Mafalda Ganhão, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia,
É a política a acontecer. Luís Montenegro garante que não quer pressionar a
oposição, mas avisou a noite passada, na intervenção inicial do Conselho
Nacional do PSD, que para o Governo é “imprescindível e imperioso” que todos
tenham “sentido de responsabilidade" e "sentido de Estado”. Falava do
Orçamento do Estado 2025, claro, parecendo-lhe "absolutamente
incontornável que a interpretação do interesse nacional e coletivo deve
conduzir" à sua aprovação. O primeiro-ministro também negou tratar-se de
chantagem manifestar o entendimento de que "os duodécimos não são
solução”, ao fazer saber aos partidos com quem tem de negociar - sem os nomear
no discurso – que o Governo não está disponível para trabalhar nesse modelo,
caso o OE não receba luz verde.
O recado ficou dado, as negociações estão por fazer. Certo é que, só na
próxima sexta-feira, Pedro Nuno Santos irá reunir-se com Luís Montenegro sabendo
que o Governo ainda não desistiu a 100% do Chega (e da IL), o que não é um
detalhe. A duas semanas da entrega do Orçamento do Estado, a agitação nos bastidores políticos tem sido grande, com
destaque para a intensa produção de comunicados com troca de acusações entre o
líder socialista e o chefe do executivo. De um lado e do outro, a necessidade
de comunicar ao país tem sido maior do que a comunicação entre eles próprios. Pedro Nuno Santos insiste que Montenegro quer eleições
antecipadas e o primeiro-ministro reforça que um orçamento
retificativo não é via desejável, não sem antes ter acusado o representanto do PS de falta de disponibilidade
para discutir o tema (o que este desmentiu).
Mas nem tudo são estratégias desenhadas para os holofotes. Foram rodeadas de discrição as reuniões que já aconteceram (esta
segunda-feira) entre Montenegro e o líder do Chega, André Ventura, como
discreto foi o encontro mantido com Rui Rocha, da Iniciativa Liberal. “Não há
reuniões secretas na Residência Oficial do Primeiro-Ministro”, sublinhou um
comunicado do gabinete e Montenegro, mas sobre estas duas em concreto nada foi
adiantado.
Enfim, como uma boa novela, o caminho para o OE tem intriga, algum romance,
ação, mistério quanto baste e drama, garantido por outro protagonista de peso:
o Presidente da República. “Se não houver Orçamento há uma crise política e económica”,
disse Marcelo. Aguardam-se os próximos capítulos.
OUTRAS NOTÍCIAS
Por cá
O Governo lançou quatro novos programas de apoio ao emprego, com foco na
integração de imigrantes, na empregabilidade jovem e na retenção de talento
qualificado em Portugal. Estão previstos incentivos financeiros e formação com vista à
criação de emprego e ao crescimento económico, organizados em diferentes programas,
designados Integrar, Estágios Iniciar, Emprego e Talento.
O Ministério da Saúde e a plataforma de cinco sindicatos de enfermeiros chegaram a acordo nas negociações sobre várias
matérias relativas à valorização da carreira, incluindo as tabelas salariais. O
presidente do Sindicato dos Enfermeiros falou num acordo negocial “muito mais
robusto do que propriamente o índice remuneratório”, tendo a ministra da Saúde explicado que este prevê um aumento
salarial de cerca de 20% até 2027, que começará a ser pago em novembro
deste ano.
Após conversações com a Comissão Europeia, o primeiro-ministro comunicou que Portugal teve luz verde para
aceder a 500 milhões de euros do fundo de coesão para responder aos prejuízos
provocados pelos incêndios. O levantamento dos prejuízos será feito em
conjunto com as autarquias e forças de segurança, e os lesados poderão pedir
uma comparticipação de até 100%.
Lá fora
Um ataque do exército israelita atingiu cerca de 1300 alvos do grupo Hezbollah no Líbano, o que provocou mais de 1600 feridos e 492 mortos, incluindo 35 crianças, segundo o balanço mais recente feito pelas autoridades libanesas. Enquanto o Governo libanês ativou um plano de emergência nacional para ajudar o "número considerável" de pessoas deslocadas, o primeiro-ministro israeilita veio esclarecer a política de Israel: "Não esperamos por uma ameaça, nós antecipamo-la. Em todos os lugares, em todos os cenários, a qualquer momento. Eliminamos altos funcionários, eliminamos terroristas, eliminamos mísseis", disse Netanyahu, que posteriormente recomendou aos cidadãos libaneses que se afastem das “zonas perigosas”.
FRASES
“Isto não é nem chantagem, nem
pressão política, é uma exigência democrática”
Luís Montenegro, sobre a necessidade de aprovação do OE 2025
O QUE ANDO A LER
Tantas vezes me foi recomendado e com tantos elogios que me decidi a levar “A Breve Vida das Flores” na bagagem para as férias. E foi boa a decisão, porque a disponibilidade dos dias de lazer fez justiça à avidez que as páginas pediram. Já não ando a ler na verdade, cheguei ao fim rapidamente, mas não deixo de o mencionar porque - falando da morte - na obra de Valérie Perrin cabem todas as coisas da vida, contadas através da guarda de cemitério Violette. Na calha está agora “Bambino a Roma”, de Chico Buarque, as memórias dos dois anos em que o autor viveu em Itália, ainda criança.
UM PODCAST QUE DEVE OUVIR
É uma companhia, para ouvir de
segunda a sexta. O 'Expresso da Manhã' acompanha a atualidade e ajuda
a pensar sobre ela, indo além da notícia. Esta terça-feira Paulo Baldaia
aprofunda a escalada por parte de Israel no Líbano, e como em causa
pode esta a passagem do conflito para uma guerra regional. Com ele conversa a
comentadora da SIC Maria João Tomás, investigadora e professora universitária
Por hoje é tudo. Online, continuará a encontrar no Expresso as notícias do dia.
Sem comentários:
Enviar um comentário