quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ABAIXO A DEMOCRACIA




Daniel Oliveira - Expresso

Cedendo à pressão de um povo que assiste, atónito, à destruição do seu País e a sucessivos planos de austeridade que o afundam cada vez mais, Papandreou, tentando salvar-se e encostar a oposição às cordas, marcou um referendo a mais um plano de "resgate". As reacções não se fizeram esperar. Os dois imperadores europeus entraram em estado de choque. Opinadores da situação mostraram a sua indignação.

Quem é que esta gente se julga para querer repor a democracia no lugar da chantagem? Quem pensa este povo que é para julgar que decide do seu futuro? Não saberão estes irresponsáveis que quem decide são os mercados? E depois deles a barata tonta alemã? E depois dela, se ainda houver alguma coisa para decidir, o senhor Sarko? Julgarão que não havendo democracia europeia podem, no lugar dela, existir democracias nacionais.

O general Loureiro dos Santos falou-nos, ontem, dos receios de um golpe de Estado na Grécia. Parece-me que o receio vem tarde. O golpe de Estado já aconteceu. Em vários países europeus, começando pela Grécia. Com violações sistemáticas às constituições nacionais - em Portugal elas acontecem com a cumplicidade do Tribunal Constitucional -, o assalto estrangeiro aos recursos das Nações e a perda ilegal de soberania - veja-se o poder que o directório europeu se tem dado a si próprio no processo de saque às empresas gregas a privatizar. O que está a acontecer ali, agora, é a tentativa de repor a legalidade democrática.

Perante as reações indignadas de tanta gente à decisão de devolver ao povo grego o veredicto sobre o seu futuro fica evidente uma coisa: anda por aí muito"democrata" que odeia a democracia. Porque ela pode travar a imposição de um programa ideológico que nunca seria sufragado pelo povo sem estar debaixo de chantagem. A Grécia deu o primeiro passo para travar esta ditadura perfeita. Se for até ao fim, pode salvar a Europa do caos político para onde se dirige. Pagará um preço alto? Mas ainda tem alguma coisa a perder?

Se os gregos aprovarem mais este plano de destruição do seu futuro - coisa nada improvável, perante o cenário que a Europa e os "mercados" lhes vão impor pelo seu atrevimento - pelo menos terão tentado dar um sinal de dignidade em tempos que ela parece ser um bem escasso.

1 comentário:

Anónimo disse...

ESTUDAR OS CASOS DA ISLÂNDIA, DO EQUADOR E OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS COM O GRUPO DE ERIC TOUSSAINT.

1 - Prévia chamada de atenção: Quando há assuntos tão sérios a discutir e a comentar, há alguns que preferem as manobras de diversão e "um certo carnaval"!

2 - Para o pensamento e a acção alternativa, premente se torna estudar o caso da Islândia.

3 - Se bem que as ementas e os cenários sejam distintos, a Islândia foi encontrando soluções alternativas, fundamentadas nas respostas do seu próprio povo perante a ditadura financeira.

4 - Na Grécia, com ou sem referendo, é o seu próprio povo que tem agora a "chave na mão" e decidirá pelas opções.

5 - É evidente também que as experiências latino americanas, como as do Equador, devem merecer toda a atenção.

6 - Na Bélgica, o grupo de Eric Toussaint está bastante avançado em relação às questões das dívidas, perseguindo as opções favoráveis aos povos: esse é outro recurso de conhecimentos a não menosprezar (http://www.cadtm.org/).

Martinho Júnior.

Luanda.

Mais lidas da semana