MARTINHO JÚNIOR
MAIS UM EPISÓDIO DA IIIª GUERRA MUNDIAL EM CURSO
I
Este fim do Ramadão está a ser animadamente sangrento, tempestuoso e polémico para o Médio Oriente e para África:
No que diz respeito a África, ao mesmo tempo que o Libya Islamic Fighting Group desempenhou um papel-chave na tomada de Tripoli por parte dos rebeldes, dois atentados à bomba reivindicados pelo Al Qaeda ocorrem – um na Argélia, outro na Nigéria.
Com conexões distintas no Norte de África e na Somália, a Al qaeda, com mais ou com menos manipulações, indicia não ter perdido capacidades de coordenação entre as suas células apesar da sua decapitação enquanto ampla organização.
Em qualquer dos casos, Argélia, Nigéria e Líbia, há indícios de que uma autêntica luta intestina está a ocorrer neste momento, entre os serviços de inteligência anglo-saxónicos e de seus aliados-fantoche (plataforma do Pentágono, com a OTAN, aliados das monarquias árabes e Israel) e uma resistência islâmica que não está suficientemente inventariada, mas tem como pontos de apoio importantes o Irão, a Síria e agregados dispersos pela vasta região onde estão a acontecer as principais batalhas: Médio Oriente e Nordeste de África, com forças centrífugas em direcção ao Norte de África, Golfo da Guiné, Chechénia e Paquistão, (expandindo o “arco da crise”).
A decapitação da Al Qaeda, se está a ser filtrada pela CIA, pelo MOSSAD, pelo MI5 e MI6, assim como pelos Serviços Franceses, todos esses aliados das monarquias árabes, está a propiciar a disputa das células “executivas” por parte de correntes ligadas ao Irão e Síria, com expressão também no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão e na própria Líbia.
A Al Qaeda post Abu Musab al-Zarqawi e Bin Laden desagrega-se em várias direcções e mediante dois pólos (que indiciam estar cada vez mais antagónicos) de atracção!
A “Obama Doctrine” permite associar as novas tecnologias aplicadas a novos armamentos, equipamentos e técnicas, a novas técnicas “Humint”, que implicam sincronizações operativas entre a aplicação de forças especiais e grupos radicais, incluindo os provenientes da Al Qaeda (CIA shifts focus to killing targets – http://www.washingtonpost.com/world/national-security/cia-shifts-focus-to-killing-targets/2011/08/30/gIQA7MZGvJ_story.html?tid=wp_ipad).
Na Líbia o registo dos acontecimentos dá-nos pistas sobre a guerra intestina que já está a minar o CNT, Conselho Nacional de Transição e que poderá fazer eclodir episódios sangrentos durante os próximos meses:
1 – O assassinato depois de detenção do Chefe de Estado Maior das forças do CNT em Benghazi, General Abdel Fatah Younis, propiciou aos chefes do LIFG, com forças recrutadas no oeste da Líbia e treinadas pelos serviços especiais britânicos e franceses, a tomada de Tripoli, o que significa dizer que são eles, neste momento, o braço armado com aparentemente mais poder dentro do CNT, numa altura em que Kadafi passou à guerrilha.
2 – Ao mesmo tempo, o facto de Salif al Islam, o filho de Kadafi estrategicamente melhor colocado, ter sido aparentemente detido pelos rebeldes, para horas depois aparecer livre defronte de jornalistas estrangeiros num Hotel de Tripoli, em plena saúde, sorridente e desafiador, sugere-nos uma ideia de seu raio de acção em termos de influência, de coordenação e de ligação, muito provavelmente para dentro de células muito sensíveis no interior do LIFG, fazendo aumentar as expectativas sobre a potencialidade e raio de acção da guerrilha anunciada por Kadafi.
Aqueles que são factores causais dos desequilíbrios intestinos do regime de Kadafi, cuja desagregação sangrenta está a fazer com que as situações explosivas se desencadeiem com poucas possibilidades de retorno a uma situação de paz, ainda que precária, nos próximos tempos, indiciam não ter feito uma avaliação suficiente da correlação de forças dentro do CNT, formado sem o suficiente amadurecimento ou “sublimação”.
Esse facto torna a volátil região do Sahara e Sahel, com a margem sul na Nigéria, mais vulnerável ainda.
Isto quer dizer também que há cada vez mais indícios de que o AFRICOM/OTAN, os serviços de inteligência e os serviços especiais anglo-saxónicos e de seus aliados-fantoches, terão muito que desbravar em termos de agenciamento e influência por dentro do CNT e da decapitada Al Qaeda, apesar das vantagens que aparentemente possuem.
II
A Argélia, que tem historicamente feito frente às actividades de grupos de AQIM (Al Qaeda in the Islamic Mahgreb), sofreu no final de Agosto último um atentado dirigido contra a Academia Militar de Cherchell, que provocou 22 mortos e mais de 20 feridos (Al-Qaeda branch claims responsibility for Algeria bombing - http://mg.co.za/article/2011-08-28-alqaeda-branch-claims-responsibility-for-algeria-bombing/).
