Artur Queiroz*, Luanda
Angola até aos anos 60 era território de cronistas. Esse filão jornalístico e literário vem desde a Imprensa Livre, nascida em meados do Século XIX. Tenho pena que os jovens de hoje não conheçam os grandes mestres da Crónica Angolana. Pedro Paixão Franco escreveu crónicas belíssimas sobre o crime da escravatura, que prosseguia após a sua abolição. José de Fontes Pereira cronicou sobre o pé descalço e a embriaguez pública. Pedro Félix Machado assinou crónicas soberbas. Leiam por favor o seu romance “Scenas d'Africa”.
Nos anos 40 do século passado surgiu o cronista Ernesto Lara Filho. A expressão máxima da Crónica Angolana. Em 1990 publiquei o livro “Crónicas da Roda Gigante”, uma seleção dos seus melhores textos publicados na imprensa angolana, portuguesa e brasileira. Foi o culminar de uma recolha que durou quase dez anos.
Nos anos 60 surgiram os novos cronistas: Zé Andrade (Grande Música Negra), David Mestre, João Serra ou este vosso criado com “Crónicas de Viagens”. Viajava em frente aos prédios e moradias. Contava o que se passava para lá das paredes e janelas. Olhem ali uma criança dormitando sobre os livros quando fazia os trabalhos de casa! Fechei a loja com as “Crónicas à Média Luz” no Jornal de Angola.
A paixão pela Crónica Angolana levou-me a coleccionar textos ao longo dos anos. Um dia vou publicar as cem melhores crónicas publicadas depois da Independência Nacional. Já tenho muitas. A lista abre com os últimos textos publicados por Ernesto Lara Filho, no Diário de Luanda. Leiam por favor as suas memórias quando foi prisioneiro de guerra no Huambo. Savimbi tomou de assalto a cidade e tentou matar todos os militantes ou apoiantes do MPLA. Muito anos depois o criminoso de guerra assassinou o médico David Bernardino e o engenheiro agrónomo e investigador científico Fernando Marcelino. O Corredor do Lobito é um dos maiores admiradores do assassino.
Na minha colecção estão textos de José (agora também ZAN) Andrade, João Serra, David Mestre, Morros do Sombreiro de Jaime Azulay, o Meu Cazenga de Cândido Bessa, três crónicas de Pereira Dinis, uma crónica à média luz (também tenho de entrar, sou o dono da bola…), crónicas de Honorato Silva. Ou duas crónicas de Rossana Miranda, a única angolana que levantou a bandeira da Crónica, tomando o testemunho da incomensurável Edite Soeiro, a primeira jornalista angolana. Começou a trabalhar em 1950, no jornal O Intransigente, de Gastão Vinagre.
Joca Luandense foi o cronista dos cronistas de Luanda. Tínhamos uma parceria. Eu sentava-me à frente da desconjuntada Hermes Baby, uma maquineta de escrever, e ele ditava. Escreve aí! E eu escrevia. Depois de lambermos cem vezes o texto, saía crónica. Mais tarde fiz parcerias em reportagens com jornalistas de imenso talento, homens e mulheres, na Redacção do Jornal de Angola. Do melhor que fiz na vida. Parceiros inesquecíveis: Pereira Diniz, Paulino Damião (50), Arcângela Rodrigues e Adalberto Ceita.
A partir de hoje vou juntar aos meus textos, uma crónica de J. Bazeza. A rubrica chama-se MENTIRA COMPARADA. Sai quando calha, o cronista é muito incerto de relógio. O primeiro contacto chama-se “Muceque Governado a Cinco Estrelas”. Podem crer que é do melhor que há na Crónica Angolana.Ler no final: MENTIRA COMPARADA - Musseque Governado a Cinco Estrelas
Graça Campos deve ser o único bêbado da valeta que tem tempo de antena sem limites. Uma bela manhã, vergado ao peso dos copos, deu uma entrevista à Luanda Antena Comercial (LAC) na qual disparou insultos e calúnias sobre os seus inimigos de ocasião. O jornalista Luís Fernando foi a sua principal vítima. Num país a sério, um jornalista que tivesse este comportamento público não voltava a desacreditar a classe e o Jornalismo Angolano. O borrachão ia para Malanje criar cães de guarda. Mas ele continuou à frente do “Angolense” e continua na crista da onda. É o chefe do bando. Mas isto passa. Já vivemos tempos mil vezes piores e o Jornalismo triunfou.
