domingo, 21 de agosto de 2011

TUBARÕES MARINHOS À VISTA METEM MEDO, OS TERRESTRES NEM POR ISSO!




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Na costa atlântica de Portugal, numa praia lá mais para o sul de Portugal, em Vila do Bispo, foram avistados tubarões perto da praia do Zavial. Foi um ver se te avias a saltar fora de água. Quem? Os banhistas, está bem de ver. Fugiram daqueles tubarões à velocidade do Speedy Gonzalez, pareciam Fitipaldis em prova de Fórmula 1. Nem se lembraram que todos os dias são devorados por outros tubarões, de outra espécie – espécie humana, terrestre. 

É curioso como aqueles banhistas não têm problemas em se cruzar com os tubarões de São Bento, de Belém, do Rato e da Lapa, da CIP e de muitos mais tubarões que até se parecem connosco e passam as vidas a oferecer as caras e os ditos e mexericos na comunicação social como se até não passassem a vida a darem-nos enormes dentadas e a deixarem-nos despojados das carnes e do pouco que eventualmente e por sorte deles ainda temos para que se alimentem e nos parasitem.

A propósito dos tubarões em Vila do Bispo, disse um biólogo do Zoomarine ao jornal Público que “O avistamento de dois tubarões no Algarve é boa notícia porque significa que a costa portuguesa está rica em peixe…”.

Procurando estabelecer uma comparação entre os tubarões marinhos e os terrestres, engravatados e de colarinhos brancos, aqueles que na realidade nos devoram, não se compreende como é que no Algarve, naquele caso de Vila do Bispo, só havia dois tubarões apesar de haver tanto peixe para comer e dos terrestres que nos devoram são às centenas ou milhares e nós a julgarmos que já não temos nada para eles devorarem. Tanto assim é que passamos a vida a queixar-nos da miséria e carestia de vida, da fome e do mais que sabemos porque sentimos na pele. Significará isto que até nem temos razão e que ainda estamos munidos de muito para nos comerem? É que cada vez há mais tubarões em São Bento, em Belém… Pois, e pelos lados que todos muito bem sabemos.

Assim sendo, afinal somos uns falsos, uns mariquinhas pé-de-salsa que até vivemos bem, alimentamo-nos bem, engordamos, gozamos que nem uns nababos mas depois passamos a vida a choramingar na ladainha do “isto está muito mau, a crise… e patati-patatá, quando o certo é que ainda temos muito para deixar os tubarões devorarem. Pobrezinhos, eles precisam de se alimentar.

Disse o biólogo do Zoomarine que estes tubarões não nos atacam nem nos comem… Mas o povinho banhista fugiu. Curioso, dos tubarões terrestre não fogem e até votam neles. Caso para ser estudado por psiquiatras. Não?

O PAI TRIARCA POLICARPO… OU O PATRIARCA DE LISBOA?

Não refiro aqui o filme dos anos 50 “Pai Tirano”, protagonizado por Vasco Santana, porque certamente que a maioria dos poucos que isto lêem não conhecem, mas sem perder pela demora falo de outro pai muito mais simples que sem conhecerem todos o conhecem: o Pai Triarca… ou o patriarca Policarpo, de Portugal, Lisboa. É igreja, e quem não conhece a igreja papal romana e as suas teorias de que os plebeus nasceram para sofrer e assim ganharem o céu… Não consta que os não plebeus e aqueles que se sustentam largamente a trincarem os plebeus não vão para o céu. O que talvez aconteça é que os plebeus devem sofrer e deixarem-se devorar para ganharem o céu, enquanto que os não plebeus, as elites devoradoras, os tais tubarões, só têm de viver à grande e à francesa porque podem comprar lugar de luxo no céu. Provavelmente para os plebeus só têm no céu lugar de lixo. Não vos posso assegurar que assim seja porque ainda não fui lá, apesar de naturalmente julgar que pouco falta para participar nessa aventura. Depois escreverei a esclarecer tudo muito profundamente e com toda a isenção. Prometi… e não sou político. Cumprirei.

