domingo, 19 de junho de 2011

Portugal: Cerca de 300 pessoas assistiram à cerimónia de deposição das cinzas de Saramago





Cerca de 300 pessoas assistiram hoje à cerimónia de deposição das cinzas de José Saramago debaixo de uma oliveira transplantada da sua aldeia natal junto à Casa dos Bicos, futura sede da fundação com o nome do escritor.

Exatamente um ano depois da sua morte, a 18 de junho de 2010, e à mesma  hora a que morreu, 11:30, iniciou-se a cerimónia de homenagem ao Nobel da  Literatura português, no Campo das Cebolas, em Lisboa, ao som dos tambores  da orquestra de percussão Tocá Rufar.     

Seguiu-se uma intervenção do professor e cantor lírico Jorge Vaz de  Carvalho, que leu um texto de Saramago sobre a cidade de Lisboa, intitulado  "Palavras para Uma Cidade". 

 À esquerda do estrado, Pilar del Río, viúva do escritor e presidente  da Fundação José Saramago, ouvia com ar enlevado e rosas brancas na mão,  e a multidão escutava em silêncio, protegendo-se do sol do fim da manhã  com os livros do autor de "Memorial do Convento" trazidos de casa.  "Basta que Lisboa seja o que deve ser: culta, moderna, limpa, organizada,  sem perder nada da sua alma", leu Vaz de Carvalho. 

A escritora Lídia Jorge tomou depois a palavra para, em tom emocionado,  partilhar com os presentes uma mensagem para Saramago, intitulada "Palavras  para Ti". 

 "Tu não serás as cinzas que Pilar vai depositar sob a oliveira (...),  serás os milhares de páginas que escreveste (...) De resto, nós queremos  que este momento seja alegre, que sejas seiva desta cidade", afirmou. 

 "Quanto a nós, enquanto formos vivos, recordar-te-emos sempre. Não temos  outra eternidade para te dar", rematou. 

Em seguida, Pilar del Río colocou as cinzas junto às raízes da oliveira,  escolhida pelo presidente da junta de freguesia da Azinhaga do Ribatejo  por ser aquela onde ele imaginava que pudesse estar o lagarto verde que  Saramago descreve no seu livro "As Pequenas Memórias". 

As cinzas foram cobertas por terra de Lanzarote, colocada pelo presidente  da Câmara Municipal de Lisboa no canteiro onde se encontra plantada a árvore,  junto a um banco de mármore e ladeada de duas placas de pedra embutidas  no chão, lendo-se na primeira, do lado esquerdo, "José Saramago 1922-2010"  e na outra a última frase do romance "Memorial do Convento": "Mas não subiu  para as estrelas, se à terra pertencia". 

Assistiram à homenagem a filha do escritor, Violante Saramago Matos,  e a neta, Ana Saramago Matos, o seu editor, Zeferino Coelho, o poeta Nuno  Júdice, a ministra da Cultura cessante, Gabriela Canavilhas, o diretor da  Biblioteca Nacional, Jorge Couto, e o secretário-geral do PCP, Jerónimo  de Sousa, entre muitos outros, amigos e anónimos, portugueses e estrangeiros.  "A minha presença significa uma homenagem ao escritor, ao comunista,  ao homem que deu uma contribuição valiosa no plano da literatura para o  prestígio internacional do nosso país. E simultaneamente que deixou um legado  histórico que deve ser sempre lembrado como o fizemos hoje aqui nesta celebração",  disse o dirigente do PCP à Lusa.

No final da cerimónia, Pilar del Río também falou à imprensa, visivelmente  comovida, para dizer que "a cerimónia ultrapassou as melhores expectativas":  "Foi simples, solene, íntima, profunda", observou.  
       
Com Lusa

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