quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ABAIXO DA ESCRAVATURA NADA MAIS HÁ!




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Ao que parece há para aí uma onda nas ocidentais praias lusitanas contra o facto de alguns elementos da casta superior de portugueses, os políticos, beneficiarem de pensões vitalícias.

Nada mais errado. Como bem sabem os 800 mil desempregados, os 20% que ainda vivem (isto é como quem diz) na miséria e os outros 20% que a têm à porta, em todas as sociedades (é o caso de Portugal) em que existem seres superiores e inferiores, em que os esclavagista estão no poder, os escravos têm de pagar essas pensões vitalícias e outros emolumento.

Aliás, por muito que seja o dinheiro envolvido na chulice, importa reconhecer que os políticos portugueses, os de ontem e os de hoje (possivelmente também os de amanhã), são mesmo seres superiores que, como exímios azeiteiros, exploram os escravos até ao tutano. E exploram porque tal lhes é permitido. E sé é isso que a plebe quer, não há nada a fazer.

Aliás, basta ver a galeria de notáveis e superiores cidadãos lusos para ter a certeza de que todos eles, de Dias Loureiro a Oliveira e Costa ou Ângelo Correia, de Jorge Coelho a Armando Vara merecem tudo o que recebem e ainda muito mais.

Se em Portugal a casta superior é constituída por todos aqueles que trabalham não para os milhões que têm pouco ou nada (os escravos), mas sim para os poucos que têm cada vez mais milhões, ninguém pode dizer que eles não são competentes e merecedores que os plebeus continuam a pagar para manter a sua mama.

Quando ouço, por exemplo, Francisco Louçã dizer que "todos são iguais e quem tem responsabilidades tem de cumprir a lei que propõe para todos os portugueses", farto-me de rir (a barriga vazia não anula o meu sentido de humor).

Todos são iguais? Onde?

São todos iguais a ponto de como bom “africanista de Massamá”, Passos Coelho reeditar a política colonial imortalizada no poema Monangambé de António Jacinto: fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilares.

E, tal como no tempo de Salazar, avisa que o Governo não permitirá o direito à indignação aos “que pensam que podem incendiar as ruas" e trazer "o tumulto". Tirem os escravos daí a ideia.

Por deficiência congénita e ancestral, os portugueses são de uma forma geral um povo de brandos costumes que, quase sempre, defendem a tese de que “quanto mais me bates mais gosto de ti”. Mesmo agora que está esquelético, continuam a achar que o seu fado é serem cidadãos de segunda que tudo devem fazer para agradar aos seus donos.

Mas, quem sabe?, talvez um dia acordem com a barriga de tal modo vazia a ponto de mostrem que estão fartos de quem em vez de os servir… só se serve deles. Não sei se isso acontecerá. Mas que, pelo menos em tese, os portugueses também têm direito à Primavera, isso têm.

É certo que em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre os mesmo) só se revolve a tiro. Até os militares sonham, embora em silêncio e com as paredes do cérebro insonorizadas, que essa é uma alternativa. Por mim parece-me uma boa opção, sobretudo porque apesar da fraqueza física haverá sempre força para puxar o gatilho.

Mesmo que assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia (como é o caso, entre outros, entre muitos outros) de Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas, vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia e chorudas pensões vitalícias.

De uma coisa os portugueses não podem, contudo, esquecer-se. Parafraseando Platão: "O castigo por não pores borda fora a actual classe política é acabares por ser governado por quem te é inferior."

Para já e por enquanto, na primeira linha dos que podem e devem sair à rua para dizer “basta” estão os 800 mil desempregados, os 20% que vivem na miséria e outros tantos que começam a ter saudades de uma... refeição. Número que, convenhamos, já tem algum significado. De facto, é muita gente a pensar com a barriga… vazia.

Seja como for, começa mesmo a ser altura de os portugueses porem os seus políticos a pão e água ou, talvez, a farelo.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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