quinta-feira, 28 de julho de 2011

“Notava-se um pouco de raiva, alguns gritavam 'Traidor'”, conta brasileiro em Oslo




Aline Scarso – Brasil de Fato

A ação de Anders Behring Breivik, que matou 76 pessoas em dois ataques na sexta-feira (22) na Noruega, mostrou até onde pode chegar o xenofobismo da extrema-direita europeia. Breivik, que assumiu a autoria dos ataques em Oslo e na ilha de Utoya, disse em juízo que tentou defender o seu país e a Europa do islamismo e do marxismo e que os atentados deram “um sinal claro às pessoas”.

À justiça, o atirador afirmou que o Partido Trabalhista, do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, pagou o preço ao trair o país com a abertura de suas fronteiras aos muçulmanos. Breivik teve a prisão preventiva declarada por oito semana, sendo quatro delas em forma de isolamento, sem receber cartas, visitas ou jornais.

Apresentado pelas autoridades como "fundamentalista cristão", Breivik é ex-militante da juventude do Partido do Progresso (FrP), segundo maior partido da Noruega e que defende políticas duras contra a imigração e a islamização da sociedade norueguesa. O crescimento do neo-nazismo por todo o continente tem sido denunciado por movimentos sociais e cientistas políticos, que indicam a existência de uma organização internacional com atuação na Europa e nos Estados Unidos.

Nessa segunda-feira (25), o dia foi de luto e de tristeza em toda a Noruega, especialmente na capital Oslo, onde os noruegueses prestaram homenagens às vítimas do massacre em vários pontos da cidade.

Conversamos por email com o programador de informática e imigrante brasileiro, Vinícius Assis, que mora a 500 metros da rua Grubegata, onde fica o prédio do governo alvo de um dos ataques. Assis falou sobre o atentado e o clima na capital.

Brasil de Fato: Vinícius, como você ficou sabendo sobre o atentado? Você chegou a ouvir a bomba explodir?

Vinícius Assis: Eu estava no quarto do apartamento onde eu vivo, que está localizado a mais ou menos a 500 metros de onde foi o atentado. Estava buscando emprego pela internet, era um dia meio chuvoso. Do nada, tudo tremeu muito rápido e quase todas as janelas dos vizinhos se abriram, foi estranho, parecia um terremoto, mas pequeno. Alguns minutos depois, chega um amigo norueguês do quarto ao lado e bate na porta. Começa a contar que o estrondo era de um atentado contra o gabinete do primeiro-ministro, na mesma hora eu sai para tirar fotos (veja imagens).

Logo depois do atentado, a imprensa internacional, como o New York Times, chegou a anunciar que a ação fora cometida por grupos extremistas islâmicos. Como isso repercutiu entre a população?

Exatamente, inclusive os próprios noruegueses estavam falando que era a Al Qaeda. Inclusive vi alguns brigando com a polícia, colocavam a culpa na política e no fascismo europeu e na participação da Noruega na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Eu inclusive achei que também fosse isso, mas depois foi desenrolando a história e descobrimos que o ataque foi de um fascista/nazista ou o que quiserem chamar.

O atirador Breivik disse seu objetivo ao cometer a ação era apontar um caminho para uma Noruega sem islamismo e marxismo. Como brasileiro, como você vê a ascensão da xenofobia neste país?

Aqui você sai e vê muito indiano, iraquiano, iraniano, chileno, chinês. Eu vivi sete meses na Espanha, e o que pude notar é que lá existe mais preconceito com os imigrantes do que aqui na Noruega. Na Espanha, por exemplo, eles não se misturam, aqui eu já vi muito norueguês namorando chinesa, aqui já existe mais mistura, e pelo o que eu vejo as pessoas consideram isso normal, diferente do que ocorre no país espanhol, onde eu via muito mais preconceito.

E em relação ao ódio dos direitistas à grupos de esquerda, você acredita que tem aumentado de uns tempos para cá?

Eu, como esquerdista, vejo que na Europa ainda existe muitas pessoas de direita, mas que isso está diminuindo cada vez mais. Mas os poucos que sobram, claro, ficam com raiva, pois são minoria. Sem dúvida, ainda existem riscos, e isso é bem evidenciado. Um colombiano disse assim: "Aqui na Europa existe um monstro gigantesco adormecido, e o nome dele é Nazismo". E claro, o conservadorismo e direitismo é muito vinculado à educação religiosa, principalmente cristã. No momento eu vejo que o cristianismo na Europa está em decadência, então o conservadorismo também está em queda.

Como está o clima nas ruas de Oslo após o atentado?

Na sexta-feira, após o atentado era um clima de curiosidade, algumas pessoas [estavam] assustadas e notava-se a dúvida na cara das pessoas, inclusive a minha dúvida. Nos dias seguintes, inclusive hoje, segunda-feira, todos estavam nas ruas, de luto, mas todos estavam como se demonstrassem que não tinham medo. Tive oportunidade de ir até o Fórum onde estava sendo julgado o atirador, estava cheio de gente, as pessoas estavam sérias, mas notava-se um pouco de raiva, alguns gritavam "Traidor". Depois fui até à Catedral protestante, onde estavam colocando a maioria das flores para os mortos, tinha muita gente, um silêncio fúnebre e uma sensação de oração.


1 comentário:

Anónimo disse...

Nossa, eu gostaria de saber o que esse brasileiro, desse que se diz de esquerda, mas que prefere viver na Noruega (governada por uma esquerda tão moderada !!!) do que no Brasil do PT (pois é, tipo o Chico Buarque, que adora o Fidel mas foi se exilar lá na Itália), diria dessas duas fotos juntas. É só copiar o link:

http://1.bp.blogspot.com/-NkxjSslnm3A/TjGcLP66iVI/AAAAAAAAMTs/BYTXmFRfcns/s1600/O+norueg+e+o+cubano.jpg

Ambos revolucionários e assassinos !!! O cara da esquerda matou mais !!!

Mais lidas da semana