sexta-feira, 29 de julho de 2011

ECONOMIA COLORIDA





Até recentemente, a ideia de “economia verde” era tida como um devaneio de ambientalistas, sem base teórica. Com o acirramento da crise ambiental, a “economia verde” ganhou legitimidade, apesar de ainda não ser analisada (desconsiderada) pelos economistas tradicionais porque, ao buscar alternativas sustentáveis para o processo produtivo, ela desrespeita os fundamentos da teoria atual. A utilização de preços diferentes do mercado de curto prazo e a restrição ao uso de certos recursos naturais ainda incomodam economistas. Mas a economia do século XXI não pode continuar amarrada, como a do século XX, à ideia de que a estrutura de preços momentâneos é capaz de orientar o futuro. Sabemos que as chamadas externalidades, os impactos externos à economia e ao imediato, precisam ser consideradas.

Keynes dizia que no longo prazo todos estaremos mortos, por isso, o futuro distante não importava. Mas no seu tempo o problema ambiental não existia e a economia não tinha poder de influir no longo prazo. Daqui para a frente, a sustentabilidade ambiental é condição necessária a ser considerada em qualquer economia sólida. A crise ecológica se acirrou de tal forma, e tão rapidamente, que a simples mudança nos preços, justificando a preferência por recursos renováveis, já não é suficiente para enfrentar os problemas adiante. Mesmo assim, antes de ser aceita, a economia verde já nasceu velha: porque não basta o equilíbrio ecológico.

A substituição de combustíveis fósseis por renováveis pode gerar um efeito bumerangue: o acomodamento diante da crise; e não basta a “economia verde” em cada carro, se no nível macro o número de carros cresce tanto que as florestas darão lugar a plantações de cana para alimentar toda a frota.

Também não basta a economia substituir o combustível fóssil por renovável se o perfil da demanda continuar voltado para a minoria de renda superior. A economia que dinamiza seu crescimento produzindo bens caros para a minoria, concentrando a renda, pode ser verde, mas não é a economia que o futuro precisa. Não vale a pena a “economia verde” salvar o planeta, se salvá-lo apenas para poucos. A economia do futuro precisa ser verde – no uso dos recursos naturais – e vermelha no destino de seus produtos. Precisamos de uma economia que atenda as necessidades sociais como, por exemplo, a erradicação da pobreza, a diminuição da desigualdade e a ampliação do emprego. Uma economia com valores éticos, capaz de entender que na educação e na saúde a desigualdade é imoral. Enfim, uma economia vermelha.

A economia precisa definir o conceito de riqueza. Uma “economia branca” voltada para ampliar o bem-estar e não para destruir. A produção de armas não deve ser considerada como resultado positivo da economia, embora seja importante para a defesa. O valor do PIB deve descontar a produção dos bens de destruição e serviços de segurança e também o tempo perdido pelas pessoas na ida e vinda diária de um lugar para o outro.

A economia também precisa ser amarela e manter como símbolo os produtos da ciência e da alta tecnologia. A competitividade pela redução de custos, em geral pelo desemprego, não pode ser indicador da economia do futuro. A competitividade deve estar na capacidade de invenção de novos produtos capazes de elevar o bem-estar das pessoas. Para isso ela deve ter por base os cérebros, não mais mãos e braços.

Finalmente, a economia tem que ser azul e considerar o bem-estar como mais importante do que a produção. A abolição do analfabetismo não pode ser medida apenas pelo aumento de renda do alfabetizado. O PIB baseado em automóveis que engarrafam o trânsito, mesmo com carros elétricos, ou que fluem graças a viadutos construídos em vez de escolas, hospitais e sistemas de água e esgoto, não pode ser considerado como indicador da economia do futuro. Mais importante é uma economia que libere tempo dos trabalhadores e aumente os bens públicos e aqueles imateriais da cultura. A “economia azul” deve buscar eliminar os entraves que dificultam a busca da felicidade. Pode inclusive optar por um decrescimento do PIB como forma de aumentar o bem-estar.

A “economia verde” começou a ser aceita, mas ela não representa a metáfora certa. Pelo menos cinco cores são necessárias para definir a economia do futuro: o verde da sustentabilidade ambiental; o vermelho da justiça social; o branco de uma economia produtiva para a paz; o amarelo da criação de bens de alta tecnologia; e o azul da economia comprometida mais com o bem-estar do que com a produção e a renda.

*Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF. Visite o blog de Cristovam: http://www.cristovam.org.br

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