Bom dia,
A história do político que chegou a ministro e ligou ao pai para contar esse
feito que tinha alcançado – “Pai, já sou ministro!” – e que é atribuída a
Manuel Dias Loureiro quando, em 1987, foi para o governo do PSD liderado por
Cavaco Silva (ele nega-a) vem-nos à memória neste dia em que um grupo muito
restrito de pessoas poderá pegar no telefone e fazer o mesmo, ligar ao pai ou à
mãe e contar a novidade.
Será provavelmente durante a tarde que Luís Montenegro, o
primeiro-ministro indigitado, irá apresentar ao presidente da República a lista
dos ministros que farão parte do seu governo. Todos terão sido
sujeitos ao questionário criado por António Costa ao fim dos primeiros meses do
governo cessante, na sequência de uma série de impedimentos que foram então
identificados e que levaram a mudanças na composição desse governo socialista
de maioria absoluta. A tomada de posse está marcada para terça-feira, 2 de
abril, altura em que deverão ser conhecidos os secretários de Estado.
Não há mal algum em ter orgulho em ocupar um dos mais altos cargos políticos do
país, uma missão para a qual muito poucos estão talhados e que, quando bem cumprida,
pode fazer a diferença, contribuindo para o desenvolvimento do país e para a
correção das muitas falhas de que ele padece. Mas se o pai ou a mãe perguntarem
“e isso é coisa para durar quanto tempo?”, a resposta mais provável – e
sobretudo a mais sensata – será “não sei”.
Mal se conheceram os resultados das eleições de 10 de março percebeu-se que o
XXIV governo, liderado pela Aliança Democrática (PSD e CDS), terá muitas pedras
pelo caminho, por ser minoritário e ter de negociar quer à esquerda, com o PS,
quer à direita, com o Chega. O stresse dos últimos dias em torno da eleição do
presidente da Assembleia da República (AR) confirmou que a esperança de vida
deste governo minoritário é de facto baixa. Também nos vem à memória o XX
Governo Constitucional, também do PSD e do CDS, liderado por Pedro Passos
Coelho, que entre 30 de outubro e 26 de novembro de 2015 durou apenas 27 dias.
Para já, é de assinalar que a AR já tem presidente depois da maratona
negocial iniciada na terça-feira na sequência do impasse provocado pelo abortar
do acordo inicial alcançado entre o PSD e o Chega. Só ontem à tarde, à quarta
tentativa, é que José Pedro Aguiar-Branco, indicado pelo PSD, conseguiu ser
eleito, graças a um acordo de rotatividade com o PS através do qual na primeira
parte da legislatura cabe ao PSD indicar o nome do presidente e na segunda
metade cabe ao PS.
André Ventura, líder do Chega, aproveitou o entendimento entre o PS e o PSD que
permitiu ultrapassar o impasse para reclamar para si a liderança da oposição.
Mas Pedro Nuno Santos, que enquanto líder do PS teve a segunda maior votação
nas eleições de 10 de março, fez questão de explicar que a necessidade de
ultrapassar o impasse institucional não compromete a autonomia e o lugar do PS
enquanto partido líder da oposição.
Foram também eleitos os quatro vice-presidentes propostos, Teresa Morais,
pelo PSD, Marcos Perestrello, pelo PS, Diogo Pacheco de Amorim, pelo Chega, e
Rodrigo Saraiva, pela Iniciativa Liberal.
Entretanto ontem o presidente da República dissolveu a Assembleia Legislativa da
Madeira pelo que haverá novas eleições, desta vez a 26 de maio.
Ontem foi também dia de serem feitos balanços pelo primeiro-ministro cessante.
António Costa deu uma conferência de imprensa para passar revista aos 8 anos de
mandato enquanto primeiro-ministro e, na hora da despedida, deixou o seu futuro político em aberto.
OUTROS ASSUNTOS
Atentado na Rússia O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba,
insistiu que as acusações russas sobre o alegado envolvimento ucraniano no
atentado em Moscovo são falsas e absurdas, acusando a Rússia de propaganda
sem limites.
Guerra no Médio Oriente Ao 173º dia do conflito que opõe os israelitas ao
movimento islâmico Hamas, Israel fez um número recorde de mortos no Líbano.
Ponte de Baltimore O navio de carga que embateu contra a ponte de Baltimore nos
EUA transportava 56 contentores que continham 764 toneladas de materiais
corrosivos e inflamáveis. Alguns contentores partiram-se com o embate e
caíram ao rio.
Recordes na TAP A TAP teve lucros recordes em 2023: 177 milhões de euros,
um aumento de 170% face ao ano anterior. O primeiro-ministro cessante defendeu que a privatização da
empresa não seja feita “sob pressão”.
Dependência económica O número de trabalhadores independentes em situação de
dependência económica de uma só entidade recuou em 2023 face a 2022. Ainda
assim são mais de 87 mil, o que equivale a quase 13% dos trabalhadores por
conta própria.
Protestos Mais de 300 jovens saíram ontem à rua, em Lisboa, debaixo de
chuva forte, num protesto por melhores salários, deixando também recados ao
novo Governo.
Global Media O contrato promessa de compra e venda de alguns dos títulos da
Global Media, entre os quais o Jornal de Notícias, TSF e O Jogo, foi
finalizado mas há divergências entre os acionistas. Diogo Freitas, um dos
investidores que tem uma posição acionista indireta na Notícias Ilimitadas,
saiu da administração desta empresa que fica a gerir aqueles títulos.
FRASES
"Não me sinto minimamente diminuído, tudo o que fazemos em nome do
interesse nacional e que permita o normal funcionamento das instituições, não
diminui, engrandece" - Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da
República
"Os partidos democráticos têm, em cenários de crise institucional, a
obrigação absoluta de promover entendimentos" - Francisco Assis,
candidato do PS à presidência da Assembleia da República
"Luís Montenegro escolheu e não teve dúvidas: o caminho é governar com o
PS, é fazer acordo com o PS. Luís Montenegro, cara a cara te digo: governarás
com o PS, porque com o Chega não contarás neste ciclo político" - André
Ventura, presidente do Chega
O QUE ANDO A LER
“25 de abril e a banda desenhada - Imagens de uma revolução” foi editado
em abril de 2022 e apresenta uma série de bandas desenhadas publicadas ao longo
dos anos sobre a Revolução que há quase 50 anos derrubou a ditadura
Estão ali bandas desenhadas sobre a revolução mas também sobre os seus
antecedentes, as reações, os seus impactos, a forma como passou a ser vista
muitos anos depois, algumas publicadas em jornais e revistas portugueses, entre
os quais o Expresso e o Público.
Os autores do livro, críticos de banda desenhada com largos anos de
experiência, referem na introdução que “a BD pode tornar-se extremamente
acessível, capaz de atrair a atenção e passar uma mensagem de um modo mais
eficaz do que um texto "seco". Ou, pelo menos, capaz de o
complementar e potenciar eficazmente, como seria essencial no Portugal muito
pouco alfabetizado de
“O pior destino de uma data histórica, cuja validade permanece, é passar a ser
apenas... Um feriado”, acrescentam. “Uma data que já começa a ser longínqua e
que para muitos, sobretudo os mais novos, é nebulosa, vaga ou não significa
mesmo nada para além de ser feriado, e que ficou conhecida por 25 de abril.”
Falta menos de um mês para se assinalar essa data.
Obrigado por estar desse lado.
Continue na nossa companhia em www.expresso.pt.
Boa Páscoa!
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