quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Angola | Delírios e Alianças Estranhas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um maninho chamado Hitler tentou morder-me os calcanhares. Não tem dentes para isso, nem com a boca cheia do dinheiro que ainda escorre dos diamantes de sangue. Disse que sou mercenário, porque alertei a navegação à vista e a perder de vista, que sem o MPLA sonos nada. Zero vezes zero. Antes que os enganos de alma acabem em tragédia vou explicar porquê.

A Luta Armada de Libertação Nacional arrancou porque o MPLA fez essa opção estratégica, depois de várias tentativas para resolver a maka da Independência Nacional a bem, com os colonialistas. O Povo Angolano só triunfou porque os combatentes do MPLA se bateram até à morte na Frente Norte e na Frente Leste. Ao mesmo tempo a UNITA lutava ao lado das tropas portuguesas contra a Independência Nacional. Contra o Povo Angolano.

Ontem a UNITA vendeu Angola aos colonialistas. Hoje entrega Angola a um qualquer dono se, por distracção do acaso, chegar ao poder.

Angola só existe como Estado Soberano porque o MPLA enfrentou invasões estrangeiras e todo o tipo de traições, até Agostinho Neto proclamar a Independência Nacional aos primeiros segundos do dia 11 de Novembro de 1975.

Se a UNITA por obra e graça de um qualquer cataclismo, alguma vez chegar ao poder, entrega Angola e o Povo Angolano a um qualquer estado racista, como fez durante 15 anos com o regime de apartheid na África do Sul. Estão viciados na traição, no ódio, na boa vida, na posse de mundos e fundos sem fazerem nada.

A democracia precisa de alternância. Não vive sem alternância. Mas enquanto existir a UNITA, o regime democrático fica amputado de uma força política capaz de protagonizar essa alternância. E como existe uma clara bipolarização, tudo o que nasce no campo da oposição morre. Porque a UNITA seca tudo à sua volta. O Galo Negro é o melhor aliado do MPLA. Querem um exemplo? Dois cães de fila da UNITA, Hitler e Prata, morderam-me os calcanhares porque critiquei o Presidente João Lourenço. E usaram os mesmos argumentos da tropa do chefe Miala, quando abriu uma guerra contra mim no Club K, há dez anos! Já chega.

Siona Casimiro chegou a Luanda e Lúcio Lara chamou-nos para ele ser enquadrado como jornalista. E que falta nos faziam profissionais! Falso alarme. Ele não sabia escrever em português. Nem tinha qualquer noção da operação de um jornal. A solução foi acomodá-lo na ANGOP. Mena Abrantes já tinha posto a agência em funcionamento. Quando o meu amigo Siona faleceu, foi apresentado como “decano dos jornalistas angolanos”.  Mas estavam vivos jornalistas que o receberam em Luanda e o ensinaram. Tantas aldrabices, para quê? Penso que às vezes é mesmo só pelo prazer de aldrabar. Ejaculações e orgasmos no acto da mentira na cama dos delírios.

Rui Ramos só começou a exercer a profissão de jornalista quando Luísa Rogério lhe passou uma carteira. Antes nunca foi jornalista. Em Angola, ano de 1975, colaborou na “Angola Revista”, boletim informativo da Liga Nacional Africana. Na ânsia de provar o que não é, divulgou estes nomes como seus colegas: Arnaldo Santos, Roberto de Almeida, Jorge Macedo e Boaventura Cardoso. Na época eu era o presidente da direcção do Sindicato dos Jornalistas. Chegavam-nos muitos pedidos de carteira profissional e nós recusávamos quando os peticionários não preenchiam as condições legais.

 Da “comissão redactorial” do boletim da Liga Nacional Africana apenas Arnaldo Santos enveredou pelo Jornalismo. Após a Independência Nacional, foi director do Jornal de Angola. Roberto de Almeida optou pela política. Jorge Macedo pela investigação e a Literatura. Boaventura Cardoso continuou a ser funcionário público como era. Rui Ramos atirou-se ao MPLA com a Organização Comunista de Angola (OCA).

Em Portugal Rui Ramos foi empregado de Pinto Balsemão até se reformar, mas não era jornalista. Apenas colaborador do “Expresso”. Tinha a seu cargo deitar abaixo o MPLA e o Governo da República Popular de Angola. Foi turista da Jamba. No seu regresso a Angola nunca exerceu a profissão de Jornalista. Era revisor absentista no Jornal de Angola. Apresenta-se como “decano dos jornalistas angolanos” porque escreveu um texto para O Estudante, boletim dos alunos do Liceu Salvador Correia que saía quando calhava. A elevada taxa de mortalidade no Jornalismo Angolano deve-se aos Jornalistas Angolanos que permitem todas as aldrabices, todas as trafulhices, todos os oportunismos. 

