O grande “culpado” de colocar Timor-Leste na agenda internacionail encontra-se precisamente no mais novo país asiático. Intrinsecamente ligado ao massacre de Santa de Cruz, Max Stahl fala do passado e do futuro. O presente, o aqui e o agora, é em Díli, no Memorial Hall.
Uma rápida busca na internet pelo nome do jornalista inglês e obtemos algo como “British filmmaker and journalist Max Stahl filmed Indonesian troops firing upon protestors at the Santa Cruz cemetery in Dili in November 1991.” E porque não no Médio Oriente ou América Latina, locais onde igualmente esteve presente?
“Aqui em Timor tive oportunidade de conhecer pessoas e estudantes que lutavam e resistiam. Fiquei admirado com a coragem destas pessoas e dos princípios que tinham, prontos para sacrificar a vida, em benefício dos outros, “ diz Max Stahl num português perfeito.
No final dos anos 80 , Timor tinha pouca expressão junto da comunidade internacional e o Massacre de Santa Cruz foi “um pequeno milagre. As imagens dos jovens a resistirem pacificamente sem armas, contra a opressão e a violência do exército indonésio, tornaram-se numa força simbólica de resistência. A vontade de um povo contra a violência da ditadura passou todas as fronteiras, “ sublinha.
Onde se encontrava Max Stahl no dia 30 de Agosto de 1999?
“No dia 30 de Agosto estava em Alor [ilha situada no sudoeste da Indonésia, a norte da ilha de Timor] num barco de pesca, que rumava a umas ilhas perto da Papua Nova Guiné. Como os indonésios não me deixavam entrar em Timor, convenci-os a pelo menos deixarem-me em Ataúro,” relembra.
O resto já é sobejamente conhecido, contudo há um dado curioso. “Na altura dos resultados do referendo, estava em Díli à procura de alguns colegas que já estavam por Díli. Eu estava juntamente com o meu filho, de 14 anos, vindo de Bali e sem saber ao certo o que se estava a passar. Consegui enviá-lo de volta no dia 5 de Setembro, no último avião, com Eurico Guterres [chefe das milícias Aitarak, envolvido em diversos massacres, como o da Igreja de Liquiça] ao seu lado.”
9 Anos depois
O bebé nasce, começa por gatinhar, balbucia algumas palavras, dá os primeiros passos e já não depende do leite materno. O corpo desenvolve-se , mas chega a uma altura em que esbarra-se nos “porquês”. Em português diz-se “a idade dos porquês” e a crise de 2006 veio precisamente aos 4 anos de idade desta jovem nação chamada Timor-Leste. Porquê que houve uma disputa dentro das FDTL? Porquê que Mari Alkatiri renunciou ao cargo de Primeiro-Ministro? Em suma, porque se gerou esta crise?
Aos 9 anos de idade, a criança ainda não é adolescente mas passa da escola primária para o ensino básico. A responsabilidade é maior, mas a ajuda exterior ainda é significativa. O mesmo se aplica a um país, que renasce das cinzas. “É um desafio complicado construir uma nação e às vezes sentimo-nos desmoralizados,” diz o jornalista inglês. “Antes só tinha um inimigo, agora tenho vários.” E quem são eles? “Problemas de variadíssima ordem, instituições pouco sólidas, corrupção, falta de infra-estruturas, de recursos humanos,” exemplifica. “Definitivamente não é um inimigo simples,” conclui.
Fase adulta (ou não)
Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?” perguntava a esfinge grega, um demónio exclusivo de destruição e má sorte. “Decifra-me ou devoro-te,” adianta Max Stahl.
Em Timor-Leste não existe nenhuma esfinge, mas há o crocodilo, o avô de todos os timorenses. Um animal respeitado e temível, de quatro pés. E para que o povo não seja “devorado”, Max Stahl aconselha que “ao invés de os timorenses competirem uns com os outros, têm que cooperar e trabalhar em conjunto. Se virem o outro como uma coisa negativa, é uma ameaça para a paz.” A resposta à pergunta da esfinge é simples, “O homem — em bebé gatinha, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa uma bengala quando é ancião.” E Timor-Leste já ultrapassou a fase do gatinhar?
*Ver fotos Memorial Hall - Max Stahl Media Center, em SAPO TL
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