domingo, 4 de setembro de 2011

"SOMOS UM POVO DE RANCORES" - Fradique Menezes em São Tomé e Príncipe





Constatação de Fradique de Menezes, quando analisava a futura coabitação política, entre o Presidente da República Eleito Manuel Pinto da Costa e o Primeiro-ministro Patrice Trovoada. Segundo o Presidente da República Cessante, rancor pode fragilizar o relacionamento institucional.

A luz da agressividade verbal que marcou as eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe, principalmente do Primeiro Ministro Patrice Trovoada contra o então candidato Manuel Pinto da Costa, o Presidente da República Cessante, considera que as zangas da campanha eleitoral, não devem comprometer o relacionamento entre titulares de dos órgãos do Estado eleitos pelo povo. Porque doravante o que está em causa é o interesse nacional.

No entanto, em São Tomé e Príncipe há especificidades. O rancor faz parte do modo de viver e ser de muita gente. Um problema que tem que ser ultrapassado, para o bem do país. «Há pessoas que ficam com rancores. Esse é o nosso problema em São Tomé e Príncipe. Somos um povo de rancores, pelo menos alguns de nós. Ficamos com rancores, que não se manifestam a primeira. Vai-se manifestando com o tempo e com as nossas atitudes», referiu Fradique de Menezes.

Para impedir que rancor, possa complicar a vivência política no futuro, Fradique de Menezes, manifesta-se disposto a colaborar. «O nosso papel é de por água na fervura. Eu sou o primeiro a dar a minha colaboração, se a quiserem receber. Teremos que salvaguardar a paz. Porque a repercussão da situação económica e financeira no mundo, sobretudo os nossos parceiros tradicionais, faz com que nós acalmemos os ânimos para merecermos da parte dos doadores algumas acções a nosso favor», acrescentou.

Fradique de Menezes aproveitou para criticar algumas situações que alimentaram a agressividade verbal durante o período de campanha eleitoral, com destaque para a diabolização pela candidatura da ADI, do actual Presidente Eleito. «Cada um de nós temos parte de responsabilidade. Quando fui embaixador, eu era senhor da embaixada e fazia aquilo que eu bem desejava da embaixada. Quando fui Ministro dos Negócios Estrangeiros, era mesma coisa. Tomava decisões sobre quem deveria trabalhar comigo ou não. Ninguém podia amanhã dizer que foi Pinto da Costa quem mandou-me fazer isto ou aquilo», declarou Fradique de Menezes, tendo acrescentado que sempre assumiu parte da sua responsabilidade na gestão do país nos primeiros quinze anos.

Pena é que a mesma atitude não foi assumida por outros responsáveis da altura. «E os outros que dirigiram o país, nos 15 anos, deveriam ter a coragem desde 1990 de dizerem publicamente qual é parte de responsabilidade de cada um na desgraça que este país conheceu. Hoje você não vê um indivíduo que diz que ele foi Presidente do Tribunal dos Actos Contra Revolucionários. Alguém já disse isso publicamente? Que ele condenou fulano e tal a prisão. Mas vão dizer que foi Pinto da Costa quem mandou. Isso não é verdade histórica», concluiu.

Abel Veiga

1 comentário:

aamorim disse...

Embora me encontre longe e um pouco desactualizado da realidade Santomense, não posso deixar de concordar com as palavras do ex- Presidente da República Sr. Fradique de Menezes sobre as questões de "rancor politíco" que se vive entre o Governo e o Presidente da Répública, Pinto da Costa e que poderão vir a ser nefastos fracturantes para a democracia que se precisa sólida, se S. Tomé. quer realmente.
Não é altura para que o actual Primeiro Ministro venha querer cobrar do passado, desentendimentos politicos entre o seu pai Miguel Trovoada e Manuel Pinto da Costa. Seria melhor para ele, dar o exemplo que em democracia não podem haver desenvolvimento se se estiver a olhar o passado, em vez de olhar ao futuro. Com rancores políticos pessoais, estão a esquecer-se os valores mais importantes para que foi eleito, defender os interesses do País na senda do desenvolvimento. Não é um dever, é uma obrigação deste ou doutros primeiros Ministros, saberem governar em estreita coordenação com qualquer que seja o Presidente da Reoública eleito pelo povo.

ps: Durante os cerca de 20 anos que estive em S. Tomé aprendi que ser-se "mais velho" é sinal de sabedoria, e de respeito.
Cumprimentos
Antonio Amorim

Mais lidas da semana