Entre os mortos há 2 oficiais superiores sírios e 1 oficial superior da Tunísia.
Esse acontecimento foi simultâneo ao facto das autoridades argelinas terem aceite a entrada de 31 membros do clã de Kadafi que não constam nas listas de pessoas a deter para se fazerem presentes ao TPI, alegando “razões humanitárias”, na sua fronteira sudoeste, que entretanto foi reforçada com efectivos militares e policiais e encerrada no sector que confina com a Líbia.
Enquanto se deu a entrada desses membros do clã, o El Watan noticiou que o Presidente Bouteflika havia recusado a entrada na Argélia do próprio Kadafi (Alger refuse l’entrée à El Gueddafi – http://www.elwatan.com/international/alger-refuse-l-entree-a-el-gueddafi-01-09-2011-138204_112.php).
A acção da AQIM indicia identificar-se com a evolução na Líbia, nomeadamente com o facto da Libya Islamic Fighting Group estar a ter uma posição militar (e política) tão relevante no Conselho Nacional de Transição, de acordo com a estratégia AFRICOM/OTAN, mas susceptível de outro tipo de acções e provocações, incluindo as mais sangrentas.
A acção da AQIM tende a obrigar a Argélia, que em relação à Líbia procura manter uma posição neutra, a não aderir à posição dos países africanos que, no quadro da União Africana pretendem uma via pacífica para a solução do explosivo contencioso líbio.
III
Quase que em simultâneo, na Nigéria um grupo que se identifica como da Al Qaeda rebentou um engenho junto do edifício da ONU em Abuja, provocando 18 mortos (Explosion hits UN building in Nigéria – http://mg.co.za/article/2011-08-26-explosion-hits-un-building-in-nigeria).
Na sequência os Serviços de Segurança do Estado (SSS), que investigam o atentado terrorista, detiveram 2 chefes do grupo Boko Haram, aparentemente ligado a células da Al Qaeda na Somália (SSS arrests two, declares blast mastermind wanted – http://www.ngrguardiannews.com/index.php?option=com_content&view=article&id=59722:sss-arrests-two-declares-blast-mastermind-wanted&catid=1:national&Itemid=559).
O Governo da Nigéria apressou-se a reconhecer o Conselho Nacional de Transição que congrega os “rebeldes” líbios tutelados pelo AFRICOM/OTAN, possivelmente na expectativa de assim agradar a quem é mais decisivo na estratégia militar de agressão na Líbia, vendo-se agora confrontada com o facto de seus próprios cidadãos, migrantes na Líbia, estarem a ser mortos por esses mesmos “rebeldes” reconhecidos pela Nigéria (Libyan rebels killing Nigerians, other black Africans – http://www.punchng.com/Articl.aspx?theartic=Art20110901132193).
É evidente que a posição do governo da Nigéria fica em cheque, perante seus próprios interesses (e particularmente de seus cidadãos migrantes) e perante os países africanos que, tendo-se manifestado favoráveis à paz, ao diálogo e a conversações entre as partes líbias intervenientes de forma a evitar-se uma guerra como a que continua em curso, também não foram tidos em conta.
No que diz respeito à União Africana, aqueles que em África estão a reconhecer o Conselho Nacional de Transição instrumentalizado pelo AFRICOM/OTAN (e um deles é Cabo Verde), revelam a vulnerabilidade das elites africanas e o seu enfeudamento, ou agenciamento pela campo da hegemonia, ainda que os “rebeldes” que eles reconheceram, serem aqueles mesmo que estão a matar sumariamente muitos migrantes africanos na Líbia.
Tão ciosos que estão os ocidentais em relação aos “direitos humanos”, de acordo com suas opções militares, que esquecem que ao desencadear mais uma guerra, eles próprios ficam automaticamente sujos por crimes que só a eles podem ser imputados por não darem sequer atenção aos africanos mais avisados e traumatizados pela continuidade dos conflitos que devassam a vida no continente.
Os migrantes africanos barbaramente chacinados pelos “rebeldes” caucionados pela AFRICOM/OTAN, colocados de fora da cobertura daqueles que no ocidente dizem defender os “direitos humanos”, são a prova de sangue de que África precisa para condenar energicamente a agressão, a política ocidental hipócrita, ambivalente e sanguinária e motivo para que, duma vez por todas, a União Africana seja tida em conta em todos os assuntos que se referem ao continente.
Haja coragem e lucidez: o AFRICOM/OTAN, os mentores e instrumentos da “Obama doctrine” fora de África e a sentarem-se no banco dos réus do TPI, em nome das vítimas inocentes da barbárie dos “rebeldes” da CIA!
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