terça-feira, 5 de novembro de 2024

O PESADELO AMERICANO

Isabel Leiria, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

É assim há 179 anos. De cada vez que há eleições federais é a uma terça-feira de novembro que os norte-americanos se deslocam às urnas para votar. No caso da eleição do Presidente, o partido mais votado em cada Estado fica com a totalidade dos delegados que o representam no colégio eleitoral, que irá depois escolher o 47º presidente dos EUA. Se será reeleito Donald Trump ou se vencerá Kamala Harris – a acontecer, seria a primeira mulher a consegui-lo – ninguém consegue antecipar. As eleições norte-americanas costumam ser quase sempre renhidas e estas, não só não fogem à regra, como a margem que separa os candidatos republicano e democrata continua a ser mínima, de acordo com as mais recentes sondagens.

Se na maioria dos Estados pode ser dada como certa a vitória de um ou outro candidato, o facto é que nem Harris nem Trump têm garantidos os 270 delegados que asseguram a sua eleição. Em sete Estados, representados por perto de uma centena de delegados, ninguém sabe para que lado vai cair a votação. Entre os chamados “swing states” estão o Arizona (11 delegados), Carolina do Norte (16), Geórgia (16), Nevada (6), Michigan (15), Wisconsin (10) e Pensilvânia, que com os seus 19 delegados é apontado como um dos cruciais para se ganhar uma vantagem decisiva na sucessão do atual Presidente e ex-candidato Joe Biden.

Mas na verdade, tudo pode acontecer, desde uma vitória relativamente folgada de um dos candidatos até a um empate. Problema: quanto mais renhida for a votação, maior a probabilidade de se agravarem as divisões numa América profundamente polarizada e que assistiu a uma campanha que ficou marcada pelos insultos entre candidatos – “burra” e “estúpida” foram apenas dois dos nomes que Trump usou em relação a Harris.

Se o desfecho for uma vitória da candidata democrata, que promete governar para a classe média, investir no combate às alterações climáticas e apoiar a Ucrânia pelo tempo que for preciso, então é quase certo que Donald Trump irá contestar a votação e dizer que foi vítima de fraude eleitoral. Tal como o fez há quatro anos, precipitando o ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021. Se o recandidato republicano voltar à Casa Branca, são esperadas decisões controversas, sobretudo na área da imigração, dos direitos das mulheres ou na política externa.

Na melhor das hipóteses, os resultados serão conhecidos a meio da madrugada de quarta-feira (em Portugal), mas é possível que a expectativa se prolongue por mais tempo se a disputa estiver muito renhida nos Estados decisivos e houver até necessidade de recontagens de votos. Há quatro anos, foi só no sábado seguinte que Joe Biden foi declarado vencedor. Depois se verá se o país do sonho americano não voltará a viver um pesadelo. O Expresso acompanhará em permanência o dia e a longa noite eleitoral.

Amanhã, o “Junte-se à Conversa” será dedicado ao dia seguinte às eleições e contará com a participação do diretor-adjunto do Expresso David Dinis e do editor de Internacional, Pedro Cordeiro. Inscreva-se aqui

OUTRAS NOTÍCIAS

Tragédia em Espanha Uma semana depois das chuvas torrenciais que caíram sobre Valência, a região continua a contar os mortos, a procurar vivos entre as muitas centenas de desaparecidos e a limpar ruas, casas, lojas, caves e tudo aquilo que foi abalroado por uma torrente de água, lama e pedras. Oficialmente, o balanço da tempestade vai em 217 vítimas mortais, número que irá seguramente subir. Os prejuízos materiais são ainda incalculáveis e mais de 100 mil carros ficaram destruídos e levados para abate. 7500 militares foram deslocados para a região. Já ontem, as chuvas torrenciais provocadas pelo DANA (Depressão Isolada nos Níveis Altos) atingiram Barcelona e Tarragona, na Catalunha, inundando estradas e provocando a suspensão de voos e comboios. O mau tempo em Portugal também motivou o alerta da Proteção Civil: chuvas fortes podem provocar inundações em zonas urbanas ou em locais nas margens dos rios.

