segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Portugal: É AGORA, É AGORA




PEDRO MARQUES LOPES - DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião – ontem

1. Daqui a três dias, o mais tardar, o Governo irá apresentar o muito esperado plano de cortes na despesa pública. Conforme o anunciado, será algo de detalhadíssimo e verdadeiramente radical. Saberemos exactamente quais as entidades a extinguir, designadamente as empresas, institutos, fundações e demais organizações dependentes do Estado. Além disto, seremos informados do valor da poupança, ou seja, do corte no tecido adiposo da colossal máquina estatal. De modo a que não restem dúvidas da mudança que aí vem, o primeiro-ministro não fez a coisa por menos: "Vai ser o maior corte na despesa dos últimos 50 anos", disse na Festa do Pontal.

Para que ninguém pense que isto são anúncios semelhantes aos da época da governação socialista, também nos foi referido o prazo de concretização deste plano: fim de Outubro. É obra. Em dois meses vai ser mudado todo um paradigma de organização do Estado, vão-se acabar com todas as entidades inúteis, vai-se começar a gastar o estritamente necessário. E, atente-se, esta redução fantástica da despesa irá ser feita sem reduzir pensões, salários ou despedimentos. Nada que espante: se Deus fez o mundo em sete dias, porque diabo o Governo não realizaria esta tarefa em dois meses?

É bem verdade que este plano já estava a ser estudado há muito tempo. Mesmo antes das eleições foi-nos garantido que já estava tudo avaliado e que mal o Governo entrasse em funções iria ser anunciado. O que não pode deixar de ser elogiado é a capacidade de em dois meses, repito, o executar.

Obviamente que não passa pela cabeça de ninguém que esta jura solene deixe de ser cumprida.

Bom, não é bem assim. Quem parece estar um pouco céptico é o ministro Vítor Gaspar, o das Finanças.

Na entrevista de 12 de Agosto, salientou que uma coisa é anunciar cortes na despesa, outra é efectuá-los. Mais, afirmou que já tinha havido um esforço enorme para a controlar no Orçamento de 2011, dando a entender, aparentemente, que não estava a ver onde se podia cortar mais. Desconhecendo, talvez, o que tem sido a narrativa do Governo, não deixou de lembrar que em nenhum documento se fala de gordura do Estado! Para quem está esquecido, esta entrevista foi feita no mesmo dia em que ia ser feito o anúncio, pelo ministro, das medidas de emagrecimento. Talvez fosse recomendável que o ministro da Propaganda falasse com o das Finanças antes daquele pôr a notícia nos jornais, evitava-se o ridículo. Também era capaz de não ser má ideia terem avisado Vítor Gaspar da apresentação do plano de corte na despesa, o tal que vai ser o maior dos últimos 50 anos, antes da entrevista. Tenho para mim que ele devia ser o primeiro a saber, e já nem peço que fosse ele a coordená-lo.

Esta descoordenação deve ter sido causada pelo vírus estival, até dia 31 vamos conhecer o grande plano e daqui a dois meses está tudo acabado. Com jeito, o Governo ainda volta atrás e desiste daquele obsceno imposto preventivo sobre o décimo terceiro mês. Não vai fazer falta com o que se vai poupar.

Só faltam 3 dias.

2. Não admira que a possibilidade de se lançar um imposto sobre os ricos tenha gerado tanto entusiasmo. Um homem que pela força do seu trabalho, pela sua visão, pelo seu empenho, tenha feito fortuna é, em Portugal, um ser desprezível. É, com certeza, um aldrabão e só ganhou dinheiro porque o roubou.

É preciso acabar com os ricos. Taxá-los até que estes decidam ir para outras paragens, desincentivá-los a investir, acabar com as suas empresas, deixar de premiar os riscos que correm, proibi-los de gerar empregos. Nessa altura vamos estar muito melhor. Vamos ficar muito mais pobres, mas, ao menos, não olhamos para o lado e vemos uns tipos a viver melhor que nós.

O Governo diz que vai pensar. Só faltava mesmo que um Governo que diz apostar na captação de capital, no apoio ao investimento e na promoção da iniciativa privada embarcasse nesta medida demagógica e populista que apenas gerará uma fuga de capitais em massa e trará apenas migalhas para o erário público.

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