No Jornal de Angola trabalha Luciano Rocha que é jornalista desde os anos 60. Xavier Figueiredo continua no activo e é jornalista desde o final dos anos 60. Activíssimo está Luís Alberto Ferreira, com 90 anos. Eu não me estou a sentir nada bem mas existo. Comecei nos anos 60. Respeitem e respeitem-se.

Rui Ramos como “jornalista” acaba de publicar um texto sobre o Bairro do Cruzeiro. Escreveu isto: “Os antigos exploradores portugueses quando chegassem a uma nova localidade implantavam um padrão, semelhante ao que está na foz do rio Zaire na localidade do Soyo, implantado por Diogo Cão em 1491, a significar simbolicamente a ocupação ou posse do lugar”. Tirando o português garatujado, é grave o que ele insinua afirmando.

Um cruzeiro não é um padrão. É uma cruz de pedra que se instala para assinalar a presença do cristianismo. Procurei saber por que razão existia um cruzeiro no bairro. Júlio Castro Lopo diz que houve um desastre natural e morreu ali muita gente. Essas mortes foram assinaladas com cruzes de pedra. Por isso no último quartel do Século XIX foi aberto naquela colina o Cemitério do Alto das Cruzes. Ainda não existia o bairro.

Os registos dos enterramentos, que consultei em 1968, permitem concluir que os primeiros mortos foram sepultados no “campo santo” em 1859. Antes do Cemitério do Alto das Cruzes, os mortos eram sepultados no Cemitério do Carmo, nas traseiras da igreja e do convento na direcção da Mutamba. 

A igreja e convento do Carmo, de arquitectura barroca/maneirista, nasceram numa fase de expansão urbana de Luanda e grande desenvolvimento económico, século XVII. Neste templo estão sepultados dois bispos de Luanda, D. Frei António do Espírito Santo e D. Frei Francisco de Santo Tomás. Quando se esgotou a área de expansão deste cemitério, o Senado da Câmara de Luanda aprovou a construção do Cemitério do Alto das Cruzes. O lugar já existia como tal. Ali existiam cruzeiros para assinalar mortes.

O espaço era baldio, não existia qualquer construção acima da Lagoa do Kinaxixi. Quando Rui Ramos confunde propositadamente cruzeiros com padrões quer mostrar que o bairro é muito antigo. Falso. É parte da Luanda moderna, criada a partir dos anos 30. 

Os bairros antigos de Luanda quando nasceu o Cemitério do Alto das Cruzes eram estes: Kipacas, Nazaré, Bungo (entre a Igreja da Nazaré e a Kaponte),Katomba, Mutamba, Mazuika (na zona das Igreja do Carmo), Kafaco (Calçada da Missão), Ingombotas, Maculusso, Sangandombe (Avenida do I Congresso do MPLA, território dos oleiros do barro negro), Kibando, Katari (zona do Pelourinho), Remédios (Cidade Alta), Kitanda, Terreiro (Porto de Luanda) Misericórdia (Sé) e Maianga. Não há Bairro do Cruzeiro com ou sem “padrões” dos exploradores portugueses. Maldita droga!

Rui Ramos nomeia uma rua do bairro como “Rua Comandante Eurico Silva”. O nome verdadeiro é Rua Comandante Eurico Gonçalves e ele foi nosso colega no Liceu Salvador Correia. O desvairado autor do texto nem os antigos colegas respeita. Depois arma-se em perito de cemitérios e escreve esta barbaridade: “O emblemático cemitério do Alto das Cruzes foi mal localizado pois é uma aberração construir um cemitério no alto, por causa dos resíduos dos cadáveres”. Os resíduos dos mortos dão-lhe a volta ao miolo. Também são da OCA.

Rui Ramos nunca foi jornalista até Luísa Rogério lhe entregar uma carteira profissional. Foi enganada. Se puserem um molusco numa Redacção, dentro de um aquário, o bicho não passa a ser jornalista profissional. Muito menos se for um louco com perspectivas de batráquio.

No Cemitério do Alto das Cruzes estão sepultados Pedro da Paixão Franco, príncipe do Jornalismo Angolano. E Alfredo Troni, fundador do espantoso jornal Mukuarimi. A Biblioteca Municipal de Luanda nasceu com o seu espólio que ofereceu em vida à Câmara.

Se quiserem saber mais sobre a História de Luanda através dos seus cemitérios públicos do Século XIX, leiam o Boletim Cultual da Câmara Municipal de Luanda, volume 43, ano de 1974. Nesse número é publicado um trabalho de alto nível assinado por Carlos Alberto Lopes Cardoso. E sobretudo leiam “Uma Rica Dona de Luanda”, de Júlio Castro Lopo.

Não façam de mim bombeiro padra apagar os fogos das falsificações da História de Angola.

* Jornalista

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