“Um mau momento” O líder do PS visitou ontem os bairros do Zambujal e da Cova da Moura para chamar a atenção para os problemas e dificuldades de muitos dos bairros desfavorecidos que rodeiam a capital, mas acabou por ter de falar também das polémicas declarações do presidente da Câmara de Loures e presidente da federação distrital do PS. Ricardo Leão defendeu numa reunião de câmara que um “criminoso” que tenha participado nos distúrbios que se seguiram à morte de Odair Moniz - baleado por um agente da PSP -, e que seja titular de um contrato de arrendamento de uma casa gerida pelo município é para despejar “sem dó nem piedade”, tendo votado favoravelmente uma proposta do Chega nesse sentido. As posições do autarca de Loures mereceram críticas de vários elementos do PS, mas Pedro Nuno Santos optou por classificar como apenas um “mau momento” que não invalida o “trabalho muito importante para a população de Loures” que tem desenvolvido Ricardo Leão. E criticou o Governo por não ter ido ao terreno após os distúrbios que ocorreram. Esta terça-feira, o líder do PS reúne com sindicatos da PSP.

Aumentos na Função Pública Em 2025 e 2026, os funcionários públicos com vencimentos até 2674 euros terão garantida uma atualização nominal de 56,58 euros. Já as remunerações acima deste patamar serão atualizadas em 2,15%. Estes são alguns dos números que integram a última proposta do Governo apresentada aos sindicatos da Administração Pública.

Liga dos Campeões Hoje é dia de competição europeia e o ainda treinador do Sporting e futuro treinador do Manchester United, Rúben Amorim, vai defrontar aquele que será um dos seus principais rivais em Inglaterra, o Manchester City, de Pep Guardiola. Outro duelo que irá acontecer em Alvalade irá opor Vikor Gyökeres, o avançado atualmente com mais golos a jogar nos campeonatos na Europa, e Erling Halland, considerado um dos melhores atacantes do mundo. O jogo começa às 20h00 e será o último de Amorim no Estádio de Alvalade enquanto treinador do Sporting.

FRASES

“Esta noite, com o coração cheio, mas partido, devemos partilhar a notícia da morte do nosso pai e irmão Quincy Jones”, comunicado da família de Quincy Jones, após a morte do lendário produtor e compositor, aos 91 anos. Quincy Jones trabalhou com Michael Jackson, Frank Sinatra, Ray Charles, Louis Armstrong, Tony Bennet e dezenas de outros artistas e ficará para sempre conhecido como produtor da música “We are the World.

“O Estado não chega a estas pessoas, mas o carro da polícia chega sempre”, José António Pinto, sociólogo e assistente social, mais conhecido nos bairros mais complicados do Porto, com os quais trabalha há décadas, por “Chalana”.

OS NOSSOS PODCASTS

EUA estão “mais conservadores do que em 2016” e isso "favorece" Trump nas eleições: Daniela Nunes, investigadora no Instituto d Estudos Políticos da Universidade Católica, e Nuno Gouveia, especialista em política norte-americana analisam as presidenciais nos Estados Unidos no podcast O Mundo a Seus Pés. No podcast Expresso da Manhã, as eleições norte-americanas são também o tema da conversa entre Paulo Baldaia e o diretor de informação da SIC e enviado aos EUA, Ricardo Costa.

Há uma nova operadora de telecomunicações a operar em Portugal. Saiba o que esta empresa romena traz de diferente para o mercado nacional no podcast Economia Dia a Dia.

O QUE ANDO A LER

"Caos Calmo", por Sandro Veronesi (Ed. Asa)

Depois da morte repentina da mulher, Pietro Paladini decide deixar de ir ao escritório e passar todos os dias da semana dentro do carro ou sentado num banco em frente à escola da filha, enquanto espera pela sua saída e que Cláudia o veja ali pela janela da sala de aula. Enquanto aguarda, trabalha, faz listas mentais – as companhias aéreas em que já viajou, as mulheres que beijou, os cometas que viu passar – e recebe visitas, num estranho luto e uma aparente incapacidade de sofrer pela perda que teve.

Ao invés de desfiar mágoas, é o mundo à sua volta que parece estar a desabar, com as invejas e traições no local de trabalho relatadas pelos colegas, a instabilidade da vida amorosa da cunhada ou as discussões de condutores enfurecidos no trânsito numa rua de Milão. O livro de Veronesi, um dos mais reconhecidos escritores italianos da sua geração, foi adaptado ao cinema em 2008, com o realizador e ator Nani Moretti a assumir o papel de protagonista.

Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma ótima semana.

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