ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Em Portugal deveria ser obrigatório os membros do Governo só analisarem a situação dos seus súbditos depois de, como agora acontece, terem comido à grande e à francesa.
Eles não têm culpa, nunca têm, de os portugueses estarem a aprender a viver sem comer. Aliás, os próprios políticos (do governo e da oposição) estão habituados a fazer greve de fome.
Por regra, sobretudo em épocas de crise, é normal ver que os membros deste Governo raramente comem… entre as refeições.
De facto, para analisar um cenário de 800 mil desempregados, 20% da população já a viver sem comer e outros 20% a viver com o espectro da fome a bater à porta, nada melhor do que ter a pança bem cheia.
Atrevo-me, aliás, a sugerir aos super-membros do Governo de Pedro Passos Coelho uma frugal ementa, de acordo com o estabelecido pela “troika”:
Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
Creio que é o mínimo que os ministros merecem, mesmo quando ali ao lado os portugueses começam a habituar-se a dividir uma sardinha por três.
Segundo o jornal i, os dez ministros do governo das ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos, ganharam 2,15 milhões de euros em 2010 (coisa pouca, convenhamos) e têm no banco mais de 3,5 milhões.
Paula Teixeira da Cruz, Miguel Relvas e Vítor Gaspar são os que mais têm em depósitos bancários o que, aliás, só abona a sua capacidade de trabalhar num Governo deste género onde a regra é só uma: tudo fazer para que os poucos que têm milhões tenham ainda mais milhões, sem esquecer de tudo igualmente fazer para que os milhões que têm pouco ou nada passa a ter ainda menos.
Diz o jornal que o primeiro-ministro, Passos Coelho, e a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, foram os únicos membros do governo que ainda não entregaram a actualização da declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional. Ao todo, os restantes dez ministros do novo Governo receberam por trabalhos prestados no ano passado 2,15 milhões de euros. Só Paulo Macedo, ministro da Saúde, recebeu 39,4% dessa fatia.
Paula Teixeira da Cruz aparece em segundo lugar na tabela. A ministra da Justiça ganhou mais de 360 mil euros por trabalhos que fez no ano passado. Além disso, a também vice-presidente do PSD, é a governante que mais dinheiro tem no banco em depósitos a prazo: mais de 900 mil euros. Logo seguida de Miguel Relvas, com 751 mil euros, e de Vítor Gaspar que tem em poupanças 655 mil euros.
Paulo Macedo, segundo as contas do i, sai do ranking, mas porque grande parte do dinheiro tem investido. Em depósitos tem 363 mil euros, mas tem mais de um milhão em acções e participações. Os dez ministros todos juntos têm mais de 3,5 milhões em depósitos bancários.
No extremo oposto está Paulo Portas. O ministro dos Negócios Estrangeiros apenas declarou rendimentos de trabalho dependente no valor de 51 520 mil euros, o valor mais baixo dos dez ministros. O rendimento de Portas não está muito longe do declarado por Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, que auferiu cerca de 58 mil euros. O outro ministro centrista do governo, Pedro Mota Soares, está também nos que menos recebeu, ao todo 68 mil euros.
E não restam dúvidas. Se nos últimos dez anos, Portugal foi o terceiro país do mundo com o pior crescimento económico (atrás do Haiti e Itália); se actualmente está no quarto lugar do Top dos países do mundo em risco de bancarrota; se em 2011 só Portugal, Grécia e Costa do Marfim estarão em recessão no mundo; se em 2012 só Portugal estará em recessão no mundo, é porque precisa mesmo de continuar a pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres….
* **Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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