domingo, 28 de agosto de 2011

ONU PEDE QUE REBELDES POUPEM DITADOR LÍBIO





As Nações Unidas estudam envio de missão de paz à Líbia e defendem retorno do estado de direito

Genebra Em meio a uma crescente onda de execuções atribuídas tanto a rebeldes quanto às forças ainda leais ao ditador Muammar Kadafi, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez um apelo para que a vida do líder líbio seja poupada. O objetivo da ONU - que pretende enviar uma missão para ajudar a reconstruir o país é que Kadafi seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

A ONU alertou aos rebeldes que não aceitará o assassinato de Kadafi. A entidade comunicou à oposição que quer que o líder líbio seja entregue ao TPI, em Haia, para ser julgado e que o apelo para que ele seja capturado "vivo ou morto" não é a atitude que se espera de um regime democrático. No caso da Líbia, a esperança é de que os responsáveis pelos crimes sejam julgados. O apelo da ONU é para que todas as partes no conflito evitem revanches.

Rupert Colville, porta-voz da ONU para Direitos Humanos, insistiu que o restabelecimento do estado de direito deve ser uma prioridade. "Esse estado de direito deve ser válido para todos, inclusive Kadafi", disse.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pedirá que o Conselho de Segurança das Nações Unidas considere o envio de uma missão de paz à Líbia para evitar que o país mergulhe ainda mais em uma onda de vinganças mútuas. A meta é garantir que as condições de segurança permitam a transição política. Os rebeldes pediram oficialmente a Ban que a ONU "lidere" a reconstrução.

O envio da missão teria uma função política também: superar a divisão internacional sobre o futuro do país e dar um sinal aos países dos Brics e da África de que não haverá uma ocupação da Líbia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A missão não necessariamente teria tropas, podendo assemelhar-se à enviada ao Timor Leste.

Ban decidiu propor a missão depois de uma reunião com a União Africana, com a Liga Árabe e com a União Europeia. "Estamos em uma fase distinta e decisiva", disse Ban.

Para o secretário-geral, seria "desejável" ter na Líbia ao menos um grupo das tropas das Nações Unidas.

França e Grã-Bretanha têm liderado uma aliança que defende o reconhecimento imediato do novo governo rebelde e a convocação de uma reunião de cúpula para o dia 1º de setembro em Paris para estabelecer um plano de ação para a reconstrução. China, Rússia, Brasil e a União Africana dizem que só decisões tomadas na ONU por todos poderão ser aceitas no que se refere à Líbia.

Postura do Brasil

O Itamaraty ainda não definiu sua presença na reunião. A resistência ao projeto francês para a Líbia tem pelo menos dois motivos: evitar a repetição da invasão do Iraque e garantir que todos os contratos do governo líbio estejam abertos para a comunidade internacional - não apenas aos países que pagaram pela guerra.

Mesmo ainda com existência de confrontos entre as forças leais e os rebeldes o Conselho Nacional de Transição (CNT) iniciou a transferência de suas atividades de Benghazi para a capital. O Ministério da Segurança Nacional, órgão que centralizava as operações de polícia e dos serviços secretos e a repressão aos dissidentes, será a sede do governo provisório de Trípoli. O grupo de transição sinalizou que pedirá um assento na ONU no próximo mês.

NOVOS CONFRONTOS - Otan ataca capital e berço de Kadafi

Trípoli Aeronaves da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fizeram ataques aéreos durante a noite de sexta e a madrugada de ontem em Trípoli e em Sirte, no sul da Líbia, que é cidade natal de Muammar Kadafi, e é vista como o último grande foco de resistência do antigo regime.

As forças leais de Kadafi ainda estão ativas na cidade e o paradeiro do líder líbio ainda é desconhecido.

Um porta-voz da Otan afirmou que instalações militares, veículos e uma plataforma de lançamento de mísseis ainda foram detectados em Trípoli, apesar de as forças leais ao ditador agora estarem concentradas no sul do país.

O avanço das forças rebeldes para Sirte foi paralisado perto do porto petrolífero de Ras Lanuf, apesar da chegada de mais reforços.

Segundo fontes em Ras Lanuf, os dois lados estão se preparando para o que pode ser uma grande batalha final.

Ajuda

As condições em Trípoli estão se deteriorando e maior parte da capital líbia está sem água, eletricidade e saneamento básico.

De acordo com jornalistas, os hospitais já não tem mais suprimentos e está cada vez mais difícil encontrar alimentos e combustíveis. Segundo as Nações Unidas, milhões de pessoas dentro e fora de Trípoli estão ameaçadas devido à falta do abastecimento d´água.

De acordo com moradores de Trípoli, o fornecimento de água para a capital parou lentamente. Algumas lojas estão abertas, mas não foram reabastecidas.

O Reino Unido informou ontem que está enviando remédios e alimentos para a Líbia. O governo britânico vai fornecer equipes médicas para tratar os 5.000 feridos e alimentos para quase 700 mil pessoas.

Os hospitais de Trípoli estão em situação caótica. Profissionais da saúde deixaram a cidade e corpos em decomposição se acumulam nos centros médicos.

Na sexta-feira, foram encontrados amontoados cerca de 200 corpos apenas no hospital de Abu Salim. A maioria dos mortos eram de jovens que aparentemente estavam na frente de guerra. Há também corpos de mulheres e crianças.

Os rebeldes afirmam que controlam a maior parte de Trípoli com apenas alguns áreas de resistência das forças de Kadafi. Ocorreram confrontos principalmente em volta do aeroporto.

A Cruz Vermelha fez um apelo aos rebeldes para que sigam as normas internacionais de guerra. A Anistia Internacional fez advertência semelhante, depois de receber relatórios de abusos tanto por parte dos rebeldes quanto das forças leais a Muammar Kadafi.

COMBOIO PARA A ARGÉLIA - Líder pode ter deixado país

Cairo As autoridades egípcias informaram, ontem, que um comboio com seis carros blindados que poderia transportar altos dirigentes líbios, incluindo o coronel Muammar Kadafi, passou na sexta-feira (26) pela fronteira entre Líbia e Argélia.

"Seis Mercedes blindados passaram na manhã desta sexta-feira pela cidade de Ghadames", revelou um conselheiro militar.

O comboio foi escoltado até sua entrada na Argélia pelo chefe de uma "katiba" (brigada), explicou ainda um militar rebelde, acrescentando que não pôde atacá-lo por falta de munição.

"Pensamos que transportavam altos dirigentes líbios, possivelmente Kadafi e seus filhos".

O ditador Muammar Kadafi, de 68 anos, está desaparecido desde a entrada dos rebeldes em Trípoli, no fim de semana passado. Ele governava a Líbia desde 1969.

Uma fonte do governo argelino, no entanto, considerou pouco provável a entrada de Muammar Kadafi no país. A Argélia afirma que mantém uma "estrita neutralidade" e se nega a interferir nos assuntos internos do país vizinho.

Argel não reconheceu o Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão político dos rebeldes, que lutam há pouco mais de seis meses contra o regime ditatorial na Líbia.

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