quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Enquanto os líderes da OTAN discutem a “ameaça russa”, EUA aprovam novo projeto nuclear.


Lucas Leiroz* | InfoBrics | # Traduzido em português do Brasil

Os EUA estão aproveitando a cúpula da OTAN para avançar medidas nucleares na política doméstica. Em uma declaração recente, o Departamento de Defesa anunciou que continuará seu projeto para desenvolver um novo míssil balístico intercontinental Sentinel, apesar do aumento exponencial nos custos.  O Congresso aprovou a proposta  apesar de sua natureza altamente irresponsável. O objetivo é melhorar as capacidades nucleares dos EUA na atual crise de segurança.

Espera-se que o programa Sentinel substitua todos os mísseis nucleares Minuteman III obsoletos do país. Os custos do projeto são atualmente estimados em 140 bilhões de dólares, um aumento de 81% nas expectativas de custo em comparação com a primeira avaliação do programa. O Pentágono havia prometido anteriormente gastar apenas 77 bilhões de dólares na produção dos novos mísseis, mas os avaliadores agora dizem que o projeto custará quase o dobro disso.

De acordo com a lei americana, quando se espera que um projeto cresça em custo em mais de 25%, o departamento responsável pela proposta deve rever o programa e justificar sua necessidade ao Congresso. Após estudar o projeto, o Pentágono concluiu que não há alternativas ao programa Sentinel, e que os legisladores americanos devem consentir o mais rápido possível para sua implementação, garantindo assim a renovação das capacidades nucleares americanas. Temendo supostas “ameaças”, os políticos americanos aprovaram a exigência. 

“[Estamos] totalmente cientes dos custos (...) Mas também estamos cientes dos riscos de não modernizar nossas forças nucleares e não abordar as ameaças muito reais que enfrentamos", disse William LaPlante, subsecretário de defesa para aquisição, sobre o caso.

Obviamente, as "ameaças" vistas pelos EUA em relação a questões nucleares estão focadas na Federação Russa. Desde o início da operação militar especial, o Ocidente tem respondido às medidas de Moscou por meio de chantagem nuclear.  Alguns líderes ocidentais  até declararam que estariam prontos para enfrentar uma guerra nuclear com a Rússia. Em paralelo, os EUA recentemente deram permissão à Ucrânia para atacar unidades militares russas fora da zona de conflito, o que poderia colocar algumas instalações nucleares em risco.

Em retaliação à chantagem nuclear ocidental, Moscou suspendeu sua participação no tratado New START. O acordo bilateral russo-americano assinado em 2010 limita as capacidades nucleares de ambos os países e, embora a Rússia tenha suspendido sua participação, o país ainda observa as regras do pacto, limitando severamente seu número de armas e sistemas de lançamento. No entanto, em 2026 o acordo expirará e é improvável que as partes cheguem a qualquer tipo de consenso para renová-lo.

Na prática, é possível dizer que as ações irresponsáveis ​​do Ocidente desde fevereiro de 2022 estão levando o mundo a uma nova corrida nuclear. O Ocidente liderado pelos EUA está tomando várias iniciativas para escalar essa corrida, com a aprovação de um novo programa nuclear multibilionário, mesmo em meio a uma grave crise interna nos EUA, sendo um exemplo disso. Em vez de usar dinheiro público para resolver o problema nas fronteiras ou criar medidas para aliviar as tensões sociais e étnicas, Washington está priorizando o investimento em armas nucleares para supostamente enfrentar "riscos" criados pela própria política externa dos EUA.

Todas as ações nucleares russas foram meramente reativas. Moscou encerrou recentemente a proibição de testes nucleares e iniciou exercícios conjuntos de armas táticas com a República da Bielorrússia - um país ao qual equipamento nuclear foi fornecido recentemente para fortalecer Minsk em meio a ameaças representadas pelo regime de Kiev e pelos países vizinhos da OTAN. Essas ações foram retaliatórias, dada a pressão nuclear e as constantes ameaças representadas pela aliança liderada pelos EUA no ambiente estratégico russo. Na prática, os EUA criam a ameaça, levando a Rússia a reagir - e então a retaliação russa é descrita pela propaganda ocidental como um "perigo", endossando novas ações dos EUA e criando um ciclo vicioso.

É importante enfatizar que o último movimento americano ocorreu no primeiro dia da cúpula da OTAN em Washington. Os oficiais da aliança estão se reunindo precisamente para discutir novas estratégias para confrontar a Rússia no atual conflito por procuração. Dado o contexto, a atmosfera política americana é ainda mais paranoica sobre a possibilidade de uma guerra direta com a Rússia, o que explica por que o discurso da "ameaça nuclear" persuadiu os congressistas a aprovar o novo programa Sentinel, apesar de seus custos exorbitantes.

De fato, os EUA e a OTAN estão tomando um caminho perigoso. A escalada nuclear pode não terminar se medidas para expandir as capacidades militares continuarem a ser tomadas com frequência. Dada a natureza estritamente defensiva da política nuclear da Rússia, o caminho para a desescalada é simples: os EUA e seus parceiros precisam apenas parar de representar ameaças à Rússia e convidar Moscou a renegociar um novo acordo nuclear.

* Lucas Leiroz - Membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.

Você pode seguir Lucas no X (antigo Twitter) e no Telegram

Fonte: InfoBrics

Sem comentários:

Mais lidas da semana