quarta-feira, 14 de maio de 2025

Portugal | CORAGEM PARA OLHAR EM FRENTE

João Oliveira* | Diário de Notícias, opinião

Já sentiu a desilusão de ter votado em quem depois acabou por faltar às promessas que tinha feito? Já sentiu que o seu voto foi inútil porque quem o recebeu depois não esteve lá quando precisou? Está hoje a duvidar se vai mesmo votar porque não quer repetir a desilusão ou o arrependimento de ter votado em quem votou? Sente que a sua inclinação de voto deixará tudo na mesma, sem que nada melhore?

Então este texto é para si.

As linhas de hoje escrevo-as para quem está na dúvida se vai votar ou na dúvida em quem vota por saber à partida que a inclinação de voto que tem hoje deixará tudo o que é importante na mesma.

O que marca mais o ambiente político e eleitoral é o sentimento de muita gente que está descontente, desanimada, frustrada com o rumo que a política tem levado.

Muita dessa gente pensa em desistir de votar julgando que assim deixará de lhe pesar a consciência ou de se sentir comprometida com o que resultar das eleições. O risco de uma abstenção elevada nas próximas eleições é grande.

Muita outra gente, não pensando em desistir de votar, não se liberta das amarras que lhe atam o voto a forças políticas que, uma vez após a outra, acabam por ser motivo de desilusão e arrependimento. Pior que tudo, desilusão e arrependimento quando o voto já está dado e não há como o alterar. Repetindo as mesmas opções, o risco de continuar tudo a caminhar no mesmo sentido, ficando tudo pior, é também ele um risco grande.

Que opção há, afinal, a fazer?

Aqueles a quem pesa a responsabilidade de terem conduzido o país à situação em que está e que não querem mudar de caminho dirão que é impossível mudar o que quer que seja. Que mantendo a fé no mesmo rumo a algum sítio diferente havemos de conseguir chegar. Que o melhor com que se pode contar é com alguns pequenos remendos que haja a oportunidade de pôr, já agora, com a cola e os retalhos que têm para oferecer.

Os vendedores da banha da cobra dirão, por seu turno, coisa diferente consoante o tipo da cobra a que foram buscar a banha. Que têm soluções fáceis para tudo e já ao virar da esquina, bastando a tinta da caneta ir parar ao seu quadrado. Que, dando-se-lhe oportunidade para isso, virarão tudo das avessas e com tudo às avessas viveremos, então sim, nos conformes. Que por eles já todos os problemas estariam resolvidos e basta que neles se confie cegamente para que isso aconteça.

No discurso de uns e de outros a mesma dispensa de coragem na opção a fazer.

Ora, é precisamente na coragem que está uma das referências necessárias. Na coragem da opção do voto mas, sobretudo, na coragem de olhar para a frente e pensar no que vem amanhã.

Quando, amanhã, aparecerem as dificuldades, quem terá a coragem de lutar, a coragem de estar ao lado de quem luta?

E com que força poderá contar a gente que luta?

Para tudo na vida é preciso coragem. Sobretudo quando se trata de lutar para mudar de vida, é mesmo preciso coragem.

Para mudar a vida de um país não será suficiente apenas a coragem do voto. É preciso coragem muito para além do voto. Mas a coragem do voto dá uma boa ajuda.

* Eurodeputado

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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