segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O Partido do Nunca Jamais -- Artur Queiro

Artur Queiroz*, Luanda

Adalberto da Costa Júnior foi a Paris ao beija-mão da Internacional Democrata Cristã, uma mafia extremista de direita. A Rádio França Internacional, emissão em português, entrevistou o chefe do Galo Negro. Disse de Angola o que Maomé jamais diria do toucinho. Provou, mais uma vez, que não é o líder da oposição. Nem sabe o que isso significa. Não passa de um maldizente equivocado, encadernado num fato comprado com os diamantes de sangue roubados pela UNITA ao longo de décadas, à sombra da agressão a Angola pelo regime de apartheid da África.

Adalberto provou, mais uma vez, que a UNITA é o partido do nunca jamais no poder em Angola. Nem os marginais a quem paga, aceitam fazer descer Angola a um nível tão rastejante. Não vou reproduzir as alarvidades disparadas pelo chefe do Galo Negro, por uma questão de higiene. Mas vou pegar no que disse sobre as eleições para o Poder Local.

Um líder político incapaz de analisar a realidade do seu país, não merece crédito. Adalberto está nessa situação. Na entrevista à RFI falou das províncias, dos municípios e comunas mas não foi capaz de dizer que entre 1975 e 1988 (trezes anos) Angola enfrentou uma guerra particularmente destruidora. No Norte, contra o Zaire, o ELP (tropa portuguesa que defendia o colonialismo e o fascismo), a CIA e matilhas de mercenários, Milhões de pessoas deslocaram-se para Luanda. A Sul do Cuanza a guerra foi contra os racistas de Pretória e seus aliados, sobretudo o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).

A UNITA de Jonas Savimbi serviu de biombo às agressões da África do Sul. Ajudou a destruir e matar. Escorraçou milhões de angolanos para Luanda e outras cidades do litoral. Ou refugiaram-se na Namíbia e Zâmbia. Não ficou pedra sobre pedra.

Após o Acordo de Nova Iorque começou em Angola o processo de reconstrução nacional. O Acordo de Bicesse permitiu expandir os projectos a todo o país. As eleições multipartidárias de 1992 ditaram a estrondosa derrota da UNITA. O MPLA venceu com maioria absoluta. Savimbi regressou à guerra. O pouco que estava reconstruído foi demolido. Um dia, ainda no seu refúgio do Bailundo, os jornalistas perguntaram a Jonas Savimbi porque a sua tropa partia tudo em Angola. E ele, com o seu pestilento bafo etílico respondeu: “Nós depois construímos melhor” 

As eleições para o Poder Local Democrático vão acontecer no modelo que o Poder Legislativo definir. Mas Adalberto da Costa Júnior tem de perceber que a UNITA destruiu ou ajudou a destruir Angola entre 1974 e 2002. Mais de 50 anos! Adalberto da Costa Júnior diz que ninguém o entrevista em Angola. Ele vinga-se e não lê, não ouve nem vê as matérias dos Media. Porque todos os dias há notícias do processo de desminagem em Angola. Ainda estamos a detectar e remover milhares de engenhos explosivos semeados durante a guerra que terminou no dia 22 de Fevereiro de 2002. 

Alguém explique aos sicários da UNITA que o Poder Local Democrático já existe. Governadores, administradores municipais e comunais estão nos seus postos, ao lado das populações. Enfrentando mil dificuldades. Removendo os escombros e construindo novas infra-estruturas. Fazem muito! No regime democrático há os eleitos mas também nomeados. Mas quem nomeia foi eleito. Tem a legitimidade do voto popular. Os ministros são nomeados por quem foi eleito. Os magistrados judiciais são nomeados. Ninguém no seu perfeito juízo vai dizer que não têm legitimidade ou que estão fora da Democracia Representativa.