Mas vamos ao que interessa porque isso de estar para aqui a querer dizer que a igreja papal romana enferma de tender constantemente para as elites e enganar a plebe não é novidade. Só hipocritamente aparenta o contrário, ou se não abandonava o luxo e riquezas em que nababamente vive. Salvem-se uns quantos eclesiásticos, a saber, dos que aparentemente lhe pertencem mas que sabem ser honesta e francamente solidários com os menos sortudos e constantemente devorados pelos tubarões que Policarpo sabe defender – já nem o faz como quem não quer a coisa, que cinismo agora já não usa.

Em notícia da Lusa e publicado no Jornal de Notícias, que o Página Global transcreve, “As duas centrais sindicais repudiaram as declarações do cardeal patriarca de Lisboa, que criticou a atitude dos grupos de classe, nomeadamente os sindicatos, face às medidas de austeridade que estão a ser aplicadas.”

E desenvolve: “O cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, criticou os grupos de classe que fazem reivindicações contra as medidas impostas pela 'troika' e apelou para que o interesse nacional esteja acima dos interesses individuais.

As centrais sindicais reagiram: “O secretário-geral da UGT, João Proença, manifestou à Agência Lusa "incredibilidade pelo comentário" do prelado. "A igreja assume, assim, que ela defende o interesse geral e as restantes instituições sociais defendem interesses particulares", criticou o sindicalista.”

Acertadamente João Proença disse o que corresponde à realidade mostrada por este Pai Triarca ou Pai Tirano, salazarento e cerejado. Mas afinal nada de surpreendente aconteceu relativamente à igreja papal romana. Quantos mais pobres melhor porque mais podem brincar às caridadezinhas.

A outra central sindical, a CGTP, também se pronunciou sobre a questão: “Para o dirigente da CGTP Arménio Carlos as declarações do patriarca de Lisboa estão deslocadas da realidade do país pois ignoram o aumento do desemprego, da precariedade e das desigualdades sociais e a redução dos salários. "É interessante que o cardeal patriarca tenha esta posição quando se justificava que defendesse os que mais precisam", disse o sindicalista à Lusa. Arménio Carlos considerou que o bispo de Lisboa devia pensar na maioria dos portugueses, que tem sido tão sacrificada nos últimos anos.”

É evidente que Policarpo defende aquilo que mais convém aos seus desígnios e agora até está tão à-vontade que nem tem de fingir e vir com milongas de pensamentos que nem são os dele nem da igreja papal romana. Igreja que não seria nada se não existisse miséria e apertos de peito. Igreja que faz dos ensinamentos e constância da Bíblia aquilo que lhe convém, não o que poderá ser justo para os povos, para os fiéis, para os carenciados, para os explorados e oprimidos. Monsenhores Romeros e outros da mesma estirpe não fazem o género de Policarpo. Português, como é, temos um Policarpo ao estilo de Cerejeira, com a adaptalidade dos camaleões que também encontramos na Assembleia da República, em Belém, na presidência, nos partidos, e em outros lugares onde se decide como enganar a plebe e disso tirar vantagens pessoais, familiares, partidárias e de clientelas.

Não nos espantemos então destes quadros regressivos made in Salazar-Caetano em que subvivemos nestes tempos. A sociedade civil e eclesiástica, a reboque dos bens terrenos de que abusadamente usufruem, adaptaram-se à “democracia deles” depois de subverterem o melhor que souberam e puderam a verdadeira democracia.

E assim vai Portugal, uns quantos bem para que a maioria sobreviva muito mal. Não lhes perdoai senhor, eles sabem muito bem o mal que nos fazem!

Uma coisa conseguiu Policarpo: desta vez não ser hipócrita e mostrar que também é um verdadeiro tubarão… terrestre.

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor

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