ROMEU PRISCO*, São Paulo – DIRETO DA REDAÇÃO
São Paulo (SP) - A corrupção é a "entidade", se assim pode ser denominada, mais antiga do mundo. O pecado original, cometido por Adão e Eva, nada mais foi que um ato de corrupção, praticado pela serpente. Portanto, a corrupção nasceu quando Adão e Eva aceitaram a maçã que lhes foi oferecida pela serpente, podendo este ofídio ser considerado o primeiro corruptor conhecido.
Embora oriunda do Jardim do Éden, a corrupção é apátrida, encontrando-se, em maior ou menor escala, em todos os recantos da Terra. Remontando a milênios, sua idade é ignorada. É amorfa, mas, por isso mesmo, pode apresentar-se de inúmeras formas. Até o crime, como o assassinato de Abel por seu irmão Caim, constituiu uma das suas variantes. A corrupção é algo em permanente estado de adaptação e mudança.
Reis, imperadores, conquistadores, desbravadores, colonizadores e catequizadores foram corruptos, obtendo vantagens e favores indevidos, e corromperam, concedendo vantagens e favores indevidos. A plebe e o povão, se não corromperam, deixaram-se corromper conscientemente. Os descobridores de novos países, como no caso do Brasil, ao depararem com os nativos das terras descobertas, geralmente indígenas, cobriam-nos de adornos, presentes diversos e bebidas alcoólicas. Pronto ! Consumava-se o primitivo "contrato" de corrupção.
Na atualidade, quem nunca pensou em "quebrar o galho" e "dar um jeitinho" ? Oferecer uma "cervejinha" ao guarda de trânsito para não ser multado, ou "molhar a mão do fiscal" para não ser autuado, são atos típicos de corrupção. Alguém dirá que aprendemos a fazer "isso" com os políticos. Todavia, ficam as perguntas: (1) "Isso" é lição que se aprenda ? (2) O que vem antes, o contribuinte que "mutreta" a declaração do imposto de renda, ou o político que põe no bolso os recursos do imposto de renda ?
Quando ocorrem os estágios referidos no parágrafo anterior, já se está impregnado de corrupção desde tenra idade, instalada no ambiente familiar. O menino educado, comportado e estudioso, recebe as devidas recompensas no aniversário, no dia das crianças e no Natal. Outro menino, só será educado, comportado e estudioso, se receber as recompensas. Um terceiro menino, sem ser, ou sem poder ser, educado, comportado e estudioso, subtrairá as recompensas dos demais meninos. Aqui a corrupção funciona como o colesterol: tem a boa e tem a má.
Religiões, que se propõem a corrigir os males da corrupção, inclusive eliminá-la, exercem-na descaradamente, cobrando dos seus fieis o dízimo que alegam ter sido instituído e abençoado por Deus e utilizando-o para construção de verdadeiros gigantes empresariais. Mesmo aquelas que não partem para estas alternativas, corrompem e são corrompidas. A "pompa" de uma cerimônia matrimonial, realizada num templo tradicional, se comparada à "singeleza" do casamento celebrado numa pequena capela, dá a entender que o sacramento equivale ao custo da solenidade.
A corrupção não tem preferência por nenhuma ideologia ou regime político, mas estes, da direita, da esquerda e do centro, ditatoriais ou democráticos, são unânimes em adotá-la, praticando-a larga e nem sempre disfarçadamente. A nação mais poderosa do mundo, que insiste em se apresentar como exemplo de honestidade moral, no curto espaço de três anos colocou duas vezes a economia global em sérias dificuldades, fruto exclusivo da corrupção.
Não se pode negar que a corrupção é uma das grandes responsáveis pelo progresso. Obras novas ou reformas de escolas, hospitais, presídios, rodovias, pontes, viadutos, túneis, contenção de enchentes, usinas hidroelétricas, água canalizada, tratamento de esgoto, iluminação pública e particular, casas populares e demais realizações em benefício social, inclusive prestação de serviços, reposições e manutenção de equipamentos, somente são possíveis se houver, como mola propulsora, a corrupção.
Imortal, como é, impõe-se conviver com a corrupção. Quem sabe tenha chegado a hora de descriminalizá-la, criando-lhe normas próprias, para melhor controle. Que tal "Estatuto da Corrupção", contendo definição, como, quando, onde em que proporções pode ser praticada ?!
Fica aí lançada a idéia.
* Paulistano, advogado e ator, dedica-se, atualmente, à arte de escrever artigos, crônicas, contos e poemas, publicados em espaços literários e jornalísticos, impressos e virtuais. Define-se como um sonhador, que ainda acredita nos seus sonhos.
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