domingo, 15 de maio de 2011

Renúncia de negociador de Obama no Oriente Médio é lida como afronta




CORREIO DO BRASIL, com agências internacionais - de Washington

O enviado norte-americano para o Oriente Médio, George Mitchell, de 77 anos, comunicou ao presidente norte-americano, Barack Obama, que pretende deixar o cargo no próximo dia 20 de maio. A notícia foi divulgada pela Casa Branca véspera, em Washington.

A renúncia de George Mitchell, ex-senador pelo Estado norte-americano do Maine e emissário para o Oriente Médio estimado por Obama, não veio de surpresa. Mas a data da renúncia soa como uma afronta contra seu próprio governo. Justamente no dia 19 de maio, o presidente dos Estados Unidos pretende proferir um discurso sobre os acontecimentos nos países árabes e no Oriente Médio, em que irá abordar também a solução de dois Estados para Palestina e Israel. E um dia depois o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, inicia em Washington sua visita de quatro dias aos EUA.

Diplomata experiente

Quando Obama apresentou George Mitchell como seu emissário para o Oriente Médio, após sua posse no início de 2009, eram grandes as esperanças de que Mitchell pudesse fazer avançar as negociações entre israelenses e palestinos.

Na ocasião, a convocação de um diplomata experiente e antigo enviado especial para a Irlanda do Norte foi interpretada como sinal da importância que o novo presidente pretendia conferir ao conflito no Oriente Médio. Mitchell, um peso-pesado da diplomacia, parecia ser capaz de cumprir a promessa de Obama, de mudar o quadro dos conflitos no Oriente Médio.

Incansável, Mitchell buscou o diálogo com os protagonistas do conflito, implorando ao governo israelense e à Autoridade Palestina para que restabelecessem as conversações de paz.

Sua tarefa ficou ainda mais difícil após a posse de Benjamin Netanyahu à frente do governo israelense, no início de 2009. Até hoje, Netanyahu defende uma política linha-dura no Oriente Médio.

Missões (quase) impossíveis

Apesar disso, os esforços de Mitchell resultaram, em setembro de 2010, nas primeiras conversações diretas de paz depois de quase dois anos. No entanto, ambos os lados haviam estabelecido previamente suas condições.

Enquanto Netanyahu exigia que os palestinos desistissem da violência e reconhecessem Israel como Estado judeu, o presidente palestino Mahmoud Abbas estabeleceu como condição o congelamento completo da construção de novos assentamentos israelenses na Cisjordânia.

As negociações fracassaram em menos de um mês, porque Israel se recusara a prorrogar a moratória na construção de assentamentos. Apesar disso, Mitchell não desistiu, mas desde o início deste ano sua agenda de compromissos se tornara visivelmente mais vazia.

No entanto, Mitchell estava acostumado a missões quase impossíveis. Durante as conversações de paz na Irlanda do Norte nos anos 1990, ele conseguiu com paciência, tolerância e uma pitada de pragmatismo ganhar a confiança tanto de católicos quanto de protestantes.

Golpe duro

A saída de Mitchell acontece num momento em que o conflito no Oriente Médio volta à agenda do governo norte-americano. Embora ao assumir o posto ele tenha dito que ficaria apenas por dois anos, outras razões para sua saída não foram divulgadas. Também na declaração da Casa Branca o presidente norte-americano não menciona motivos para a renúncia de George Mitchell.

No documento, Obama aceita a saída com a observação de que Mitchell teria prestado uma imensa colaboração à meta de solucionar o impasse no Oriente Médio.

Para Obama, a renúncia de Mitchell é um duro golpe. Mas, na opinião da mídia norte-americana, o enviado para o Oriente Médio já teria encerrado sua missão como mediador, de fato, há meses.

Objetivo distante

Um Estado viável para os palestinos ao lado de um Estado Israel seguro era a visão de Mitchell. Esse objetivo, no entanto, ficou ainda mais distante desde as mudanças no mundo árabe: Hamas e Fatah uniram forças contra Israel. O Egito, que proporcionou essa aproximação, não tem mais quase nenhuma chance de mediação entre palestinos e israelenses.

E o governo israelense se sente mais isolado do que nunca após a queda do ex-presidente egípcio Mubarak. Atualmente, Netanyahu só tem um interesse: evitar o reconhecimento do Estado Palestino pelas Nações Unidas em setembro próximo.

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