O borrachão era testemunha no processo que me foi movido por Matadi Daniel. Imagino a frustração da matilha quando a meritíssima magistrada judicial disse alto e bom som que no processo não havia nada contra mim. Conclusão: Ainda tiveram que pagar. Graça Campos devia estar tão carregado de copos que confundiu a digníssima magistrada do Ministério Público com o funcionário judicial. Que carregamento de copos! Se a audiência tivesse acontecido, ia ser bonito ele a responder no estilo que usou na entrevista à LAC, podre de bêbado.
Hoje o beberrão (dizem-me que deixou de beber pelos olhos!) incita a Embaixada de Angola em Portugal a mover-me um processo judicial por insultar sua excelência o Corredor do Lobito e o Chefe Miala. Estão a perceber por que razão o beberrão continua na crista da onda? Estes artistas acabam sempre por mostrar ao serviço de quem estão. Em que canil comem a ração. O Jornalismo Angolano merece muito melhor mas está nas mãos do pior.
Hoje vou repetir o que disse no Tribunal. Há dez anos que não publico nada em nenhum jornal do mundo. Não frequento e jamais frequentarei as redes sociais. Mas como qualquer jornalista profissional, escrevo todos os dias. E muito. O texto que levou Matadi Daniel a apresentar queixa contra mim, não é de minha autoria. Pura desinformação e manipulação. Sabem quem é perito nessa matéria? O chefe Miala. E o seu coro ladrador do qual faz parte Graça Campos. Às tantas foi ele que escreveu aquele chorrilho de insultos para me incriminar!
O beberrão do canil diz que sou racista. Está na linha de sempre. Quando recebia no “Angolense” o salário da bufaria, desferiu contra mim asquerosos ataques racistas. Não reagi porque nos canis só vivem bichos irracionais.
Um jornalista presta-se ao papel de testemunhar contra um jornalista sem saber nada do processo. Foi o que fez Graça Campos. Um jornalista instiga a Embaixada de Angola a mover um processo judicial contra um jornalista. Assim fez Graça Campos. Este está dentro da média. Um dia destes também se demarca das declarações do senhor “Riquinho”. Há serventes para tudo, desde calçar as botas aos patrões até carregá-los às costas. Ainda não conhecem a tipoia. Pobres diabos.
* Jornalista
MENTIRA COMPARADA
Muceque Governado a Cinco Estrelas
J. Bazeza, Luanda
Na Sanzala há sempre mais. É tudo em grande como o contrabando de petróleo e ouro ou a kamanga de diamantes. Os grandes negócios da Endiama são em Kinshasa.
Os viventes estão cansados dos
pedidos de mais sacrifícios e das promessas de dias melhores.
Os povos da Sanzala, que fazem um só Povo, uma só Nação, não estão a agir muito.
Estão agindo apenas refeições condignas, saúde de qualidade, educação sem
alunos a estudarem debaixo das árvores e sentados nas latas de leite. Como os
condenados do Muceque gostam, porque dá vontade de viver.
Boca Azul, um visitante sofisticado do Muceque, ontem, junto dos amigáveis, disse que os dirigentes da banda trabalham que trabalham.
Os dirigentes abençoados e endeusados estão sempre com as comunidades para saberem de perto os verdadeiros problemas que vivem.
O Boca deu exemplo da ministra de
Estado para os Assuntos Sociais que agora vive
O Mafioso não acreditou nas palavras do Boca e questionou: Como assim? Onde é que ela encontrou dinheiro para colmatar essa situação tão dispendiosa? Na China?
O Boca respondeu!
Se o orçamento foi aprovado é porque há dinheiro para todas as situações. E sempre aparece, quando se tem vontade. Porque há fundos para passeios, viagens, galas, migalhas e miudezas que um só povo gosta.
O Mafioso, sem fazer um exercício mental difícil, reconheceu que os dirigentes da Sanzala estão mais engravatados. Falam mais caro. Prometem muito mais.
Os técnicos da Sanzala acampam nos gabinetes enquanto aguardam pelos documentos. Vivem de papéis. Comem papelada. O que é isto? Demora muito tempo a chegar o seu verdadeiro papel: Servidores! Sirva-se. Sirva-se. E o Silva, aflito e inseguro perguntou ao Boca: Faço como? Faço como? A saga dos técnicos da Sanzala.
O Mafioso, sem se deter, disse mais e muito mais: Se os dirigentes da Sanzala copiassem o estilo de governação ditado pelo Boca Azul, os sanzaleiros estavam com eles nos bons e maus momentos.
Boca Azul disparou uma sentença quando um só povo começou a ficar inquieto: Os vizinhos da Sanzala apenas aguardam mais uns amigos para levar ao Tribunal do Povo estes estilos governativos. Vão ser julgados os ministros que nem sabem o que as famílias vão comer no dia de hoje, amanhã, depois, depois, depois.
Depois sai indulto aos absolvidos!
Sem comentários:
Enviar um comentário