quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Angola | Presidente Fugiu dos Heróis -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

João Lourenço gozou 15 dias de merecidas férias e regressou a casa na véspera do Dia do Herói Nacional. Ninguém o viu nas cerimónias oficiais de hoje. E bem precisava de aparecer para se limpar dos ataques rasteiros que tem desferido contra dirigentes e militantes do MPLA. Das perseguições impiedosas aos familiares dos Presidentes Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos Tem medo dos Heróis. Fugiu dos Heróis. Depois de tantas e desvairadas exonerações exonerou-se a ele próprio! É obra desenganada. No seu lugar apareceram os ministros Francisco Furtado e Filie Zau. Ao nível partidário foi salvo pela vice-presidente Luísa Damião.

O herói de João Lourenço é o demente senil Joe Biden. O seu mentor é o assassino Blinken. O General genocida Austin o seu exemplo. Algo apodreceu de Cabinda ai Cunene e do Mar ao Leste. 

Angola é berço de Heroínas e Heróis desde os becos ignorados dos musseques de Luanda às áreas libertadas do Leste, das matas de Cabinda aos Dembos, das cidades às aldeias, dos campos do algodão às tongas de café, das cadeias e campos de concentração ao Palácio da Cidade Alta. Os que se ergueram do lodo até ao píncaro das estrelas. Milhares de mulheres e homens acreditaram, sem hesitações, que a vitória é certa.  

Não culpem os Heróis Nacionais por terem lutado sob a bandeira do MPLA. Tal como não podem culpá-los por João Lourenço arrastar o partido para o pântano da submissão ao estado terrorista mais perigoso do mundo. Curvar-se aos pés do demente senil Biden que já não serve nem para candidato a caixeiro da indústria bélica! Cada um tem os heróis que merece. Não culpem o Herói Nacional pelo ódio à liberdade desencadeado por João Lourenço e os seus sequazes bajuladores.

Em Angola Liberdade e Heroísmo escrevem-se no feminino: Engrácia Francisco Cabenha (4 de Fevereiro), Deolinda Rodrigues, Engrácia dos Santos, Irene Cohen, Lucrécia Paim, Teresa Afonso, Ruth Lara, Conceição Boavida, Mariazinha (locutora do programa Angola Combatente), Maria Mambo, Inga, Rodeth Gil,n Rute Mendes, Maria Eugénia Neto e tantas, tantas outras. Hoje é o dia de todas essas mulheres excepcionais que construíram a Independência Nacional.

Hoje venho recordar o dia 25 de Fevereiro de 1977, quando Agostinho Neto convocou os embaixadores acreditados em Angola. Alertou-os para aquilo que considerou muito grave. Leiam a sua histórica e esquecida declaração:

“O Presidente Mobutu está a preparar um dispositivo militar que ameaça Angola. A FNLA, a FLEC, o ELP (Exército de Libertação de Portugal, organização de extrema-direita portuguesa) e mercenários, vão participar numa operação de grande envergadura contra a República Popular de Angola no último trimestre deste ano de 1977. 

A invasão tem o nome de ‘Operação Cobra77’ (também denominada Operação Natal em Angola) com o envolvimento de meios aéreos e terrestres. Está marcada para Setembro ou Outubro a partir de um ataque contra Cabinda, dirigindo-se depois para o Sul. 

O responsável pelas operações militares é o coronel Georges, especializado em Saint-Cyr, França. Participam também no comando, os coronéis norte-americanos Mike Brown, Johnson e Thompson. Brown e Johnson, foram oficiais ‘boinas verdes’, forças especiais dos Estados Unidos da América, na década de 1960. Thompson foi oficial da 82ª Divisão Aerotransportada dos Estados Unidos”.

Esta declaração precipitou o 27 de Maio de 1977. Honra e glória aos Heróis Nacionais que enfrentaram e derrotaram os golpistas dos quais destaco Comandante Onambwe, Comandante Margoso, Comandante Kianda , os oficiais das FAPLA Zé Maria e Higino Carneiro. 

No Dia do Herói Nacional honremos os Comandantes que assinaram a Proclamação das FAPLA no dia primeiro de Agosto de 1974 e ainda estão vivos: César Augusto (Kiluanje), António dos Santos França (Ndalu), Alexandre Rodrigues (Kito), Ernesto Kayombo (Liberdade), Francisco Magalhães Paiva (Nvunda), André Pitra (Petrof), Afonso de Almeida (Kasesa), Joaquim Rangel Valera (Quim), José Matos (Siliveli), Júlio de Almeida (Juju), Inocêncio Yoba, Malamba Rosa (Facho) e Daniel Almeida Paulino (Ghandi). Estes são os excepcionais.

Um povo que tem tantas filhas e filhos excepcionais não merecia ser arrastado por João Lourenço para o lodo da submissão. Mas foi. Outras e outros excepcionais vão encontrar uma saída com dignidade. A Liberdade não se compra na cantina. Muito menos na Casa dos Brancos. 

O Herói Nacional Agostinho Neto é um homem de letras. Muitos outros usaram a escrita como arma de luta. Como as memórias estão cada vez mais curtas, hoje quero recordar o maior escritor angolano de sempre, Luandino Vieira. E surpresa das surpresas, está vivo! Esquecido e ignorado mas vivo! 

Além de mestre na escrita (todos os que vieram depois dele são epígonos com ou sem imaginação) Luandino foi o primeiro director da Televisão Pública de Angola (TPA) e dirigiu o Departamento de Informação e Propaganda (DIP) do MPLA. Antes de Esteve Hilário e João Lourenço, o DIP era uma trincheira de luta onde morava a dignidade. 

Agora vou beber um copinho de mosto. Já mereço o meu pedaço de bebida. Deixo-vos com esta trova do Poeta Malaquias, intitulada “Canção do Vento a Leste”:

Os músicos trouxeram mukupela à bandoleira

coros animam as divindades antepassadas tão presentes

há coleantes corpos ornados de uma Lua crescente 

onde zunem os guizos do muia

ninguém viu, meu amor, a solidão do lenhador

os golpes do machado na seiva da musasala

ninguém aplaudiu, minha amada, a paciência do caçador 

que manchou as mãos de sangue quanto tirou a pele do nkai.

(Mãe, minha mãe, vê como é belo o sol no meu cabelo)

Tão doce o sussurrar das águas da lagoa que transbordou

do tumultuoso Cassai, o rio da nossa cultura ignorada

onde nasceu a voz do sangue e os passos da txianda

cacareja o casumbi quando tocadores rebentam a pele do golungo

a mulela pariu o tambor que faz voar teus passos, meu amor

o ulezo muda o som para salvar os desgraçados tão tristes

nesta dança com palmas uculé, uculé, círculo de dor roda com os astros

ainda somos filhos do Cassai e esculpimos corações na face da Terra.

* Jornalista

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