sábado, 3 de setembro de 2011

LÍBIA NA MIRA DA OTAN





A Líbia, como país, teve sua independência aprovada pela ONU em 01 de janeiro de 1952, adotando, a partir de então, o nome Reino Unido da Líbia. Inicialmente, o poder político passou a ser exercido pelo líder religioso dos sanusis, o emir Sayyid Idris al-Sanusi, que foi então coroado rei, adotando o nome de Idris I (1951-1969).

Em 1953, a Líbia passa a integrar a Liga Árabe, e, em 1954, firma vários acordos militares com os Estados Unidos e a Inglaterra, em troca de auxílio na edificação do país e na realização de obras de infraestrutura. Convém lembrar que a Líbia havia sido palco de severas batalhas no decorrer da Segunda Guerra Mundial. No entanto, estes acordo, que propiciaram a construção de várias bases militares norte-americanas e britânicas em seu território, também abriram caminho para os estas nações se impusessem no controle político do país, influenciando-o imensamente. Em 1959, é descoberto petróleo no território líbio, gerando toda uma reversão na condução da política externa do país, pois o governo líbio exigiu a retirada de todas as tropas estrangeiras de seu território, causando sérios atritos os Estados Unidos, a Inglaterra e o Egito. Assim, o governo da Líbia pretendia ter uma posição não subserviente aos ditames estrangeiros, visto que teria os recursos financeiros necessários à edificação do país oriundos da exploração e exportação do petróleo, que começaria a ser realizada em 1961.

Em 1969, um grupo de militares ultranacionalistas, alicerçada com a idéia do pan-arabismo, destitui a monarquia e implanta um governo socialista, criando a Jamairia, República Árabe Popular e Socialista da Líbia. Este novo regime tinha base muçulmana e era extremante militarizado e seguia uma ideologia dita socialista. O poder centra era exercido pelo Conselho da Revolução e era presidido pelo coronel Muammar Khadafi.

Muammar Khadafi, ao se tornar chefe em 1970, promoveu significativas mudanças internas na Líbia. Expulsou os últimos efetivos militares estrangeiros ainda presentes no país, decretou a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos da Líbia. Além disso, Muammar Khadafi implantou uma nova postura política externa na Líbia, projetando-se junto ao mundo árabe e ainda promoveu uma verdadeira revolução cultural, social e econômica que provocou graves tensões políticas com os Estados Unidos, Inglaterra e os países árabes ditos moderados (Egito, Sudão), mas que na verdade eram países fortemente influenciados pelas potências ocidentais.

Com o poder absoluto nas mãos, uma vez que não há outro partido político na Líbia, principalmente de oposição, Muammar Khadafi, em nome da União Socialista Árabe, e, aproveitando-se dos imensos recursos financeiros que a exploração proporciona ao país, assume uma postura altamente belicista, fortalecendo seu aparato militar e interferindo em diversos outros países vizinhos, como fez com o Sudão e o Chade (Tchad), invadindo este último em 1980.

Por ocasião da Guerra do Yom Kippur (guerra ocorrida entre Israel, Síria e Egito, ocorrido de 6 de Outubro a 26 de Outubro de 1973), Muammar Khadafi convenceu os países árabes aos quais possuía maior influência a boicotarem, deixando de exportar petróleo, os países que apoiaram Israel nesta guerra. Muammar Khadafi ainda se opôs à iniciativa do presidente egípcio Anwar al-Sadat, que pretendia restabelecer a paz com Israel. Muammar Khadafi dedicou forte à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), colaborando e ainda expandindo sua rede de influências a outros grupos revolucionários de países não árabes, alguns até praticantes de ações terroristas, que passaram a receber constante ajuda econômica da Líbia.

Assim, por conta de sua política externa de rejeição a Israel, de reiteradas declarações e ações anti-americanas e de uma política de fortes laços com a União Soviética, país que fornecia a maioria dos armamentos líbios, as relações entra a Líbia e os Estados Unidos tornaram-se as piores possíveis. Tanto que em 1982, os Estados Unidos impuseram um embargo às importações de petróleo líbio.

Em abril de 1986, a Sexta Frota da Marinha e a Força Aérea norte-americanas bombardearam vários alvos supostamente militares em Trípoli (capital) e Benguaze, matando uma filha adotiva do dirigente Muammar Khadafi. Alegava-se que a Líbia promovia o terrorismo internacional, principalmente contra soldados norte-americanos. Esta iniciativa norte-americana, ocorrida em pleno governo Ronald Reagen, foi severamente condenada pela comunidade internacional. Tanto que alguns países, como Espanha e França, negaram-se a permitir que os aviões norte-americanos cruzassem seus espaços aéreos, obrigando-os a contornarem a península ibérica, uma vez que vários aviões bombardeios F-111 utilizados pela força aérea norte-americana decolaram de bases aéreas inglesas e tiveram que realizar vários abastecimentos no ar para poderem atingir o território líbio.

Após o advento do bombardeio norte-americano, a Líbia passou a ter uma posição de isolamento no mundo. Somente a partir do final de década, em 1989, que a Líbia incrementou suas ações diplomáticas, primeiramente associando-se à União de Magreb, que vinha a ser um acordo comercial firmado entre países do norte da África. Posteriormente, a partir de 1990, Muammar Khadafi ensaiou melhorar suas relações com as potências ocidentais, até porque a própria União Soviética e o mundo da “cortina de ferro” estava ruindo, e estes eram pilares importantes na manutenção de seu governo. Aina, apesar de se manter praticamente neutra por ocasião da Guerra do Golfo, em 1991, a Líbia sofreu outra derrota no cenário político e diplomático internacional, quando em 1992, o Conselho de Segurança da ONU, aprovou um embargo comercial ao país, sob a alegação da Líbia ainda proteger terroristas internacionais.