Adalberto da Costa Júnior está tão empenhado no banditismo político que nem quer conhecer o país real. As suas posições são insultuosas para milhares de angolanas e angolanos que servem o Poder Local, quase sempre em condições muito difíceis. Ainda estão a remover os despojos da guerra de agressão dos racistas sul-africanos, apoiados pela UNITA de Jonas Savimbi. O chefe do Galo Negro falta ao respeito de milhares de angolanas e angolanos que servem o Poder Tradicional. Para ele as autoridades tradicionais são uma ameaça e não agentes imprescindíveis do Poder Local Democrático!

Na entrevista à RFI Adalberto foi ridículo. Comparou Angola com Cabo Verde. Segundo o chefe dos sicários da UNITA, o arquipélago tem poucos recursos mas o povo vive bem. Porque existem eleições para o Poder Local Democrático. Duvido que Adalberto saiba o que é um arquipélago. Fique sabendo que Cabo Verde tem dez ilhas nove das quais habitadas. Governar este território de uma forma centralizada é meio caminho andado para o fracasso. O Poder Local Democrático é a solução perfeita para resolver em primeiro lugar os problemas do povo.

Cabo Verde tem 600.000 habitantes. A População de Angola é superior a 35 milhões. Cabo Verde tem 4.000 quilómetros quadrados divididos em dez porções cercadas pelo mar. Angola tem 1.246.700 quilómetros quadrados. Em Cabo Verde nunca existiram Autoridades Tradicionais. Em Angola esse poder foi institucionalizado no final das guerras de ocupação, nas duas primeiras décadas do século XX. 

Cabo Verde, durante o regime colonial era o território com a mais elevada taxa de alfabetização. E o que tinha maior percentagem de habitantes com o ensino secundário. Batia até a “metrópole” onde o analfabetismo era política oficial do Estado. O ditador Salazar dizia que “aos portugueses basta aprender a ler, escrever e contar”. O regime colonial-fascista caiu há 50 anos e o panorama não mudou muito. O primeiro-ministro “Hoije” e o Matraquilho dos negócios com o estrangeiro são prova eloquente dessa tragédia. Mais os 50 deputados feios porcos e maus do partido Chega. 

As eleições para o Poder Local em Cabo Verde eram uma emergência. Em Angola são uma necessidade, dependente da remoção dos mil problemas criados pela UNITA nos anos que serviu o colonialismo português e o regime racista de Pretória. 

O MPLA anunciou a abertura de uma discussão pública sobre o tema. Espero que os sicários da UNITA sejam capazes de participar e contribuam com algo de positivo. Mas não vão para os debates com o exemplo de Cano Verde.

Dentro do mapa de Angola cabem os seguintes países europeus:  Andorra, Irlanda, Suíça, Malta, Holanda, Arménia Áustria, Portugal, Bulgária, Dinamarca, Mónaco, Moldávia, Macedónia, Grécia, Alemanha, Croácia, Estónia, Luxemburgo, Hungria . E ainda sobra algum território para os sicários da UNITA irem pastar. A descentralização é obrigatória. As eleições para o Poder Local Democrático são imprescindíveis. Elas vão acontecer no momento certo. A UNITA vai coleccionar centenas de derrotas. Mas já está habituada. Nasceram derrotados.

Adalberto da Costa Júnior devia estar grato aos Media angolanos por não o entrevistarem. Porque quando abre a boca, mostra o seu ódio a Angola e ao Povo Angolano. E mostra a sua infinita hipocrisia. A última é revoltante. O Grupo Parlamentar da UNITA emitiu um comunicado, assinalando o Dia Internacional de Nelson Mandela. Além de homenagear Mandela, o comunicado expressa “firme solidariedade” a Luzia Moniz, “perseguida pelo regime por orientações da Capital".

Revoltante. A UNITA de Savimbi lutou ao lado dos carcereiros de Nelson Mandela contra Angola. Foi aliada dos racistas de Pretória. Agora presta homenagem à sua vítima. E compara Mandela à pançuda Luzia Moniz! 

* Jornalista

* Escrito em 18.7.24 

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