libertado? Foi compensado e indemnizado? Investigaram quem violou os seus direitos? Mudaram a legislação para harmonizá-la com o Direito Internacional? Tomaram todas as medidas para implementar o Parecer do Conselho de Direitos Humanos da ONU?

Prender um inocente é gravíssimo. Brincar com o bom-nome a honra da Família Agostinho Neto é imperdoável. Ninguém vai ficar impune porque a ONU não permite. O casal Irene Neto-São Vicente não vai dar descanso a nenhum dos implicados. Eles são discretos mas terríveis!

Cumpram o Parecer da ONU porque só assim evitam ser sancionados como foram a UNITA e Jonas Savimbi. Não sujem o nome de Angola. Aproveitem e mandem para a reforma os Generais que colocaram na Procuradoria-Geral da República, no SINSE, na Casa Militar e de Segurança da Presidência da República. Só fazem asneiras e não são poucas nem pequenas. Responsáveis do Tribunal de Primeira Instância, da Relação, do Supremo, do Constitucional evitem sanções da ONU. Salvem o vosso prestígio e o de todos os operadores da Justiça. Não há  dez por cento de fortunas que valham a Honra e a Dignidade de um ser humano. 

* Jornalista

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