OPINIÃO
A polémica está instalada, pelo menos aqui. Chegou sob a forma de uma notícia da PNN e a extinção do ensino da língua portuguesa no ensino básico de Timor-Leste. Os comentários sucedem-se e a maioria são de contribuição para melhor entendermos a polémica.
Parece que também é em maioria que há discordância sobre os argumentos de Kirsty Sword Gumão, Embaixadora da Educação de Timor-Leste, defensora desta medida – desde sempre reportada como uma combativa militante a favor da retirada da língua portuguesa da Constituição Timorense como língua oficial (objetivo último), argumentos sempre negados pela visada. Também Xanana Gusmão é favorável à retirada da língua portuguesa do ensino básico, para já, segundo a PNN.
Destacamos mais alguns comentários retirados dos títulos respetivamente indicados. Confira os conteúdos nos títulos destacados e veja os comentários se só agora chegou ao debate. Somos de opinião que importante será saber quem não quer a língua portuguesa presente em Timor-Leste; que vantagens trarão para o país a sua erradicação; se não existirá segundas intenções de agentes que consideram a língua portuguesa como mais uma forma de auto-suficiência e independência do país, fato que não lhes convém, entre outros interesses obvios. Raramente há fumo sem fogo.
1. O tétum e o português não são línguas «adicionais» (soa a descartável...), são línguas oficiais escolhidas por deputados eleitos democraticamente, tendo em consideração a necessária sedimentação do processo de construção de uma identidade nacional por via de duas línguas que, de modos diferentes, podem construir a «comunidade imaginada» de que falou o grande teórico do nacionalismo, Benedict Anderson (e que se baseou, creio, na realidade indonésia).
2. Tantos recursos a serem desperdiçados num projecto (educação com base na língua materna), quando nem o tétum se consolidou como língua nacional. A padronização é ignorada, a língua é vilipendiada diariamente. Se o tétum não estiver verdadeiramente consolidado, como se pode partir para as línguas mãe? As línguas locais podem e devem ser preservadas. Invista-se o dinheiro em estudos e padronização delas, na leccionação delas como disciplinas. Trabalho para alguns anos, mas que não serão certamente os suficientes para matar as línguas indígenas timorenses.
3. Use-se o dinheiro deste projecto para dar formação pedagógica aos professores timorenses (ensinar a ensinar) e construir boas escolas, distribuir bons lanches escolares. o problema da iliteracia começará a diminuir.
4. Gostaria de saber como estão os sistemas de educação bilingue na Austrália. É que, salvo distracção minha, nunca vi um aborígene como Ministro do Governo federal australiano. E isso é se calhar sinal de que: a White Australia policy acabou ainda há poucos anos e que o sistema de ensino bilingue não está a permitir que os aborígenes adquiram competências no sistema de educação que lhes permita ascender socialmente e abandonar as «reservas» onde desgraçadamente permanecem votados ao alcoolismo.
5. O que vi em Timor foi muito pouca pedagogia nas escolas (e não atribuo isto à falta de empenho dos professores timorenses que fazem com toda a certeza o melhor que podem), falta de disciplina, muitas famílias onde o apelo à leitura e ao trabalho de estudo é substituído por actividades lúdicas em excesso. Falta de infraestruturas e falta de socialização das famílias (que também só vêem graúdos a enriquezer, desviando dinheiro, não apostando em vidas de esforço feito), materiais escolares apelativos e - o mais importante - a barriguita cheia farão maravilhas pelas crianças timorenses e pelo seu futuro. Não esta «cura milagrosa» descontextualizada que é fácil de propagandear mas que padece de inúmeras lacunas para ser implementada já, sem melhor ponderação e preparação real (e não o copy paste de programas de outros países).
Por último, se a educação baseada na língua materna em contexto multilingue é solução para graves problemas do sistema educativo timorense, por que é que SÓ AGORA é implementada e não foi feito há 10 anos atrás? Que eu saiba, a ideia não é peregrina nem recente. É isto que também faz os defensores da língua portuguesa desconfiar. Desconstruam então as teorias da conspiração, atrevam-se a fazê-lo, mas sem papaguear a UNESCO, o Banco Mundial e outros relatórios copiados. Fico à espera de argumentos (poupem-me propaganda e verdades de Lapalisse)
1.º- O uso da língua portuguesa no sistema educativo de Timor-Leste, e consequentemente em toda a Administração Pública timorense, por todos quantos se dedicam a promover ou a apoiar iniciativas que têm em vista a discussão do problema das línguas em Timor-Leste, nos quais poderia colocar, sem quaisquer reservas, a UNICEF, bem como um dos elementos da Comissão Nacional da Educação de apelido Pires -uma religiosa -, ai qual preside a Sra. Gusmão.
2.º- Desconheço os conhecimentos linguísticos da Sra. Gusmão, razão pela qual nem sequer me refiro ao mérito ou demérito da substância do documento dado à estampa, ou seja, “Política da Educação Multilingue Baseada na Língua Materna", documento cuja validade jurídica/legal desconheço por absoluto.
3.º - Para que fique claro, e isso tenho eu a certeza, o Governo não tem competência para abolir a língua portuguesa no ensino básico, por razões que me excuso de explicitar.
4.º - Quem defende a aprendizagem inicial, refiro-me à escola, obviamente, nas línguas maternas, no caso, em Timor-Leste, está certamente a querer eliminar, isto a médio e longo prazo, a língua portuguesa do sistema educativo timorense, em favor da língua inglesa, com o argumento simplista, ou mesmo falso, de que o português é de difícil aprendizagem, não sendo por isso a língua mais apropriada para a realidade timorense.
