terça-feira, 24 de setembro de 2024

Desencontros de surdos: Eu comunico, tu comunicas, nós não comunicamos

Mafalda Ganhão, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

É a política a acontecer. Luís Montenegro garante que não quer pressionar a oposição, mas avisou a noite passada, na intervenção inicial do Conselho Nacional do PSD, que para o Governo é “imprescindível e imperioso” que todos tenham “sentido de responsabilidade" e "sentido de Estado”. Falava do Orçamento do Estado 2025, claro, parecendo-lhe "absolutamente incontornável que a interpretação do interesse nacional e coletivo deve conduzir" à sua aprovação. O primeiro-ministro também negou tratar-se de chantagem manifestar o entendimento de que "os duodécimos não são solução”, ao fazer saber aos partidos com quem tem de negociar - sem os nomear no discurso – que o Governo não está disponível para trabalhar nesse modelo, caso o OE não receba luz verde.

O recado ficou dado, as negociações estão por fazer. Certo é que, só na próxima sexta-feira, Pedro Nuno Santos irá reunir-se com Luís Montenegro sabendo que o Governo ainda não desistiu a 100% do Chega (e da IL), o que não é um detalhe. A duas semanas da entrega do Orçamento do Estado, a agitação nos bastidores políticos tem sido grande, com destaque para a intensa produção de comunicados com troca de acusações entre o líder socialista e o chefe do executivo. De um lado e do outro, a necessidade de comunicar ao país tem sido maior do que a comunicação entre eles próprios. Pedro Nuno Santos insiste que Montenegro quer eleições antecipadas e o primeiro-ministro reforça que um orçamento retificativo não é via desejável, não sem antes ter acusado o representanto do PS de falta de disponibilidade para discutir o tema (o que este desmentiu).

Mas nem tudo são estratégias desenhadas para os holofotes. Foram rodeadas de discrição as reuniões que já aconteceram (esta segunda-feira) entre Montenegro e o líder do Chega, André Ventura, como discreto foi o encontro mantido com Rui Rocha, da Iniciativa Liberal. “Não há reuniões secretas na Residência Oficial do Primeiro-Ministro”, sublinhou um comunicado do gabinete e Montenegro, mas sobre estas duas em concreto nada foi adiantado.

Enfim, como uma boa novela, o caminho para o OE tem intriga, algum romance, ação, mistério quanto baste e drama, garantido por outro protagonista de peso: o Presidente da República. “Se não houver Orçamento há uma crise política e económica”, disse Marcelo. Aguardam-se os próximos capítulos.

OUTRAS NOTÍCIAS

Por cá

O Governo lançou quatro novos programas de apoio ao emprego, com foco na integração de imigrantes, na empregabilidade jovem e na retenção de talento qualificado em Portugal. Estão previstos incentivos financeiros e formação com vista à criação de emprego e ao crescimento económico, organizados em diferentes programas, designados IntegrarEstágios IniciarEmprego e Talento.

O Ministério da Saúde e a plataforma de cinco sindicatos de enfermeiros chegaram a acordo nas negociações sobre várias matérias relativas à valorização da carreira, incluindo as tabelas salariais. O presidente do Sindicato dos Enfermeiros falou num acordo negocial “muito mais robusto do que propriamente o índice remuneratório”, tendo a ministra da Saúde explicado que este prevê um aumento salarial de cerca de 20% até 2027, que começará a ser pago em novembro deste ano.

Após conversações com a Comissão Europeia, o primeiro-ministro comunicou que Portugal teve luz verde para aceder a 500 milhões de euros do fundo de coesão para responder aos prejuízos provocados pelos incêndios. O levantamento dos prejuízos será feito em conjunto com as autarquias e forças de segurança, e os lesados poderão pedir uma comparticipação de até 100%.


Lá fora

Um ataque do exército israelita atingiu cerca de 1300 alvos do grupo Hezbollah no Líbano, o que provocou mais de 1600 feridos e 492 mortos, incluindo 35 crianças, segundo o balanço mais recente feito pelas autoridades libanesas. Enquanto o Governo libanês ativou um plano de emergência nacional para ajudar o "número considerável" de pessoas deslocadas, o primeiro-ministro israeilita veio esclarecer a política de Israel: "Não esperamos por uma ameaça, nós antecipamo-la. Em todos os lugares, em todos os cenários, a qualquer momento. Eliminamos altos funcionários, eliminamos terroristas, eliminamos mísseis", disse Netanyahu, que posteriormente recomendou aos cidadãos libaneses que se afastem das “zonas perigosas”.

FRASES

“Isto não é nem chantagem, nem pressão política, é uma exigência democrática”
Luís Montenegro, sobre a necessidade de aprovação do OE 2025

O QUE ANDO A LER

Tantas vezes me foi recomendado e com tantos elogios que me decidi a levar “A Breve Vida das Flores” na bagagem para as férias. E foi boa a decisão, porque a disponibilidade dos dias de lazer fez justiça à avidez que as páginas pediram. Já não ando a ler na verdade, cheguei ao fim rapidamente, mas não deixo de o mencionar porque - falando da morte - na obra de Valérie Perrin cabem todas as coisas da vida, contadas através da guarda de cemitério Violette. Na calha está agora “Bambino a Roma”, de Chico Buarque, as memórias dos dois anos em que o autor viveu em Itália, ainda criança.

UM PODCAST QUE DEVE OUVIR

É uma companhia, para ouvir de segunda a sexta. O 'Expresso da Manhã' acompanha a atualidade e ajuda a pensar sobre ela, indo além da notícia. Esta terça-feira Paulo Baldaia aprofunda a escalada por parte de Israel no Líbano, e como em causa pode esta a passagem do conflito para uma guerra regional. Com ele conversa a comentadora da SIC Maria João Tomás, investigadora e professora universitária

Por hoje é tudo. Online, continuará a encontrar no Expresso as notícias do dia.

Ler o Expresso

Sem comentários:

Mais lidas da semana