domingo, 24 de julho de 2011

Massacre na Noruega: Suspeito admite matança mas não reconhece acto como crime




AUGUSTO CORREIA – JORNAL DE NOTÍCIAS

O pai de Anders Breivik confessou a comoção de ver o filho como único suspeito do massacre de mais de 90 pessoas na Noruega. Autor confesso, não reconhece os actos como crime e é um exemplo do extremismo de direita que escapou ao radar, centrado no islamismo.

O suspeito dos ataques causaram mais de 90 mortos, na Noruega, vai ser apresentado, esta segunda-feira, a um juiz "para decidir a prisão preventiva", afirmou o comissário Sveinung Sponheim, da polícia de Oslo.

De acordo com a legislação norueguesa, o juiz pode decidir a prisão preventiva por um máximo de quatro semanas, que pode ser renovada numa nova audiência no final desse período.

Anders Breivik Behring foi ouvido pela polícia nos últimos dois dias e mantêm-se como o único suspeito do duplo atentado que chocou a Noruega. "Ele reconheceu os factos, mas não reconhece responsabilidade criminal pelos mesmos", disse o comissário Sveinung Sponheim.

"Durante os interrogatórios, disse que agiu sozinho. Isso está a ser investigado", acrescentou. Este domingo, a polícia colocou em marcha na cidade de Oslo uma acção anti-terrorista, sem êxito. Seis pessoas, suspeitas de fornecer explosivos a Anders Breivik, foram detidas e mais tarde libertadas por não se ter provado qualquer relação com o duplo atentado.

A polícia não descarta a hipótese de haver "um ou vários atiradores", suportando a tese, que contraria a versão de Breivik, autor confesso do massacre, em testemunhos de vítimas. Em conferência de Imprensa, a polícia explicou, ontem, que demorou cerca de 20 minutos a parar o atirador.

A operação começou às 18.09 horas, quando as forças especiais chegaram à ilha, e Breivik foi detido às 18.27. "Tinha duas armas e uma grande quantidade de munições. A detenção impediu que continuasse a matar", disse o chefe de Estado maior norueguês, John Frediksen, na conferência de Imprensa com a polícia.

O Comissário Sponheim confessou que Breivik matou um polícia, o único presente na ilha, antes de começar a disparar sobre os jovens. Pouco antes de começar a matança, iniciada com a explosão de uma bomba no centro de Oslo, Breivik publicou na Internet um manifesto de 1500 páginas, muitas delas copiadas de um texto do terrorista norte-americano Ted Kaczynski, conhecido como o Unabomber, revelou o tablóide norueguês "VG".

Pejado de diatribes islamofóbicas e antimarxistas, escrito em inglês por Andrew Berwick, pseudónimo de Anders Breivik, e intitulado "Uma declaração Europeia de Independência - 2083", o manifesto evoca "o uso do terrorismo como um meio de acordar as massas", conta a France-Press.

"A islamofobia, como parece ser o caso, cegou Breivik para os horrores e contradições dos seus actos", escreveu Joshua Stanton, co-fundador do Jornal do Diálogo Inter-religioso e da Liberdade Religiosa nos EUA. "Se a ironia, distorcida e negra, existe, é uma: Breivik diz que está a salvar a Europa dos muçulmanos ao atacar violentamente um evento organizado por um governo eleito democraticamente", acrescentou.

"As palavras contam e não podem ser ignoradas. A islamofobia, que conhecemos em Oslo, pode ser o ponto de ignição de brutalidade inimaginável", acrescenta Stanton, que concluiu que a islamofobia não está confinada a meras palavras contra os muçulmanos e que tem potencial para se tornar violenta.

Breivik é um exemplo de uma nova forma de terrorismo alimentada pela rejeição ao Islão, acrescenta Daniel Poohl, da fundação sueca Expo, um observatório de referência das actividades de extrema-direita, muito organizadas e violentas na Suécia. "Justifica-se com a ideia de que as populações nórdicas estão ameaçadas pelos islamistas", acrescentou Robert Örel, da fundação Exit, que actua sobre os fenómenos nacionalistas, racistas ou nazis.

Para muitos o extremismo de direita ficou abaixo dos radares. "O extremismo de direita, como de esquerda, não representará uma ameaça séria para a sociedade norueguesa, em 2011. É o extremismo islamista que, acima de todos, representa uma ameaça directa", pode ler-se num relatório dos serviços secretos noruegueses.

"Nos últimos 10 anos, os serviços secretos britânicos concentraram na al-Qaeda e no IRA, deixando uma grande buraco na cobertura da extrema-direita", argumenta Mattew Goodwin, professor da Universidade de Nottingham. "Os países escandinavos estão também implicados no Afegansitão e no Iraque e têm o mesmo problema", acrescentou.

Os sites na Internet próximos dos grupos islamitas recomendam que não sejam reivindicados os ataques perpetrados na sexta-feira na Noruega por temerem "represálias" contra os muçulmanos que habitam este país. O papa Bento XVI pediu que seja abandonada "para sempre a via do ódio" e "a lógica do mal", ao recordar as vítimas dos atentados, numa missa em Roma.

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