5.º - Acho muito bem que o tétum, enquanto língua, seja construído, desenvolvido, aprimorado e disseminado por todo o Timor-Leste, o que já não acho nada bem é que a defesa acérrima do tétum por alguns malais tenha apenas como objectivo arrumar definitivamente o português nas prateleiras de um qualquer museu do esquecimento, principalmente por parte daqueles que só descobriram Timor-Leste a partir de 1999.
6.º - Aliás, não me consta que a maioria dos malais - para não dizer a totalidade -, naturais de países vizinhos, demonstre o mínimo interesse, ao chegar a Timor-Leste, na aprendizagem da língua portuguesa, sendo esta, indiscutivelmente, a par da língua tétum, e em plano de igualdade com esta, uma língua oficial consagrada constitucionalmente.
7.º - Uma vez que me não quero alongar sobre este assunto, colocaria apenas a seguinte questão: Estará a cooperação portuguesa na área da educação a ser executada com base em premissas correctas de acordo com a realidade timorense e com as práticas dos agentes anti-português que se movimentam no território?
Deixar os timorenses fazer as suas próprias escolhas? Mas não estão já feitas? Ou porque vêm as ideias de pedagogos e linguistas anglo-saxónicos e não de lusófonos, aí já não é colonialismo, é só boa vontade? Olhe, não foram navios de guerra portugueses ou indonésios que estacionaram na baía de Díli em 2006...
E quem é que está contra o ensino das línguas maternas (esse pensamento não faz sentido)? Está-se é contra o rating «lixo» que é indirectamente dado ao tétum e ao português com esta iniciativa. E tudo isto parece ser tentar, como diz o ditado, «põr o carro à frente dos bois» (start a house from the roof).
3 comentários:
Xanana vai ganhar as eleicoes se abolir o portugues de timor.
viva xanana.
Isto pode ser aplicado aos Timorenses que nas instituições publicas, todos os dias fazem as pequenas corrupções que não deixam Timor Leste avançar.
Coitadinho do motorista tem que rou bar gasóleo e vender porque tem um salário muito baixinho!!!
Beijinhos da Querida Lucrécia
Ah, são pobres, logo, são rufias em potência
Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:14 Quinta feira, 11 de agosto de 2011
A narrativa que desculpabiliza o "Pobre" (sempre com caixa alta, sempre abstracto) está a laborar a todo o vapor na abordagem aos motins londrinos. É só ver um telejornal. "Ai, são miúdos pobres que estão apenas a demonstrar um descontentamento social". É a chapa 5 da lógica do coitadinho. A polícia é má, o governo é mau, os lojistas são maus (são "ricos", dizem os garotos). No meio disto tudo, convinha reparar nas palavras de Rio Ferdinand, o capitão da selecção inglesa: "sim, eu conheço a vida num bairro pobre, mas isso não legitima atos de vandalismo ou roubo"; "eu nasci num bairro pobre e trabalhei que nem um cão para vencer na vida".
O grande problema da narrativa do coitadinho é o incrível paternalismo em relação ao "Pobre" (não são indivíduos; é uma categoria sociológica). O "Pobre" nunca é um cidadão como os outros. O "Pobre", no fundo, é uma criança que tem de ser controlado pelo estado mesmo quando tem 20 ou 50 anos. O "Pobre" nunca é autónomo do ponto de vista moral. Ele não toma decisões morais. Apenas reage às ofertas ou cortes económicos do estado. Se o estado der uma ajudinha ao "Pobre", ele ficará quietinho no seu canto. Se o estado retirar essa ajudinha, o tal "Pobre" vai virar as coisas do avesso. É esta a lógica paternalista de homens como Ken Livingstone. Quando diz que a culpa disto é do governo, porque fechou centros de dia para os jovens (seja lá o que isso for), o ex-mayor de Londres está a dizer - implicitamente - que estes jovens têm de ser entretidos pelo estado. Porque, ora essa, se não forem entretidos, os ditos jovens vão virar vândalos. E é isto que enjoa. É esta ligação falaciosa entre o bolso e a moral que me tira do sério. Aliás, esta associação imediata entre o "Pobre" e a "violência" começa a ser repugnante. Porque é ofensiva para quem nasceu pobre. Que eu saiba, pobre não é sinónimo de vândalo ou de rufia. Que eu saiba, o peso da carteira não decide o peso das nossas escolhas morais. Não existe uma relação direta entre a conta do banco e o civismo e boa educação. Sim, sim, educação. A montante dos motins não está a pobreza, mas a falta de educação. E a falta de educação não tem nada que ver com pobreza ou riqueza. Aqueles miúdos não recebem educação em casa (onde estão os pais? ) e, sobretudo, não recebem educação na escola do eduquês. Não me venham com a lengalenga da pobreza, porque a pobreza não leva ninguém ao vandalismo e ao roubo de playstations. Os paladinos da chapa 5 querem ser tão bonzinhos para o "Pobre" que têm na cabeça, que acabam por revelar um enorme desprezo pelos pessoas pobres, as reais e concretas.
PS: no meio disto, a malta não percebe que alguns daqueles miúdos podem não ser pobres. Já pensaram nisso? Já pensaram que miúdos-com-tudo podem andar a roubar? Não é a pobreza, é a falta de educação.
A Querida Lucrécia tem resposta ao seu comentário em ZENILDA GUSMÃO CASOU – UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ.
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