Segundo estudo, fenômeno natural está relacionado ao aquecimento global, agravado por motivos políticos
A mais severa seca de que se tem notícia nos últimos 60 anos afeta 12,5 milhões de pessoas na região conhecida como Chifre da África - que inclui Somália, Djibouti, Quênia, Uganda e Etiópia. Pode-se dizer que ela é a soma de repetidos episódios de poucas chuvas em 2007, 2008 e 2009, causando severos impactos na questão alimentar e a morte de milhares de pessoas e dos rebanhos. Tanto que a ONU declarou fome crônica em duas regiões do Sul da Somália, e anunciou que caso nada seja feito, a situação pode se transformar numa catástrofe humanitária.
A seca não é novidade no nordeste africano. Mas um estudo publicado no começo deste ano por cientistas do Serviço Geológico dos EUA (o USGS) e da Universidade da Califórnia mostra que o aquecimento global pode estar por trás da piora da seca neste ano.
"É muito difícil atribuir um único evento à mudança climática, mas nossa pesquisa sugere fortemente que o aquecimento do Oceano Índico (que está fortemente ligado ao aquecimento global) está contribuindo para mais frequentes e intensas secas", salientou o pesquisador Chris Funk.
Segundo ele, todas as observações e modelos climáticos indicam que o Oceano Índico está aquecendo muito depressa. "Enquanto a magnitude absoluta do aquecimento é muito menor do que em lugares como o Atlântico Norte, os impactos da mudança climática podem ser dramáticos, já que o aquecimento de um oceano já muito quente pode criar mudanças climáticas significativas", disse.
Soma-se a isso, tem os fatores políticos que pioram as condições dos moradores da região. "Não é o fator natural que está produzindo a fome. A ONU e o mundo ocidental estão dizendo que é uma seca que assolou as pessoas. Nessa parte do mundo as secas são endêmicas. Elas acontecem a cada poucos anos, mas as pessoas desenvolveram mecanismos para lidar com isso durante os anos. Esses mecanismos foram destruídos pela guerra civil, pela guerra ao terror e pela ocupação etíope. As pessoas ficaram tão vulneráveis que elas perderam tudo o que tinham antes de a seca chegar. Quando a seca chegou, eles já não tinham nada e ficaram famintas", explicou o professor de geografia e estudos globais da Universidade de Minnesota, nos EUA, Abdi Samatar.
Segundo Samatar, que é somali, os muitos anos de guerra civil, a pirataria, o avanço do grupo extremista Al-Shabaab e a inimizade com os etíopes tornou a situação do país insustentável.
Em algumas regiões pastoris, foram registradas mortes de 15% a 30% do rebanho entre março e maio deste ano. A época de colheita deve atrasar e ficar aquém do esperado, o que poderá aumentar ainda mais o preço dos alimentos, piorando a crise já instalada.
O Brasil anunciou no dia 28 de julho o envio de 38 mil toneladas de gêneros alimentícios à Somália e 15 mil toneladas de alimentos aos campos de refugiados na Etiópia.
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