ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
O jornalista e inimigo público do regime angolano, William Tonet, foi condenado a um ano de prisão com pena suspensa e ao pagamento de uma multa em Kwanzas, avaliada em 100 mil dólares norte-americanos.
A democracia “made in MPLA” é mesmo assim. Todos são livres para estarem de acordo com o regime. Quem não estiver, mesmo que seja só em pensamento, leva pela medida grossa.
Segundo o Juiz do Tribunal Provincial de Luanda em caso de não pagamento da multa prazo máximo de cinco dias, Willian Tonet, julgado por difamação, poderá ser conduzido à cadeia.
“Por homicídio a condenação são duzentos mil kwanzas, às vezes o juiz tenta forçar e chega aos seiscentos mil kwanzas, agora por uma difamação estamos a falar em dez milhões de kwanzas. Isso é acima de tudo incompreensível, é acima de tudo daqueles casos que nós temos visto, em que se quer a todo custo prender as pessoas” – reagiu o advogado David Mendes, que prometeu recorrer da decisão.
David Mendes esquece-se, contudo, de que pessoas só são aqueles que dizem ámen ao regime. O que, manifestamente, não é o caso do William Tonet.
William Tonet considera tratar-se de uma armadilha para o silenciar e diz que “o que será mais honesto de nossa parte, é virmos com a nossa bagagem para sermos recolhidos à cadeia”.
Os três processos movidos contra o jornalista datam de 2007 Janeiro, Novembro e Dezembro, e tipificam todos os crimes que mais interessam ao regime: injúria, calúnia e difamação.
Os processos têm como autores impolutos (segundo as regras e os valores do regime) cidadãos como António Pereira Furtado, então chefe do Estado-maior das FAA, o General Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, actual ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência da República e o General Pitagrós, Procurador Militar.
Certamente para cumprir o seu maquiavélico desiderato, William Tonet continua a “contar com uma equipa de jornalistas nacionais e estrangeiros que no presente momento têm redigido os principais artigos detractores à política governamental do País”.
No início de 2008 esta era pelo menos a opinião do “Independente”, um jornal estrategicamente renascido das cinzas, ligado a Fernando Manuel, outrora membro da DISA (a polícia do Estado), depois SINFO e ex-vice-ministro da Segurança do Estado, e que apareceu como um instrumento de desacreditação da imprensa privada que se atreva a não tocar pelo diapasão do regime.
Em Angola, a filosofia oficial é valorizar os que dizem que fazem e não os que fazem, os que colocam a subserviência no lugar da competência, os que trocam um prato de pirão em pé por uma lagosta de cócoras. Mas, apesar de saber, continuo a pensar que não é este tipo de sociedade que eu quero, que o Tonet quer, que os Homens livres querem.
A impunidade do regime continua e quanto mais cedo se calarem as vozes que se batem pela denúncia das arbitrariedades e da corrupção endémica do sistema, melhor.
Este sistema mata mesmo, apesar da imagem de anjo do Presidente Eduardo dos Santos, o número de assassinatos não têm parado de crescer e Tonet é visto como uma pedra no sapato do regime, e que por isso não pode continuar ou em liberdade ou com vida.
Ao contrário do que os mais ingénuos esperavam, o MPLA e o seu regime tentam eliminar todos quanto pugnem por uma imprensa livre, liberdade de expressão e a implantação de uma verdadeira democracia. Não são os únicos, é certo. Nas ocidentais praias lusitanas passa-se algo que bebe na mesma fonte.
Com os milhões do petróleo, Eduardo dos Santos ao invés de trabalhar para uma verdadeira reconciliação nacional, pretende consolidar o seu regime com a eliminação física dos seus adversários políticos, como aconteceu com o jornalista Ricardo de Melo, Nfulumpinga Landu Victor, líder do PDP-ANA, ou Jonas Savimbi.
O Tonet há muito que mostrou ter qualidades guerreiras. Se assim não fosse não teria sobrevivido à “selva” onde exerce a sua profissão. Triunfos? Sim, teve muitos, destacando-se desde logo o facto manter um jornal independente e uma coluna vertebral erecta.
O Tonet também é daqueles que nunca serão derrotados porque nunca deixarão de lutar. E isso é uma espinha atravessada na garganta dos seus inimigos. E que espinha!
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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