Já durante a década de 1990, o regime de Muammar Khadafi encontrava crescente resistência interna por parte de alguns grupos islâmicos, fazendo com que Khadafi tivesse que reagir com rigor a estes movimentos. Também nesta época, Muammar Khadafi percebeu ser interessante, face às mudanças políticas do cenário internacional, tentar mudar sua imagem como sendo um líder político moderno e dinâmico.

Quanto à liberdade de expressão, por exemplo, esta praticamente inexiste na Líbia, sendo considerada pela ONU como o país africano de maior censura, inclusive com intervenções governamentais no uso ao telefone e da internet. O regime de Khadafi sempre exerceu violenta repressão a qualquer tipo de oposição, e focava todas as propagandas governamentais a divulgar sua imagem como a figura do líder perfeito.

No entanto, o período de Muammar Khadafi à frente do governo líbio, resultou em alguns avanços importantes para o progresso do país. De acordo com relatórios da ONU, divulgados em ONU em 2007, a Líbia possuía o maior Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África. Além disso, o ensino é gratuito até a conclusão da universidade, sendo ainda que até 10% dos alunos universitários estudam na Europa e nos Estados Unidos com bolsas pagas pelo governo.

Ainda no aspecto das melhorias sociais do país, a Líbia proporciona aos casais recém casados até cinqüenta mil dólares para adquirir seus bens essenciais á formação de seus núcleos familiares. O sistema de saúde do país é inteiramente grátis e eficaz. O sistema financeiro líbio é totalmente controlado pelo governo e, quando uma família líbia obtém um empréstimo para obras que resultem no aumento de sua moradia, por exemplo, este empréstimo é concedido pelo banco estatal e sem juros. Além disso, em 2007, foi inaugurado o maior sistema de irrigação do mundo, visando irrigar parte do deserto (95% da Líbia), aumentando enormemente a produção agrícola do país.

Porém, mesmo com tais conquistas, no decorrer da década de 2000, pequenos movimentos de contestação e oposição ao regime ocorreram, sem o conhecimento da mídia internacional. Em 2011, após toda uma sequência de eventos contestatórios que se abateram sobre o mundo árabe, grandes manifestações populares também ocorreram na Líbia, resultando numa contundente ação militar da OTAN, sob o argumento de estar agindo em defesa da liberdade e contra a opressão de Muammar Khadafi ao povo líbio, “numa verdadeira ação humanitária”, como argumenta a OTAN. Assim, navios e aviões de diversos países, sob a égide da OTAN, empreenderam uma série de bombardeios ao território líbio, no intuito de derrubar o ditador Muammar Khadafi e estabelecer um novo regime governamental, ao exemplo do que foi feito no Iraque. Para tornar o processo ainda mais rápido, rebeldes opositores ao regime receberam armas e organizaram-se em milícias e puseram-se a lutar contra o governo. Uma verdadeira guerra civil se instalou no país, onde bombas lançadas pelos aviões da OTAN, com alto grau de destruição, não só destruíram alvos militares, mas abalaram grande parte das estruturas urbanas das cidades bombardeadas, ou seja, estas cidades literalmente terão que ser reconstruir suas redes elétricas, de água e saneamento, por exemplo.

Na verdade, o que se encontra por parte das ações da OTAN na Líbia em nada se refere à situação do povo líbio. São dois os principais motivos que fomentaram tal atitude quanto á Líbia:

• As grandes reservas de petróleo de excelente qualidade, que somam mais de quarenta e cinco bilhões de barris. Estima-se que as reservas norte-americanas sejam de, no máximo, dez bilhões de barris. Além desse petróleo, grande parte do território da Líbia está situado sobre o Sistema Aquífero Arenito da Núbia, a maior reserva subterrânea de água doce existente no mundo, que abrange uma enorme área, que, segundo as estimativas, contém 150.000 km³ de água; e,

• A não adesão da Líbia ao sistema financeiro internacional, tendo um banco central inteiramente independente. Além disso, a Líbia possui grandes reservas de ouro, que dão cobertura, lastro, ao valor de sua moeda, o dinar, e permite ficar imune às flutuações do dólar. Assim, o sistema financeiro internacional sentiu-se inseguro com tal independência, pois Khadafi tentou persuadir alguns países africanos a se desatrelarem do dólar como moeda internacional de negócios e estabelecerem uma moeda única. Tal idéia não é nenhum exagero, pois até mesmo a China já questionou os Estados Unidos neste sentido.

Então, pergunta-se quais os reais motivos que levaram a OTAN a empreender toda uma guerra contra a Líbia? Teriam sido motivos realmente humanitários? Ou, para variar, os motivos são econômicos e o povo continua sendo apenas um detalhe?

Ler também:

1 comentário:

Anónimo disse...

Leiam:

- CIA shifts focus to killing targets - http://www.washingtonpost.com/world/national-security/cia-shifts-focus-to-killing-targets/2011/08/30/gIQA7MZGvJ_story.html?tid=wp_ipad

- Como a al-Qaeda chegou ao poder em Trípoli - http://pt.cubadebate.cu/opinioes/2011/09/02/como-al-qaeda-chegou-ao-poder-em-tripoli/#comment-48

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