ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
O primeiro-ministro de Portugal escreveu hoje, na sua página do Facebook, que não se compromete "com resultados rápidos nem com sacrifícios suaves".
Traduzindo para a linguagem dos mais de 800 mil desempregados, dos mais de 20 por cento de pobres e de outros tantos que já têm saudades de uma refeição, Pedro Passos Coelho compromete-se com resultados suaves e com sacrifícios rápidos.
Lembrando que o ponto de partida do Governo "é extremamente débil e que a instabilidade no sistema Financeiro Europeu e Americano são travões para um percurso já de si cheio de sacrifícios", Pedro Passos Coelho refere que "todos os portugueses são chamados" a participar no "enorme trabalho que temos pela frente".
Traduzindo para a linguagem dos mais de 800 mil desempregados, dos mais de 20 por cento de pobres e de outros tantos que já têm saudades de uma refeição, Pedro Passos Coelho diz que o Governo vai continuar a pedir aos pobres (de Portugal) para dar aos ricos (de Portugal).
Quando diz que "todos os portugueses são chamados", Pedro Passos Coelho esquece-se que, dessa forma e tal como o seu antecessor, está a dividir os portugueses em – pelo menos – duas classes. Isto porque, de facto, há uma casta superior de portugueses que só é chamada para sugar o que a plebe produz. São, provavelmente, os portugueses de primeira.
Passos Coelho não se compromete "com resultados rápidos nem com sacrifícios suaves". Aliás, seria de estranhar se fosse de outra forma. O seu governo já demonstrou que não está no poleiro para servir os portugueses mas, isso sim, para deles se servir. É claro que tudo isso é a bem da Nação.
Diz Passos Coelho, numa prosa escrita certamente depois de uma daquelas boas coisas que começam a ser raras para os portugueses de segunda (refeições), "que passada esta profunda e longa tempestade, teremos um país muito mais bem preparado para compreender, competir e vencer num mundo que assiste diariamente a importantes transformações".
Sem dúvida que, passada a tempestade, o que sobrar dos escombros terá mais vitalidade. Aliás, como bem diz o povo português, o que não mata… engorda. Só falta saber se os portugueses vão ser os primeiros cidadãos a conseguir viver sem comer. Também se o não conseguirem não virá grande mal. Vão morrendo e o desemprego vai baixando…
Valha ao menos a ideia de que este é um Governo formado por super-ministros, super-secretários de Estado, super-assessores, super-especialistas, super adjuntos.
Importa até enaltecer o trabalho conjugado de um governo que, entre outras medidas, vai mesmo pôr em ordem a saúde dos portugueses, admitindo-se uma estrondosa poupança nos gastos – por exemplo – dos antibióticos.
É que estes medicamentos são para tomar depois de uma coisa que os portugueses têm cada vez menos – refeições. E se não têm refeições… obviamente não podem tomar antibióticos...
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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